Não se trata apenas de não ser fútil nem provocativo: trata-se também de honrar a Deus pela beleza e elegânciaO site norte-americano National Catholic Register acolheu o início do verão no hemisfério Norte, neste último 21 de junho, com um artigo de Susanna Spencer, mestra em Teologia pela Universidade Franciscana de Steubenville, sobre uma virtude geralmente menos associada à estação dos dias longos, do calor e, naturalmente, do uso de pouca roupa em comparação com o inverno: a modéstia no vestir.
Ela conta: “Só quando soube que a modéstia era uma virtude é que encontrei uma resposta razoável e satisfatória para o que realmente significa vestir-se com modéstia. Para entender a modéstia no vestir como virtude, diferente de outras formas de modéstia, eu me dirigi a três Doutores da Igreja: São Tomás de Aquino, São Francisco de Sales e Santo Afonso Maria de Ligório”.
São Tomás de Aquino entendia a modéstia como parte da virtude da temperança, que nos ajuda a moderar os nossos desejos. Para ele, ser modesto no vestir é ser honesto em nossa vestimenta exterior, o que se aplica a homens e mulheres, meninos e meninas. O que vestimos transmite aos demais informações sobre quem somos. A matéria recorda que São Tomás cita outro santo, Ambrósio, que dizia que “o corpo deve ser adornado de forma natural e sem afetação, com simplicidade”, sem o desnecessário.
São Francisco de Sales dá um conselho similar quando fala da propriedade no vestir, enfatizando que ser limpos e ordenados é uma questão de respeito por nós mesmos e pelos outros e que, portanto, é desrespeitoso para com o próximo vestir-se inadequadamente, mas, ao mesmo tempo, devem-se evitar as vaidades e os excessos. “A modéstia e a simplicidade, sem dúvida, são os melhores ornamentos da beleza e a melhor reparação da sua deficiência”.
Susanna Spencer observa que “o ponto interessante é que modéstia no vestir vale tanto para homens quanto para mulheres e deve enfatizar a beleza que Deus nos deu. Se a modéstia é uma forma de temperança, então quem é imodesto no vestir é porque se veste sem moderação”.
O artigo recorda que essa modéstia virtuosa descarta o “apego desmesurado ao que usamos” e dá às roupas apenas a importância que elas têm, convidando-nos a não gastar na roupa mais dinheiro que o necessário, a não enfatizar um conforto excessivo e fútil e a não dedicar tempo demais a preocupar-se com a própria imagem e com o quanto ela está na moda. Por outro lado, a mesma temperança pede que não se despreze a roupa a ponto de se cair no desleixo e na preguiça quanto à própria imagem – afinal, é questão de respeito ao próximo apresentar-se diante dele com aspecto adequado, agradável, limpo, ordenado, atencioso.
Fundamental é também cuidar da reta intenção no vestir, evitando provocar os outros e induzi-los ao pecado da luxúria. São Francisco de Sales acrescenta, neste sentido, que é perfeitamente lícito aos esposos vestir-se de modo a agradar um ao outro, pois faz parte do amor esponsal despertar a mútua afeição. Já os solteiros, tanto mulheres quanto homens, se querem ser modestos não devem despertar lascívia nem incentivo a pecar, seja intencionalmente, seja pela frivolidade da ostentação.
No tocante à retidão de intenção, Santo Alfonso Maria Ligório esclarece que os costumes locais têm peso no que pode ser considerado modesto ou imodesto. Ele explica que, se uma mulher se veste conforme os costumes locais e não tem a intenção de levar ninguém à luxúria pela forma como se veste, então ela não está pecando. A autora observa que o bom senso em cada contexto pode ajudar a tomar uma decisão moral quanto ao que vestir.
Mas a modéstia não é meramente evitar o pecado e a indução dos outros ao pecado: a virtude da modéstia no vestir é uma contribuição para uma sociedade mais bela e decorosa, bem como um reflexo da Beleza de Deus, que merece ser honrada. Neste sentido, Susanna Spencer observa que, durante a Santa Missa, por exemplo, é um gesto de mais reverência a Deus vestir-se com especial elegância do que conformar-se em ir vestido de qualquer jeito, como quem está no seu quarto ou um estádio de futebol. Não se trata nem de luxo nem de futilidade: trata-se de intenção e contexto, que também fazem parte da virtude da modéstia no vestir.
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