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Obra Kolping: o menino que comia lama e hoje cuida dos irmãos necessitados

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Obra Kolping do Brasil - Marabá / Divulgação

Aleteia Brasil - publicado em 15/08/19

Ronaldo, 18 anos, estuda e trabalha como empacotador para sustentar o irmão autista de 26 e o irmão do meio, de 22, que cuida do mais velho

Ronaldo Gomes de Araújo é empacotador no Supermercado Colinas, em Carajás, no Estado brasileiro do Pará, e, aos 18 anos de idade, já acumula na vida uma surpreendente bagagem de desafios – muitos deles vencidos, muitos outros ainda por vencer.

Comendo lama

Quando tinha 5 de idade, ele e dois irmãos mais velhos foram levados a um abrigo público porque a mãe sofria de distúrbios mentais severos e o pai era idoso demais para cuidar adequadamente das crianças. A situação havia sido denunciada à Secretaria de Assistência Social, como descaso, por moradores do bairro. Uma das vizinhas acolheu Ronaldo em sua casa e lhe deu comida, mas notou um persistente sangramento em seu nariz. Acionou um conselheiro tutelar e os três meninos foram levados para o Espaço de Abrigo Provisório. recorda.

Sobre aquele tempo, Ronaldo relata:

“Eu tinha uma doença grave e por causa disso vivia comendo lama, no chão. Meus pais não conseguiam continuar a nossa criação e acabamos no abrigo. Lá eu fui bem cuidado, com meus irmãos. Ninguém nunca quis saber de adotar a gente. Fiquei lá por 12 anos e só saí aos 17, quando provei ao juiz da infância que eu estava trabalhando e poderia cuidar dos meus irmãos”.

Ronaldo foi entrevistado nesta segunda-feira, 12, pelo jornal paraense Correio de Carajás. Ele acabava de ser apresentado aos novos alunos do curso Qualifica 2, oferecido pela Obra Kolping do Brasil, neste semestre, a 240 adolescentes e jovens da cidade.

A doença de que o garoto sofria era a púrpura trombocitopênica idiopática (PTI), um distúrbio autoimune caracterizado pelo ataque das próprias defesas às plaquetas, prejudicando a coagulação do sangue. Levado a Belém para tratamento, ele foi curado.

Mas o ponto de virada na vida de Ronaldo foi, segundo ele próprio, a Obra Kolping.

O que é a Obra Kolping

A organização social internacional Kolpingwerk, sediada em Colônia, na Alemanha, é uma associação de jovens católicos trabalhadores, inspirada nas atividades do padre alemão Adolph Kolping.

As primeiras Sociedades Kolping locais começaram a trabalhar conjuntamente em 1850, vindo a estabelecer uma organização propriamente dita só em 1935, quando a iniciativa adotou oficialmente o nome de Obra Kolping.

Trata-se de uma rede que opera em 60 países e conta com 450.000 membros em 5.800 Sociedades Kolping. A maior concentração da Rede Kolping fica na Alemanha, com mais 275 mil membros filiados, distribuídos por 2.700 associações locais. A instituição atua em diversas frentes e de com alto grau de independência: cada paróquia ou região eclesiástica, aliás, tem a sua própria Sociedade Kolping.

Em Marabá, a Obra Kolping do Brasil mantém o Centro Profissionalizante Pedro Arrupe, que, nesta segunda-feira, recebeu com entusiasmo os 240 alunos matriculados em um dos oito cursos oferecidos neste segundo semestre. O evento reuniu 300 pessoas, entre alunos e familiares, para abrir a segunda etapa do projeto Qualifica, apoiado pelo Ministério Público Estadual, pelo Ministério Público do Trabalho e pela Prefeitura de Marabá.

Via site da Prefeitura de Marabá

Diretora da entidade há mais de duas décadas, Andreia Rodrigues Moura conta que a iniciativa se mantém com a ajuda de parceiros e com o comprometimento dos educadores. Como resultado, muitas empresas da região procuram mão-de-obra qualificada entre os alunos do Centro Profissionalizante.

Os cursos ali oferecidos se organizam em duas grandes áreas: indústria e administração. Eles incluem, por exemplo, informática básica e avançada, mecânica, eletricidade e formação de auxiliares administrativos, de contabilidade e de almoxarifado. A duração dos cursos é de 5 a 6 meses, após os quais os jovens qualificados são registrados num banco de dados disponibilizado às empresas que procuram colaboradores. Andreia completa:

“Mais de 30 mil jovens passaram por essa instituição e pelo menos 70% ingressaram no mercado de trabalho”.

Ali Ronaldo já cursou informática, mecânica, administração e almoxarifado. Além de trabalhar como jovem aprendiz, ele continua estudando no CEEJA (Centro Estadual de Educação para Jovens e Adultos), que oferece um percurso de aceleração do ensino fundamental para quem tem poucas oportunidades de estudar seguindo as etapas usuais do sistema educacional.

Irmãos e sonhos

O irmão mais velho de Ronaldo tem 26 anos de idade e é autista. O do meio tem 22 e dedica praticamente 24 horas do dia a cuidar do mais velho, em casa. Cabe então a Ronaldo, com seu trabalho de empacotador, gerar receita para sustentar a casa e os irmãos. Sua clareza quanto a essa responsabilidade, que ele enxerga como propósito, é inspiradora e tocante:

“Eu tenho uma missão e vou cumprir. Quero cuidar deles e vou conseguir”.

Além desta missão, Ronaldo tem dois sonhos claros no coração: estudar medicina, para proporcionar mais qualidade de vida ao irmão autista, e construir uma nova casa no lugar daquela que herdaram dos pais e na qual moram hoje em condições precárias.

A realidade é encarada por ele com objetividade e propósito em vez de lamúrias e resignação. Por isso mesmo, no entanto, ele não deixa de observar uma situação paralela injusta e comum:

“Eu vejo muitos jovens que têm melhores condições de vida do que a gente e não valorizam, não querem estudar nem trabalhar”.

A Obra Kolping e a realização de sonhos

Secretário adjunto de Educação de Marabá, Orlando Morais participou da aula inaugural do Qualifica e testemunhou que, quando adolescente, ele próprio tinha o sonho de estudar na Obra Kolping. Motivando os alunos a se dedicarem ao máximo e valorizarem o esforço dos pais e dos educadores, ele enfatizou que um futuro melhor para eles mesmos e para a sua futura família será construído com base nesse empenho.

“Esse é um lugar de desafios, mas também de oportunidades. Espero que vocês honrem os nomes dos pais de vocês e cheguem o mais rápido possível no mercado de trabalho”.
Via site da Prefeitura de Marabá

Dom Vital Corbelini, bispo de Marabá, fez questão de participar do evento e de reforçar a mensagem de esperança e comprometimento pessoal aos alunos e seus pais. Destacando a importância da Obra Kolping, ele ressaltou o vínculo que existe entre um futuro de prosperidade e o conhecimento que os alunos têm ali a oportunidade de adquirir para uma vida melhor com boa qualificação profissional.

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Com informações do Correio de Carajás

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