Aleteia logoAleteia logoAleteia
Terça-feira 23 Abril |
Aleteia logo
Estilo de vida
separateurCreated with Sketch.

Por que eu parei de gritar com meus filhos

BAŁAGAN

Shutterstock

Calah Alexander - publicado em 12/08/19

Eu não sabia o que era abuso emocional, muito menos que eu estava fazendo isso com aqueles que mais amo

Confesso: eu costumava gritar com meus filhos. Muito.

Às vezes, era apenas o resultado da frustração de repetir as mesmas instruções várias vezes. Minha voz aumentava em volume e intensidade até que eu encontrasse literalmente gritando com meus filhos. Eu não me orgulhava daqueles momentos, mas também me sentia um pouco justificada – afinal, o que eu teria de fazer para que eles me ouvissem?

Outras vezes, era a manifestação do meu próprio estado emocional turbulento. Aborrecida com algo totalmente alheio aos meus filhos, eu poderia responder ao mais simples dos pedidos com raiva e hostilidade. Isso assustou meus filhos muitas vezes, fazendo-os explodir em lágrimas – e para ser franca, isso me assustou também.

Até eu começar a fazer terapia, nunca tinha aprendido sobre o dano real que o abuso emocional faz às pessoas – adultos e crianças -, e então parei totalmente de gritar com meus filhos. Confrontar a verdade sobre minhas “explosões infantis” foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Veja, não eram explosões como as das crianças – elas têm explosões de volatilidade emocional porque literalmente não sabem como lidar com emoções intensas, e seu córtex pré-frontal não está desenvolvido o suficiente para se conectar e gerenciar a amígdala (o centro de resposta emocional do cérebro).

Eu, no entanto, sou adulta. Meu córtex pré-frontal está totalmente desenvolvido – o que não significa necessariamente que eu soube gerenciar emoções intensas na época (não sabia). Mas eu poderia ter sido capaz de descobrir isso. Em vez disso, porém, fiz a escolha – consciente ou subconsciente – de extravasar minhas emoções em crianças indefesas e vulneráveis.

Eu amo os meus filhos. Eu nunca pretendi causar-lhes sofrimento emocional – mas eu ainda estava fazendo isso. Foi abuso emocional, independentemente da minha falta de consciência. O dia em que eu aceitei isso foi o dia em que parei de gritar com meus filhos.

Não foi fácil – eu tive de encontrar novas maneiras de lidar com minhas emoções. O exercício diário tornou-se absolutamente essencial, pois é minha principal forma de regulação emocional, e continuo a fazer terapia.

Mas naqueles primeiros dias, eu literalmente tive de me tratar como uma criança. Quando eu estava irritada, fazia uma pausa. Eu me certificava de que as crianças estivessem seguras e ligava a TV, depois me trancava no meu quarto até conseguir controlar meu estado emocional. Às vezes levava 10 minutos, às vezes 30 (e não se preocupe, eu tinha o monitor de bebê comigo para ter certeza que as crianças estavam bem). Mas eu não aparecia até que estivesse calma e no controle.

Com o tempo, fiquei melhor e mais rápida nesse processo, e chegar ao limite é algo raro agora. Mas eu sempre mantenho essa opção em meu bolso como reserva, caso as coisas pareçam demais de suportar, porque extravasar minhas emoções sobre meus filhos não é uma opção.

Eu estava tão chateada com meu comportamento que mudei radicalmente – parei com absolutamente todas as formas de grito, não apenas os de explosão emocional. Parei de me dar permissão para levantar a voz em frustração e comecei a encontrar novas maneiras de atrair a atenção de meus filhos.

Foi quando eu descobri algo notável: meus filhos tinham se tornado “surdos” á minha fala. Eles estavam tão acostumados a me ignorar – até que eu erguesse a voz – de tal forma que praticamente já não me ouviam mais. Eu descobri isso quando mudei minha atitude: parei de gritar e comecei a me abaixar e olhar nos olhos deles sempre que eu queria que eles fizessem algo, desde colocar seus sapatos até organizar os brinquedos.

Assim eles não me ignoravam nem resistiam. Eles apenas… obedeciam.

Claro, foi mágico no início – principalmente porque foi uma mudança drástica. Nos anos que se passaram desde então, tive tentações de “recaída”. Mas geralmente eu reconheço minha irritação e rapidamente inverto a tendência.

Não estou dizendo que todo mundo que grita com os filhos é emocionalmente abusivo. Isso não é verdade, e não foi verdade em todas as vezes que eu gritei. Mas isso era verdade às vezes.

Aprender a regular minhas emoções também veio com um benefício inesperado – me deu estratégias para ajudar meus filhos a regular suas próprias emoções. Meu filho de seis anos ainda me vem às vezes quando está chateado e me pede para ajudá-lo a se acalmar. Nós nos sentamos em silêncio e respiramos fundo várias vezes, cara a cara, até que ele esteja calmo. Então ele me dá um abraço e corre para brincar.

Se você estiver gritando com seus filhos, a pergunta que você deve fazer é por quê? É frustrante porque eles não estão ouvindo? Nesse caso, tente encontrar uma nova estratégia para chamar a atenção deles. É um resultado do seu próprio estado emocional turbulento? Se for esse o caso, encorajo você a encontrar uma maneira de lidar com suas emoções antes de discutir ou gritar com seus filhos. Vai dar trabalho, mas no final seus filhos terão uma mãe (e um pai) que é um reflexo mais verdadeiro do amor paciente, gentil e incondicional de Cristo por todos nós.

Tags:
EducaçãoFamíliaFilhos
Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia