Jesus está indo para Jerusalém e nada vai detê-lo. Tal passagem do Evangelho convida-nos a perguntar: o que deixamos que nos paralise?
Jesus nos mostra como é um homem livre.
Jesus está resolutamente determinado a ir para Jerusalém, diz o Evangelho de Lucas.
Uma aldeia samaritana não o deixa descansar no caminho. Mas isso não o altera. Seus discípulos querem se vingar da aldeia, mas Jesus não tem tempo para vingança: ele só tem tempo para sua missão. À medida que ele segue, ele encontra mais discípulos em potencial. Ele também não deixa que eles o detenham.
Eles não têm a determinação de Jesus. Eles não são livres para seguir a vontade de Deus tão resolutamente quanto ele é.
Eles dão o que parecem ser boas razões, mas na verdade são desculpas: eles precisam se despedir de membros da família, vivos ou mortos. Jesus adverte sua falta de compromisso com a missão, dizendo: ninguém que põe a mão no arado e olha para trás está apto para o Reino de Deus.
Eu temo dizer isso, mas nós somos muito parecidos com aqueles discípulos que não são livres.
Sabemos onde Jesus quer ir conosco: Ele quer que sejamos cristãos amorosos, generosos e destemidos.
Ele quer que passemos tempo com ele em oração para conhecê-lo melhor. Nós garantimos a ele que vamos – “mas primeiro eu tenho de checar o celular”, ou “o jantar demorou muito e agora começou meu programa na TV”.
Ele quer que o ajudemos a alcançar mais pessoas. E nós concordamos. Com certeza, seremos voluntários na paróquia, assim que as crianças crescerem ou diminuir o volume de trabalho.
De vez em quando, encontramos pessoas cujas vidas colocam o amor em primeiro lugar.
Elas ilustram a bela frase de São Paulo (Carta aos Gálatas 5,1.13-18): “foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou”. Elas são cristãs até o fim, e ajudam alegremente onde quer que seja necessário.
São aqueles que são livres para “colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Aprendamos com Eliseu. Ele também deu desculpas, mas as confrontou e superou.
Na leitura (1.º Livro dos Reis 19,16-21), o novo profeta Eliseu foi chamado pelo grande Elias e concordou em segui-lo. Mas primeiro, ele disse, queria dar adeus a seus pais, o que parecia irritar Elias. Mas a resposta de Eliseu foi fundamental: ele aplicou amor e auto-sacrifício ao que o estava impedindo. Ele destruiu seu arado e jugo de bois, deu o dinheiro para sua família e partiu.
Que jugo podemos destruir para nos libertar para seguir a Deus?
São Paulo cita dois tipos de jugo: primeiro, “os desejos da carne” – o que incluiria nossos hábitos de conforto ou prazer. Segundo: ficar atacando uns aos outros – “se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros”.
“Portanto, permanecei firmes e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão”, diz Paulo.
A abordagem de Jesus é como a de Eliseu: Ele elimina todos os confortos falsos da vida que o prendem, dizendo: “as raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde descansar a cabeça”.
Nós também temos que viver sem nada impeça nossa vocação.
Precisamos nos acostumar a destruir os jugos, porque um dia nossa vocação pode significar nossa própria viagem a Jerusalém.
Cada uma dessas histórias é sobre uma vocação cristã.
Para muitos cristãos no mundo, essa vocação significa testemunhar a crença em Jesus Cristo para as pessoas que querem prejudicá-los ou matá-los. Ser cristão hoje – por completo e gratuitamente – pode significar perder amizades ou até mesmo vantagens. E pode piorar.
Nossa vocação última é muito mais do que “gastar mais tempo em oração” e “fazer obras de serviço”. É acompanhar Jesus Cristo a Jerusalém e sofrer e morrer com ele.
Mas se nunca nos tornarmos resolutos como Jesus em nossa vocação diária, nunca poderemos segui-lo até o fim.