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Índia: crise na Caxemira preocupa comunidade cristã

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John Fredricks | NurPhoto | AFP

Fundação AIS - publicado em 25/08/19

A comunidade cristã é profundamente minoritária na região mas não está imune a este problema que pode degenerar numa crise muito complexa

A revogação, no passado dia 5 de Agosto, do estatuto especial de Caxemira pelo governo indiano veio desencadear uma crise regional grave entre este país e o vizinho Paquistão, situação que está a preocupar muito a comunidade cristã que é fortemente minoritária na região.

A medida do executivo de Nova Deli provocou inúmeros protestos e levou o governo paquistanês a reafirmar o seu “apoio político, diplomático e moral” à causa da Caxemira e ao seu “inalienável direito à autodeterminação”.

Consequência imediata desta decisão do governo indiano calcula-se que mais de 4 mil pessoas tenham sido detidas nas últimas duas semanas, medida que, afirmam os observadores, terá como objectivo evitar manifestações por parte da população local maioritariamente muçulmana.

A comunidade cristã é profundamente minoritária na região mas não está imune a este problema que pode degenerar numa crise muito complexa inclusivamente a nível militar.

Dois dias depois de ter sido revogada a autonomia do território de Caxemira, o governo do Paquistão expulsou o embaixador da Índia e suspendeu o comércio bilateral, assumindo ainda que todas as opções estão em aberto para a resolução do conflito.

Recorde-se que ainda antes de a Índia e o Paquistão terem conquistado a independência da Grã-Bretanha, o que aconteceu em Agosto de 1947, já Caxemira era um território intensamente disputado.

No projecto de divisão territorial desenhado pelo parlamento britânico, a região de Caxemira teria liberdade para aderir tanto à Índia (país maioritariamente hindu) como ao Paquistão (onde predomina a população muçulmana). Porém, um governante local, o marajá Hari Singh, escolheu a Índia e nasceu de imediato um conflito armado.

Na base do conflito está a questão religiosa pois o estado de Jammu e Caxemira, que pertence à Índia, é composto por mais de 60 por cento de população muçulmana. É, aliás, o único estado indiano em que a maioria da população é muçulmana e não hindu.

Por causa da questão de Caxemira indiana [uma parte do território da Caxemira pertence ao Paquistão e há ainda uma região sob tutela da China], Índia e Paquistão já estiveram em guerra aberta por diversas vezes, nomeadamente em 1965, 1971 e 1999, com um balanço trágico de milhares de mortos e feridos.

Agora, com o reacender do conflito, a Igreja Católica expressou de imediato a sua preocupação perante o insanável conflito territorial.

D. Theodore Mascarenhas, Bispo Auxiliar de Ranchi – e que recentemente concluiu o seu mandato como secretário-geral da Conferência Episcopal da Índia – verbalizou as preocupações da Igreja Católica face a este conflito afirmando que “a situação em Caxemira é delicada e exige um esforço de todos, pela paz e a reconciliação, para que não degenere em conflito”, acrescentando, em declarações citadas pela agência Fides, que a Igreja acompanha e expressa a sua “proximidade ao povo da Caxemira, que novamente vive dias de tensão e sofrimento”.

O Bispo Auxiliar de Ranchi manifestou ainda a “esperança de uma evolução pacífica dos acontecimentos”, apelando à oração de todos “pela paz na Caxemira e em toda a Índia”.

A situação na Caxemira é acompanhada com atenção e preocupação também pela comunidade cristã no vizinho Paquistão.

Nos últimos dias, informa a agência Fides, o Comité Ecuménico de Solidariedade de Lahore organizou uma oração especial para “os irmãos muçulmanos de Caxemira”, na qual líderes cristãos paquistaneses de várias denominações participaram como a Igreja Católica, a Igreja Anglicana, Igreja Presbiteriana e o Exército da Salvação. A oração foi acompanhada por um chamado à paz para a região da Caxemira, uma causa de fortes tensões entre a Índia e o Paquistão.

Fortes tensões que estão particularmente visíveis na fronteira. Joel Amir Sahotra, um destacado membro da comunidade cristã paquistanesa e que pertence ao governo regional do Punjab, sublinhou, questionado pela Fundação AIS, que, de facto, “a situação na fronteira é muito crítica”, lembrando que já “houve baixas de ambos os lados” na região e que “o ministro da defesa indiano ameaça usar o ataque atómico sobre o Paquistão”.

Joel Amir, que esteve recentemente na sede da Ajuda à Igreja que Sofre em Portugal, destacou o facto de os cristãos paquistaneses, que são uma clara minoria no seu próprio país, estarem por isso particularmente sensibilizados para compreender a situação vivida no lado indiano de Caxemira.

“Podemos entender os problemas do povo da Caxemira”, disse Amir, acrescentando que “sempre mostrámos a nossa solidariedade para com eles, pois eles têm enfrentado uma situação terrível nas últimas sete décadas”, especificando que a população da Caxemira indiana deve “obter todos os direitos que a constituição garante”.

Para este dirigente político no Punjab, há semelhanças nas reclamações da população de Caxemira e da comunidade cristã no Paquistão. A começar no facto de ambas serem minoritárias. “Também exigimos ter todos os direitos iguais como cidadãos do Paquistão.” Joel Amir aproveita esta ocasião para lembrar algumas das situações que decorrem da menorização política dos cristãos no seu país.

“A nossa constituição privou-nos do direito” de ocupar o cargo de “presidente ou de primeiro-ministro”, tendo-se tornado “tendenciosa, pois não nos concede esse direito elementar, que é uma violação dos direitos humanos básicos das comunidades religiosas no Paquistão.”

E lembra ainda a famigerada “lei da blasfêmia” – que esteve na base da injusta condenação à morte de Asia Bibi, entretanto libertada após quase uma década na prisão –, lei que “precisa de ser mudada pois [transformou-se] numa ferramenta muito fácil para prejudicar alguém pertencente às minorias [religiosas] ”.

Joel Amir finaliza a mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa lembrando que são “inúmeros os problemas que [os cristãos] enfrentam diariamente” no Paquistão. Além da “discriminação religiosa, há ainda as questões financeiras, conseguir um bom emprego, etc.”.

(Fundação AIS)

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