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Pe. Zezinho: “Fé cristã é feita de teologia, mas também de socorro imediato”

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Aleteia Brasil - publicado em 10/09/19

"Poucos deles olham como Jesus mandou olhar, ao redor, para sentir que o povo está como ovelhas sem pastores"

Em tempos de polarização ideológica, partidária e politiqueira, são tristemente comuns os extremos também entre parcelas de cristãos que se acusam mutuamente de trair a fé ao privilegiarem aspectos delas em detrimento da sua totalidade – que, assim como nós próprios, é composta por corpo, mente e alma imortal, ou seja: tem uma dimensão material, uma dimensão intelectual e uma dimensão espiritual. Não se pode fragmentar a fé cristã.

A este propósito, o pe. Zezinho compartilhou em sua página do Facebook, nesta segunda-feira, uma reflexão pessoal sobre a necessidade de se viver uma espiritualidade que olhe para o céu, enxergando que é Deus quem nos concede toda graça, mas que também olhe para os lados, enxergando e respondendo às necessidades do nosso próximo. Olhar só para os lados ou só para o céu são dois erros que fragmentam e, portanto, deformam a fé cristã autêntica.

Eis o que o padre escreveu:

OS JOVENS PADRES E A MÍSTICA DE PENTECOSTES

Agora, aos 78 anos, sou um padre ancião. E optei pela mística da misericórdia e do diálogo, acentuando Jesus e seu coração libertador (Mt 9, 36), preocupado com as ovelhas sem pastor. Hoje vejo que aumentou claramente a mística de Pentecostes entre os jovens padres que acentuam o Espírito Santo Consolador que Jesus disse que enviaria e enviou. Naqueles dias, os discípulos reunidos em oração esperavam a manifestação do prometido Espírito Santo. Naqueles dias não foram às ruas conversar com o povo. Estavam concentrados à espera da vinda do prometido Espírito Santo. Mas, assim que o receberam, foram às ruas profetizar e cuidar das feridas do povo (At 5,15) e faziam coletas para os pobres. Em práticas de Maria passa na frente, Derrubada dos Muros de Jericó, Missas de Cura e Libertação, preces por milagres, incentivo à oração, vejo novos enfoques pastorais e espirituais entre os novos consagrados. É um olhar para o alto e um incentivo para olhar para o alto, de onde vem o auxílio (Sl 33,20 ). A meu ver, trata-se de procura por uma nova mística de misericórdia com acento na oração e na esperança de que dias melhores virão, se o povo orar mais. Em geral eles acentuam a graça abundante do Cristo através da promessa de Pentecostes. São os novos padres e freiras jovens acreditando no que Joel 2, 28 disse: “Vossos filhos e filhas um dia profetizarão”. Muitos deles ousadamente marcam dias e semanas de oração e profetizam que naqueles dias haverá curas e milagres. Vejo isto nas postagens deles. Deus não me deu esta ousadia e eu não ouso. Ouso na pregação de justiça e paz e na catequese sociopolítica, quando uso a mídia e os escritos e tento ensinar as encíclicas dos Papas e os sucessivos documentos do Concílio e das Conferências Episcopais sobre “ir ao povo“ para ensinar o diálogo permanente na sociedade. Nosso país precisa encarar as injustiças deste mundo. Não estamos bem representados por nossos porta-vozes em Brasília. Às vezes o povo se queixa da falta de políticos e pregadores e juízes que olhem para suas dores. Basta ver o caos da saúde em algumas regiões. São as duas vias: “olhar para o alto e olhar ao redor” para ver o que acontece em nosso país e no mundo. O povo está clamando por pastores que conversem com ele sobre suas angústias do dia a dia. Ele quer teologia, mas também quer sociologia. Está doendo aqui e agora quando precisa de uma consulta e de uma internação e só será atendido daqui a seis meses… Neste aspecto vejo a diferença de acento pastoral entre quem ficou padre depois de 1962 até hoje e quem ficou padre depois de 1990 até hoje. Releio o Documento Gaudium et Spes e o Documento de Aparecida, este nos números 98 ,100, 391, 399, 402, e não vejo os novos pregadores no rádio, nos retiros, na TV, incentivando nem acentuando um olhar imediato sobre as angústias do povo. Ainda os vejo olhando para o alto e incentivando o povo ajoelhado a olhar para o alto, de onde vem o auxílio. Poucos deles olham como Jesus mandou olhar ao redor, para sentir que o povo está como ovelhas sem pastores. A espiritualidade cristã é feita de teologia, mas também de psicologia, psiquiatria, sociologia e socorro imediato. Feliz da cidade que tem tudo isso! Não tendo, o povo corre para os templos com data marcada para curas e prodígios. O ideal é o que muitos bispos e padres fazem: capelães nos hospitais, leigos e monges voluntários nas ruas, fazendas esperança, pregação na TV e no rádio sobre as doutrinas sociais da nossa Igreja, páginas na internet ensinando a se preocupar com os pobres e desempregados. E tudo isto sem xingar os padres da libertação de serem comunistas. Jesus fez tudo isso e não foi e nunca seria comunista. Ele nunca mentiu ou enganou para implantar o Reino dos Céus. E ensinou a repartir o pão sem pegar em armas.



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