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Os índios e alguns ideólogos do Sínodo

Mudas de árvores nas mãos

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Vanderlei de Lima - publicado em 06/10/19

Um importante contraponto à luz da fala de uma índia e de um estudioso católico

A leitura do Instrumentum Laboris – Instrumento de trabalho – que norteará o Sínodo sobre a Amazônia parece desejar que os indígenas permaneçam na (ou, se já saíram, regridam à) vida dos primórdios. Ora, o clima sinodal de escuta geral defendido pelo Papa Francisco, em 6 de outubro de 2014, leva-nos a oferecer um importante contraponto à luz da fala de uma índia e de um estudioso católico.

O ponto de vista indígena aqui exposto deve-se à índia Kaynä Mundurucu, de 41 anos, jornalista e radialista. Diz ela que o governo federal atual está lhes dando “uma abertura muito grande”, ao passo que “governos anteriores trabalharam para deixar os índios engaiolados e isolados. Hoje temos índios advogados, médicos, somos responsáveis e acabou essa coisa de dizer que índio é preguiçoso, pois tem muito índio trabalhador que quer fazer a diferença, quer ajudar o Brasil a evoluir para a retomada de crescimento e desenvolver o nosso País” (Catolicismo n. 825, set. 2019, p. 9). 

Ainda: sobre as muitas ONGs presentes entre os povos indígenas, Kaynä é taxativa: “Eu não gosto desse tipo de gente. Eles querem dar palpite sobre o que nós somos, e fizeram uma espécie de ditadura na cabeça das pessoas. Alguns até quiseram trocar o sentido das palavras do povo Munduruku. A gente não se adapta a isso” (idem). A mesma índia opina, de modo firme, sobre o conhecido cacique Raoni: “Recentemente ele foi à Europa, esteve com o presidente da França e com o Papa, para dizer que a floresta amazônica está sendo queimada. Mas a intenção dele era arrecadar dinheiro, e para isso divulgou que estão desmatando e queimando a Amazônia. Desde que eu me entendo por gente, nunca vi o Raoni por aqui visitando comunidades da Amazônia. Mas de uma hora para outra ele aparece na Europa abraçando o Macron na França, como se representasse os indígenas brasileiros”. […] “Já foi o tempo em que um cacique podia representar todos os povos indígenas do Brasil. Somos mais de 300 etnias no País, e cada etnia tem seu cacique, seu chefe. Os próprios índios falam que não se sentem representados por Raoni. […] Conversamos entre nós, por meio de meus programas na rádio, e várias lideranças disseram que Raoni não as representa. Não basta ele dizer que representa, as coisas mudaram” (ibidem, p. 10).

Isso bem demonstra dois mundos opostos: de um lado, o real que os indígenas vivem com o desejo de evoluir, como todo ser humano sadio, e o artificial que certos grupos lhes impõe, de forma ditatorial, a fim de fazê-los viver “engaiolados e isolados”, na expressão de Kaynä Mundurucu. Ora, essa teoria e prática ideologizadas não estão corretas, de acordo com Dom Lourenço de Almeida Prado, OSB, médico e educador, ao defender que o índio há de receber, sim, educação religiosa e geral: “Esquecem-se de que o índio, antes de tudo, é gente, isto é, um ser que traz dentro de si um apelo à educação, um apelo a essa ajuda para que possa chegar à plenitude de sua natureza humana. Querer manter o índio no seu primitivismo, como se conserva uma espécie em extinção ou um bairro alagadiço, abrigando gente miserável para curiosidade dos turistas, é um crime contra a dignidade humana. O homem é um ser de cultura, não um ser de natureza” (Ensino e ensino de religião. Coletânea. Tomo I. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1990, p. 243-253). Dom Lourenço chama ainda a atenção para a incoerência premeditada desses ideólogos, “com ou sem batina” – expressão dele –, pois dizem respeitar a consciência e os costumes do próximo de modo a não lhes falar de Deus, mas impõe-lhes, com toda força, a doutrina comunista: “Ensinam marxismo, mas consideram opressivo ensinar Deus. São capazes de ensinar a luta de classes, ou seja, ensinar a odiar, mas não querem ensinar a amar” (idem, p. 250).

Recomendamos, por fim: Dom João E. M. Terra, SJ. Catequese de índios e negros no Brasil colonial. Aparecida: Santuário, 2000, p. 11-143 (o índio). Obra de grande valor histórico e teológico a quem não deseja ser refém de ideologias, mas fiel à Igreja sob a condução do Papa Francisco, legítimo sucessor de Pedro (cf. Mt 16,18).

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