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Liberdade ou loucura?

MAN, SKY, FREEDOM

Tonktiti | Shutterstock

Prof. Felipe Aquino - publicado em 30/08/19

Será que ser livre é fazer tudo o que eu quero?

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A maior aspiração do ser humano é a felicidade. E isto é consequência natural de termos sido criados à “imagem e semelhança” (Gen 1,26) de Deus, para participar de sua vida bem-aventurada. O Catecismo, no primeiro parágrafo, afirma:

“Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar da sua vida bem-aventurada” (n.1).

“O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (n.27).

Já que ele foi feito por Deus, e para Deus, só conseguirá ser feliz em Deus. Todos os outros caminhos de felicidade serão frustrantes, e a fome de ser feliz não será saciada plenamente.

Santo Agostinho (354-430), um dos maiores pensadores de todos os tempos, depois de buscar a felicidade nos prazeres do mundo, na retórica, na oratória, no maniqueísmo e em tantas outras estrepolias, somente saciou o seu coração quando encontrou o Evangelho. Logo no início das suas Confissões, diz:

“Nos fizestes para Vós e o nosso coração não descansará enquanto não repousar em Vós”.

E adiante, lamenta ter demorado tanto para ter descoberto a verdadeira fonte da felicidade:

“Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida amei, por que desejei outra coisa senão Vós?”

Sem Deus não há autêntica liberdade e felicidade.

O Criador não quis para nós uma felicidade pequena, esta que se encontra entre as coisas do mundo: o prazer dos sentidos, o delírio das riquezas ou o fascínio do poder e do prestígio. Não. Isto é muito pouco para nós. Deus quis que a nossa felicidade fosse muito maior; quis que fosse Ele próprio. E isto é um grande ato de amor do Pai para conosco. O Pai, sempre quer “o melhor” para o filho. Daí se conclui que a fome de felicidade do homem é infinita e não pode ser saciada sem Deus, que é infinito. É fome de Deus.

Sem acolher Deus de coração aberto, que se revela pela criação, pela Bíblia, e por Jesus Cristo, que é a perfeita revelação do Pai (Hb 1,2), o homem jamais experimentará a autêntica felicidade. E isto não é uma mera conclusão religiosa, é um fato de vida. Experimente hoje dar a um jovem tudo o que ele quiser: dinheiro à vontade, prazer até não poder mais, “curtição” de toda natureza, e você verá que a sua “fome” de felicidade continuará insaciada. Não fosse isto verdade, não teríamos muitos jovens de famílias ricas, mas delinquentes, envolvidos com as drogras, crimes, etc. Por outro lado, vá à um mosteiro e pergunte a um monge, que abdicou de todos os prazeres do corpo e do espírito, para abraçar somente a Deus, se lhe falta algo para ele ser feliz. A resposta será não! Nada lhe falta, pois ele tem Tudo. Tem Deus.

A Igreja, de maneira insistente, nos ensina que:

“O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus… Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador” (Gaudium et Spes, 19).

Muitos pensam que abraçar a Deus e viver uma vida em obediência às suas leis de amor, significa “perder” a liberdade. Ao contrário, Deus é a verdadeira Liberdade e Verdade.

É preciso distinguir entre liberdade e libertinagem, entre ser livre e ser libertino. Liberdade sem compromisso com a verdade e com a responsabilidade, torna-se libertinagem; e esta, jamais poderá gerar a felicidade, já que vai desembocar no pecado. E “o salário do pecado é a morte” (Rom 6,23).

Ser livre não é “fazer tudo o que eu quero”. Não. Muitas vezes isto é loucura. A verdade é o trilho da verdadeira liberdade. Liberdade sem verdade é loucura. Será liberdade assegurar que dois mais dois são cinco? Será liberdade desrespeitar o catálogo do seu aparelho de TV e, ao invés de ligá-lo em uma tomada de 120 volts, como manda, você teimar em ligá-lo em outra de 210 volts? Será liberdade, por exemplo, usar drogas, para sentir-se livre, mesmo destruindo a vida? Será liberdade, usar o sexo sem o compromisso do casamento, apenas por prazer, mesmo sabendo que ele poderá gerar uma gravidez despreparada, um aborto, um adultério? Não. Tudo isto não é liberdade; é loucura!

A liberdade que faz a felicidade, é alicerçada na verdade e na responsabilidade. Fora disso é loucura, libertinagem, irresponsabilidade… pecado, que vai gerar a dor, o sofrimento e as lágrimas. Não queira experimentá-la. É muito melhor aprender com o erro dos outros. Abra os olhos e tenha coragem de ver!

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo14,6).

Por mais duras que sejam as exigências do Sermão da Montanha (humildade total, mansidão, misericórdia, pureza de coração, castidade, jejum, esmola, oração, etc), é aí que temos o código da liberdade e da felicidade autênticas.

O Catecismo da Igreja garante que:

“As bem-aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade” (n° 1718).

Santo Agostinho dizia:

“Meu corpo vive da minha alma e esta vive de Vós”.

São Tomás de Aquino conclui: “Só Deus satisfaz”.

Santa Teresa disse: “Só Deus basta”.

São Luiz de Montfort acrescenta: “Deus só”.

É nas bem-aventuranças que o homem encontra o sentido e o objetivo da vida. A liberdade só atinge sua perfeição quando está ordenada para Deus, seu bem último. Quanto mais praticar o bem e a virtude, mais livre a pessoa será. Enquanto as paixões nos dominarem, não seremos livres e felizes. Enquanto o espírito do homem for escravo da sua carne e da sua sensibilidade, este ainda não será livre. Ainda viverá se arrastando pela vida.

“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gal 5,1), nos ensina São Paulo; e esta liberdade custou o sangue do Cordeiro de Deus na cruz, para destruir a causa da nossa escravidão; isto é, o pecado. E o apóstolo diz:

“Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (Gl 5,1-2).

Aceitemos “morrer” para nós mesmos, pela cruz, a fim de que possamos ser livres em Jesus. Quando o Senhor manda tomar a nossa cruz, “a cada dia”, e segui-lo, é sinal inequívoco de que é esta cruz que nos salva. Todos os santos se santificaram pela cruz. Não há como abraçar o Cristo sem abraçar a cruz, mas também não se pode abraçar a cruz sem o Cristo. Se por um lado a cruz de cada dia nos liberta, por outro lado, sem o Cristo, esta cruz nos leva ao desespero. Não se pode separar Cristo da Cruz. Ambos nos são indispensáveis para a salvação.

A cruz de “cada dia” nos liberta de todas as más inclinações, “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2,16), e de todo o mal que há no interior dos corações: “maus pensamentos, devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez” (Mc 7,21-23), e que torna o homem impuro.

Só a cruz e a “morte” do próprio eu, sobre ela, podem nos libertar das garras do pecado. É por isso que, pedagogicamente, o Senhor nos dá a “honra” de carregar, também nós, a sua cruz. E ninguém está dispensado desta missão sobre a terra. É por amor a Cristo que carregamos com Ele a cruz, seguindo-o, a cada dia, sem desespero, tristeza e lamúria.

São João da Cruz afirmava que “quem não busca a cruz de Cristo não busca a sua glória”.

Mas por que temos tanta repugnância da cruz? Porque resistimos à cruz de “cada dia”: as ofensas, as incompreensões, o cansaço, o trabalho, a doença, as contrariedades, os acidentes, a morte…? É porque ainda não experimentamos todo o seu poder salvífico. Aqueles que conheceram esse valor a desejaram como um verdadeiro dom de Deus.

A cruz nos desespera quando ela está sem o Cristo; isto é, sem a sua graça e sem a fé. É Ele que nos dá força, compreensão, alegria, paz, paciência e resignação para levar a cruz, a cada dia. Portanto, a grande lição da Paixão e Morte do Senhor, é a de que devemos amar e abraçar a cruz; mas não apenas a cruz de madeira que se ergue em cada lugar, mas “a minha cruz”, aquela que o Senhor dá “a cada dia”, para a minha santificação (Heb 12,10). O livro dos Provérbios nos ensina:

“Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho” (Prov. 3,11 s).

Dizemos ao Pai, todos os dias, na oração do Pai-Nosso: “Seja feita a Vossa vontade”; e no entanto, muitas vezes, quando Ele nos apresenta a cruz de cada dia, nos rebelamos, revoltamos e perdemos a paz. Esta atitude não está de acordo com nossa fé.

Aceitemos, na fé, toda a vontade de Deus.

Prof. Felipe Aquino

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