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Que santo consolidou a contagem dos anos em “antes e depois de Cristo”?

Antes de Cristo depois de Cristo

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Reportagem local - publicado em 26/06/19

Obviamente, não se começou a contar o ano 1 no próprio ano 1, pois a quase totalidade da humanidade nem ficou sabendo em tempo real que Cristo havia nascido

A forma de contar os anos ao longo da história sofreu muitas variações. Os antigos romanos usavam como referência o ano da fundação de Roma, por exemplo. Mesmo hoje em dia, nem todo o mundo vive em 2020: segundo o calendário islâmico, estamos em 1441; conforme a contagem tradicional chinesa, em 4718; para o judaísmo, em 5780.

No entanto, mesmo na China, em Israel e nos países muçulmanos, esses calendários tradicionais coexistem com a contagem ocidental adotada internacionalmente como referência prática para o dia-a-dia. E, conforme sabemos, o calendário ocidental, cuja abrangência é de fato mundial, se baseia no ano a que tradicionalmente se atribuiu o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. É, portanto, um calendário explicitamente cristão (por mais que os laicistas de hoje em dia se esforcem para dizer que estamos no ano 2020 “da era comum” em vez de dizerem que é 2020 depois de Cristo).

Mas os próprios povos do Ocidente, obviamente, não começaram a contar o ano 1 no mesmo ano 1, pois a quase totalidade da humanidade nem ficou sabendo em tempo real que Cristo havia nascido.

Quando foi então que se adotou de fato o nascimento de Jesus como referência para a contagem dos anos? E quem foi que teve essa iniciativa?

Na Idade Média, um importante monge inglês que viria a ser conhecido como São Beda, o Venerável, escreveu uma obra de referência intitulada “Historia Ecclesiastica” (“História da Igreja”). Na época, existiam várias maneiras de referenciar as datas. Entre as mais frequentes, uma consistia em usar indicções, ou seja, ciclos de 15 anos contados a partir de 312 d.C., o ano em que Constantino tinha se tornado imperador de Roma; a outra era com base nos anos de reinado do governante do reino em questão, o que, evidentemente, era bastante problemático, pois, além de a referência ser muito local, não havia padrão de continuidade: seria sempre necessário saber de cor a sequência dos reis da região para evocar eventos passados, o que tornava pouco praticável situar no tempo os eventos já muito longínquos (fora o fato de que não era nada fácil compreender a cronologia usada em outros reinos, já que cada um adotaria referências diferentes).

Em seu relato histórico sobre a Igreja, São Beda teve de empregar as duas maneiras que eram usuais em seu tempo, mas ele também adotou uma terceira: a referência ao Anno Domini (A.D.), ou seja, o Ano do Senhor, criada pelo também monge Dionísio Exíguo, que viveu no século VI. Trata-se, é claro, da referência ao ano do nascimento de Jesus. Mesmo não tendo sido o “inventor” deste método, São Beda acabou “levando a fama” involuntariamente porque foi o seu principal divulgador, ao adotá-lo e recomendá-lo na sua obra “De Temporum Ratione“, que tratava, precisamente, de cronologia.

Convenhamos que, só por ter padronizado e simplificado tanto a referência cronológica a ponto de ainda a usarmos mais de mil anos depois, São Beda já mereceria o título de “venerável”!

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Bibliografia:

Colgrave, Bertram; Mynors, R. A. B. (1969). Bede’s Ecclesiastical History of the English People. Oxford: Clarendon Press.

Stenton, F. M. (1971). Anglo-Saxon England (Third ed.). Oxford: Oxford University Press.

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