Restos mortais e cemitério vaticano marcam novo capítulo do enigma que cerca o desaparecimento de uma adolescente de 15 anos em 1983A adolescente Emanuela Orlandi tinha 15 anos de idade quando desapareceu misteriosamente em 22 de junho de 1983, ao sair da escola de música de Santo Apolinário, em Roma. Nunca houve nenhuma resposta oficial para o seu sumiço.
Emanuela era filha de Ercole Orlandi, cidadão do Vaticano e funcionário da Prefeitura da Casa Pontifícia.
Ao longo dos 36 anos decorridos desde o desaparecimento, publicou-se vasta quantidade de teorias, acusações e especulações que envolvem desde a máfia italiana até eclesiásticos corrompidos, passando por militantes do grupo Frente de Libertação Turca, ao qual estava ligado o terrorista Mehmet Ali Agca, autor da tentativa de assassinar o Papa São João Paulo II em plena Praça de São Pedro em 13 de maio de 1981.
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Teorias conspiratórias
Uma das teorias que se tornaram famosas a respeito do sumiço de Emanuela atribuiu o seu sequestro e assassinato a uma ordem do arcebispo Paulius Casimir Marcinkus, na época presidente do Instituto para as Obras de Religião, popularmente conhecido como “o banco do Vaticano”. Segundo essa acusação, Marcinkus teria pretendido “mandar um recado” ao pai da jovem porque ele “viu documentos que não devia ter visto”. Tal acusação, que despertou indignação no Vaticano, foi feita em 2008, sem apresentação de provas, por Sabrina Minardi, ex-namorada de Enrico De Pedis, líder da organização Banda della Magliana, vinculada por investigações policiais a grupos mafiosos e a militantes neofascitas italianos.
Em 2012, a família Orlandi pediu a exumação de restos ósseos encontrados ao lado do túmulo de Enrico De Pedis na Basílica de Santo Apolinário, mas os estudos forenses concluíram que não se tratava de ossos da menina desaparecida.
Ainda em 2012, o célebre exorcista pe. Gabriele Amorth afirmou que Emanuela foi raptada por um membro da polícia do Vaticano para orgias sexuais e depois assassinada. O exorcista disse ainda que o incidente envolveu agentes de uma embaixada estrangeira não identificada.
Em 2018, ossos encontrados no porão da Nunciatura de Roma também foram analisados como sendo possivelmente de Emanuela, mas, de novo, as investigações científicas descartaram a possibilidade porque os restos eram anteriores a 1964.
Em março de 2019, a família Orlandi recebeu uma carta anônima que indicaria a localização do corpo de Emanuela em um túmulo do Cemitério Teutônico, situado dentro dos muros do Vaticano. A carta incluía a foto de um túmulo que deveria ser investigado, acompanhada pela enigmática frase “Procurem onde o anjo indica”.
Descobertas recentes no cemitério
Em 11 de julho, por decreto do Promotor de Justiça do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano, foram abertos no Cemitério Teutônico os túmulos das princesas alemãs Sophie von Hohenlohe e Carlotta Federica de Mecklenburg. Para surpresa geral, no entanto, nem sequer os restos das próprias princesas estavam dentro dos túmulos. Como o Cemitério Teutônico havia passado por relevantes obras nas décadas de 1960 e 1970, devidas à expansão do Pontifício Colégio Teutônico, trabalha-se com a hipótese de que os restos das princesas tenham sido transferidos naquela ocasião. Dentro da mesma investigação em que se abriram esses túmulos, foram encontradas ainda duas ossadas no porão do Colégio Teutônico: elas foram submetidas à analise do professor Giovanni Arcudi e sua equipe, respeitando-se protocolos internacionais e garantindo-se o acompanhamento do perito nomeado pela família Orlandi. O resultado das análises desses ossos deverá ser divulgado no próximo sábado, 27.
Porta-voz interino do Vaticano, Alessandro Gisotti declarou sobre estes últimos procedimentos:
“A nova iniciativa atesta, mais uma vez, depois das investigações do último dia 11, a disponibilidade da Santa Sé para com a família de Emanuela Orlandi, disponibilidade demonstrada desde o início, quando aceitou o pedido de investigações no Campo Santo Teutônico, mesmo com base numa denúncia anônima”.