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Espiritualidade
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“A glória de Deus é o homem vivo” e “a vida do homem é a visão de Deus”

PRAYING

Garrett-(CC BY 2.0)

Dom Henrique - publicado em 09/07/19

Dom Henrique faz uma belíssima reflexão sobre a verdadeira vida a que somos convidados

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Dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares, PE, publicou em seu blog a seguinte reflexão sobre o quanto é sublime o homem amado por Deus e o quanto esse mesmo homem é capaz de aviltar-se quando se afasta d’Aquele que é seu Criador e sua Plenitude.

“Gloria Dei vivens homo!”

No longínquo século II, um dos mais ilustres dentre os bispos e teólogos da Igreja, Santo Irineu de Lião, afirmava: “Nunca poderíamos obter a incorrupção e a imortalidade a não ser unindo-nos à incorrupção e à imortalidade. Mas como poderíamos realizar esta união sem que antes a incorrupção e a imortalidade se tornassem aquilo que somos, a fim de que o corruptível fosse absorvido pela incorrupção e o mortal pela imortalidade e, deste modo, pudéssemos receber a adoção de filhos?” (Contra as Heresias, III,19,1).Aqui, o santo Bispo quer dizer, entre outras coisas, que o homem sozinho não se salva, não chega a ser aquilo que sonha ser, não chega à plenitude, não se realiza. Aquilo que hoje chamamos de realização da existência, de vida plena, de sentido da vida e de salvação, Irineu chama de “incorrupção e imortalidade”: vida plena neste mundo e na glória eterna! Pois bem, o homem sozinho, não chega a isso. Foi preciso que Deus lhe estendesse a mão, que o Filho de Deus Se tornasse filho do homem, que o Verbo Se fizesse carne, um de nós, um como nós, um vivendo a nossa aventura humana: “Tendo falhado o homem, Deus foi magnânimo, pois previa a vitória que pelo Verbo lhe seria restituída. Porque a força se perfaz na fraqueza, revelou-se então a benignidade de Deus e Seu esplêndido poder” (Ibidem, III,20,1). Não deixa de ser surpreendente que, passados dois mil anos de cristianismo, a nossa cultura ocidental, engendrada pela fé cristã e por ela marcada, revele-se tão bêbada de prepotência e tão cega, na ilusão de construir uma civilização sem Deus, como se o homem se bastasse, fosse seu próprio fim, seu critério último ou, no dizer dos sofistas gregos, “a medida de todas as coisas“. Não! O homem não é a medida de todas as coisas, o critério último do bem e do mal, do certo e do errado! Ao menos esse homem, fechado em si, incapaz de reconhecer que ele vem de um Outro, a esse Outro está sempre referido e deste Outro dependerá sempre! Por que esta reflexão, no presente texto? Por toda essa dissolução do verdadeiro sentido da vida humana na nossa enferma e decadente cultura ocidental. Recordo aqui umas admiráveis palavras de São João Paulo II, que advertia, de modo belíssimo: “Reconhecer a vida! Reconhecer significa, antes de tudo redescobrir com renovada admiração aquilo que a própria razão e a ciência não temem chamar de ‘mistério’. A vida, especialmente a vida humana, suscita a pergunta fundamental, que o Salmista exprime de modo insuperável: ‘Que é o homem para que te recordes dele, o filho do homem, para que dele cuides?’ (Sl 8,5). Ninguém é dono da vida, ninguém tem o direito de manipular, oprimir ou até mesmo tirar a vida, sua ou dos outros“. Nosso tempo tem a seríssima tendência de desrespeitar a vida, no seu início (manipulações imorais, aborto, pílulas do dia seguinte), no seu desenvolver-se (pela fome, pela prostituição e libertinagem sexual, pelos entorpecentes, pelo fumo e o álcool, pela violência) e no seu fim (desprezo pelos anciãos, eutanásia). Tudo isso revela, por um lado, um vazio de Deus, de sentido do Absoluto que dá a razão última e o valor supremo de nossa existência e, por outro lado, revela também uma autossuficiência humana, que pensa bastar-se a si mesma! As palavras do santo Papa, neste sentido, eram proféticas: “Ninguém é dono da vida!” Esta é o dom primordial, o maior de todos: dom, presente imerecido e inesperado, surpresa absoluta vinda de Deus, aquilo que na linguagem teológica chamamos de “graça”! Isso mesmo: a vida é graça, como graça deve ser acolhida e como graça deve ser vivida! Dramático na nossa cultura ocidental é que o homem nega Deus para afirmar-se, como um adolescente que somente se sente autônomo negando a autoridade dos pais. O triste é que negando Deus, negando Sua autoridade sobre nós, não nos tornamos mais livres nem dignificamos mais a existência humana, mas, ao contrário, sem Deus valemos menos, sem Deus a vida humana, em última análise, está entregue ao próprio capricho humano. Basta que olhemos ao nosso redor: quão pouco vale o homem. Para o sistema globalizado ele somente vale pelo que tem, pelo que produz e pelo que consome! Ao invés, quando Deus é retamente compreendido, torna-Se a maior garantia da preciosidade da vida humana – do primeiro ao último momento de sua existência! A verdadeira e perene base de todo autêntico direito humano é Deus, de Quem o homem é imagem e a Quem o homem é referido radicalmente, como já recordava o Livro do Gênesis: “Eu pedirei contas da vida do homem. Quem derrama o sangue do homem, pelo homem terá o seu sangue derramado. Pois à imagem de Deus o homem foi feito!” (Gn 9,5b-6) Era isso também que Santo Irineu queria exprimir ao dizer: Gloria Dei vivens homo (A glória de Deus é o homem vivo). Deus é o Amigo dos homens, e somente na alegria e na plenitude humana a Sua glória manifesta-se realmente! O homem morto, humilhado, coisificado pelas várias ideologias, antigas ou novas, pisoteado na sua dignidade, não glorifica a Deus, de Quem é imagem. Mas Irineu também completava: Vita hominis visio Dei (A Vida do homem é a visão de Deus). Somente na visão (na comunhão, na intimidade) de Deus o homem encontra sua verdadeira Vida, porque descobre o âmago da sua dignidade e o fundamento do sentido de sua existência. Sem a visão de Deus em sua vida, sem ter a Deus como seu horizonte, o homem se perde, o homem “morre” e, morto, também não revela a glória de Deus. Eis a nossa civilização, que autoriza aborto, como se fôssemos senhores da vida e da morte, que manipula células-tronco de embriões humanos, que brinca de clonar e de fecundar in vitro, que destrói o reto e natural conceito de família, que deturpa e denigre o verdadeiro sentido da sexualidade e da diferença entre os sexos, desejando plagiar o próprio Deus, zombando do próprio Autor e Senhor da vida. O triste e dramático é que, fechando-se para Deus, nossa civilização torna-se, na verdade, barbárie, que destruirá as pessoas e a si própria. Os sinais já estão aí; em alguns setores, de modo muito evidente, num avançado processo de decomposição cultural e humana. Quem tem olhos para ver, veja!

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Do blog Visão Cristã, de Dom Henrique Soares da Costa


Dom Henrique Soares

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