São Bernardo Claraval lança alguma luz sobre como o casamento realmente não é uma parceria igualUm estudo publicado recentemente lembra-nos mais uma vez que, nas famílias, são as mulheres que fazem a grande maioria das tarefas domésticas.
Assumo minha parcela de culpa. Não é que eu propositadamente contribua menos, mas ao que parece, assim como a maioria dos homens, tenho meus padrões de organização doméstica embaraçosamente baixos.
Não me importo se a pia não está impecável, e não vejo problema se uma camisa suja aparecer entre as roupas limpas. Talvez, como Mary Kenny afirma no Catholic Herald, os cérebros dos homens funcionem simplesmente de modo diferente. Mas seja qual for a causa, apresenta-se uma situação injusta.
Na verdade, a maioria dos casamentos está repleta de injustiças. Se o objetivo for uma parceria perfeitamente igual na qual os deveres são cuidadosamente discutidos e acordados de tal forma que nenhum dos parceiros carregue mais peso… bem, eu nunca vi esse arranjo na vida real.
Inevitavelmente, os casais caem em um padrão confortável que parece funcionar para eles. Tenho visto casamentos organizados de todas as maneiras e, embora raramente pareçam “igualitários” a um observador externo, isso geralmente funciona para os cônjuges.
Eu me pergunto ser não é o amor que nos leva a tolerar essas “desigualdades”. Mas não seria o amor o único estado de vida que promoveria justamente uma parceria perfeitamente equilibrada?
Com a festa de São Bernardo de Claraval, esta semana, temos um exemplo improvável da desigualdade do amor.
Bernardo era um monge beneditino que viveu no século XII. Ele não era casado, mas como todos os monges, ele fez uma série de votos que o prendiam em um “casamento espiritual” com Deus.
Durante seu tempo, os monges ao redor dele relaxaram um pouco da Regra original de São Bento – as diretrizes fundamentais de como os monges honrariam seus votos. Bernardo sentia que tinha mais a oferecer e desejava contribuir mais para seu relacionamento com Deus. Ele estava dolorosamente ciente de quanto Deus havia dado a ele e quão pouco ele tinha dado em troca, escrevendo: “Claramente, amante e Amor, alma e Palavra, criatura e Criador não fluem com o mesmo volume, poder-se-ia comparar a um homem sedento e uma fonte”.
O que Bernardo notou é semelhante ao que o estudo sobre as tarefas domésticas indica – em qualquer boa relação é impossível somar e igualar o amor que é dedicado. O amor cria desigualdade, e a contribuição de Bernardo quase some em comparação com a que ele está recebendo.
Sabendo disso, talvez a questão a ser ponderada não seja tanto: “O meu parceiro está me tratando de forma justa?” O que devemos perguntar é: “Estou dando todo o meu amor a esse relacionamento? Como posso dar mais?
Este sentimento é resumido pelo poeta W.H. Auden, que escreve: “Se a afeição igual não pode ser, que o mais amoroso seja eu”.
Em outras palavras, nosso foco deve ser não o que estamos recebendo, mas o que estamos dando. Em um casamento saudável, em que ambos os cônjuges têm essa atitude generosa como mentalidade, o amor cobre uma infinidade de arranjos aparentemente desiguais.
Nosso casamento pode ou não ser “igualitário”, e pode ou não parecer “igualitário” a outras pessoas, mas isso realmente não importa. O que importa é que estamos contribuindo com todo o nosso amor para o melhor de nossas habilidades.
O casamento não é realmente uma parceria, é uma unificação. É um estado de vida complexo, no qual os corações de duas pessoas estão sempre misturados em um único coração. É contra-intuitivo, na medida em que, dando a nossa liberdade e sem contar o custo, tornado-nos felizes.
Talvez o segredo, como São Bernardo percebeu, seja ver como o próprio Deus se alegra em nos amar, embora o relacionamento seja ridiculamente desigual. Naturalmente, nenhum de nós é Deus, mas somos chamados a ser mais e mais como Ele.
O amor da minha esposa, mesmo sem nenhuma palavra, me faz querer responder ainda mais generosamente com meu próprio amor. É assim que o amor verdadeiro deve funcionar.