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Isso na minha Bíblia é um unicórnio?

unicorn

Isidore of Seville wrote about the unicorn, in the seventh century, describing it as a four-legged beast that has a single horn on its forehead; It is very strong and pierces anything that attacks it.

Daniel R. Esparza - publicado em 16/08/19

Um detalhe de tradução acabou criando uma tradição iconográfica cristã única

A igreja de São João Evangelista em Ravenna, Itália, foi comissionada pela Imperatriz Placidia no ano 424. Conta-se que enquanto ela estava viajando através do Mar Adriático para chegar a Ravenna, a fim de assumir o governo no lado ocidental do Império Romano em nome de seu filho, o Imperador Valentiniano III, uma forte tempestade eclodiu. A imperatriz, que viajava com seu filho Placidus e sua filha Iusta, rezou a São João, pedindo-lhe para levá-los em segurança para Ravena.

Até hoje, na porta da igreja, pode-se ler a inscrição em mármore: “Gala Placidia, junto com seu filho Placidus Valentinian Augustus e sua filha Honoria Iusta Gratia Augusta, fizeram seus votos por serem libertados dos perigos do mar.”

A basílica hoje, no entanto, está longe do que era nos tempos de Gala Placidia: a primeira expansão do corredor central do templo data do século VII, mas esta foi apenas a primeira de muitas outras renovações feitas pelos cruzados nos séculos XII e XIII. Outros acréscimos foram feitos no século XVII. E no século XX, depois que os bombardeios aliados erroneamente destruíram a fachada oeste, a basílica teve de ser reconstruída, usando os materiais originais que estavam espalhados pelo lugar.

Uma das renovações do século XIII foi responsável por trazer um unicórnio para dentro do prédio. Uma série de mosaicos, originalmente adicionados ao piso da basílica, foram encomendados pelo Abade William para comemorar a Quarta Cruzada, incluindo a reconquista de Zara e Constantinopla. Mas entre essas cenas históricas são retratadas muitas figuras do folclore mítico e medieval, incluindo o unicórnio. Mas o que um unicórnio e o cristianismo podem ter em comum?

Tudo poderia ser uma questão de erro de tradução. Unicórnios, por mais difícil que seja de acreditar, são mencionados na Bíblia. Além disso, não um, nem dois, mas nove vezes no total, em algumas traduções. A maioria dos eruditos bíblicos salienta que se trata de um erro de tradução da palavra hebraica re’em, que significa “boi” ou “búfalo”.

Outros apontam que esse re’em se refere a um rinoceronte, tal como esse animal é descrito na Bíblia por ser incrivelmente forte. Curiosamente, existem rinocerontes de um chifre, o que tornaria a presença da fera unicórnio-re’em no texto bíblico algo um pouco mais aceitável.

À parte a tradução, o fato é que o unicórnio, sendo uma figura mítica, encontrou um lugar próprio na iconografia cristã, a ponto de se tornar um símbolo cristológico. Por mais estranho que possa parecer, o unicórnio é considerado uma imagem de Cristo na iconografia medieval. Mas por quê?

Uma lenda medieval, baseada no Physiologus (um texto do século II depois de Cristo, escrito por um autor alexandrino anônimo), descreve o unicórnio como um animal impossível de ser capturado por qualquer pessoa, exceto por uma virgem. Atraído pela pureza de uma donzela imaculada, o unicórnio dormiria em seu colo. Só ali os caçadores poderiam pegá-lo. A lenda foi entendida e lida pelos exegetas cristãos como uma alegoria da Encarnação de Cristo: o Criador do Universo, impossível de se capturar, torna-se humano e vulnerável no ventre de Maria Imaculada.

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