Série revela o trabalho marcado pela dualidade entre razão e emoção, fé e ceticismo na investigação de um estuprador que agia sem deixar pistasHerdei de meu pai o gosto por livros e filmes de investigação criminal. E isso, consequentemente, me levou a gostar também de séries do gênero. Sendo assim, sempre que eu fico curiosa a respeito de um novo título de série policial recém-lançado em serviços de streaming, fico ansiosamente aguardando o final de semana para poder assisti-lo.
Fã da atriz Toni Collette desde “O casamento de Muriel”, drama que ela protagonizou nos anos 90, não pensei duas vezes antes de apertar o play em “Inacreditável”, série de oito episódios disponível na Netflix que mostra o desdobramento de uma série de estupros ocorrida nos estados do Colorado e Washington, nos EUA.
Baseada no livro-reportagem intitulado “Falsa acusação”, que deu o Prêmio Pulitzer de Jornalismo aos repórteres Ken Armstrong e T. Christian Miller, a história conta com duas narrativas que se desenvolvem paralelamente e que não apenas remontam toda a investigação do caso, como também mostram os traumas sofridos por Marie Adler, uma jovem de 18 anos que foi vítima de estupro e acusada de falsa denúncia por inconsistências em seu depoimento.
A linha do tempo da série começa em Seattle no ano de 2008, quando ocorreu o crime envolvendo Marie, garota que nasceu em um lar disfuncional e que, dos 6 aos 18 anos, viveu com diferentes famílias em lares provisórios. Sem suporte familiar e muito frágil emocionalmente, Marie é interrogada incisivamente pela polícia que desconfia da veracidade dos fatos devido à falta qualquer indício de pericial de que o crime realmente ocorreu. A pressão é tão grande que ela acaba decidindo recuar e declarar que todo o crime que havia relatado tinha sido apenas um sonho perturbador.
Mas isso é só o começo, pois embora essa declaração a tenha libertado do papel de vítima e de desgastantes interrogatórios, o gesto não dissipou seus traumas e a tornou ainda mais vulnerável.
Três anos depois, a detetive Karen Duvall é acionada para investigar o crime ocorrido com uma estudante e, como no caso no que envolveu Marie, o estuprador não deixou nenhuma pista. Intrigada com o relato da vítima e disposta a encontrar o culpado, a policial passa a procurar por crimes semelhantes e, assim, chega até a colega Grace Rasmussen, que atua numa cidade vizinha e que há menos de um mês iniciou a investigação de um crime ocorrido em circunstâncias muito semelhantes.
As duas se unem então num hábil trabalho de investigação marcado pela dualidade entre razão e emoção, fé e ceticismo.
Grace: “Eu invejo quem acredita em Deus. Eu adoraria sentir fé.”
Karen: “É, na nossa profissão já é difícil com Deus, não sei como alguém consegue sem ele.”
(trecho de diálogo entre as duas protagonistas)
Enquanto a experiente e combativa Grace é movida por um enorme senso de justiça, Karen demonstra grande consternação pelas vítimas e uma inabalável certeza de que irão encontrar o criminoso.
E mesmo com um enredo que poderia ser amplamente explorado a partir de uma ótica feminista, a história sutilmente revela como o crime envolvendo Marie teria tido um outro desfecho se uma unidade policial especializada em crimes sexuais tivesse atendido sua ocorrência – o que não aconteceu, e mostra também como os diferentes pontos de vistas de duas mulheres deram um rumo certeiro às investigações.
O desfecho é surpreendente e mostra também a difícil jornada que Marie Adler enfrentou até encontrar sua merecida redenção. Se você, assim como eu, é fã do gênero, separe algumas horas em seu final de semana para conferir “Inacreditável” e tenha certeza de quem não irá se arrepender!