Filha de uma menina estuprada aos 14 anos, Victoria nasceu pesando só 1 quilo e conquistou o amor de uma naçãoUma adolescente de 14 anos, cuja identidade foi preservada, estava na 26ª semana de uma gestação decorrente de estupro quando se submeteu a um aborto legal na Bolívia, onde a prática é permitida em casos de violação sexual e quando a gravidez coloca a vida da mãe em risco.
O aborto seria realizado num hospital de Santa Cruz de la Sierra, mas o caso chamou a atenção dos médicos porque a gestação estava muito avançada: por ocasião da primeira consulta, ela estava na 23ª semana. Eles então explicaram à jovem gestante que consideravam mais indicado manter a gravidez, tanto da perspectiva da sua segurança quanto com base no direito à objeção de consciência. A adolescente, porém, em quadro de depressão, quis dar andamento aos preparativos para o aborto, que acabou sendo ordenado pelo diretor médico do hospital, Federico Urquizo.
Três semanas depois, o procedimento começou a ser realizado mediante a administração de medicamentos, por via oral e vaginal, que expulsariam o feto, conforme determina a legislação boliviana. Entretanto, os médicos já tinham adiantado que, por conta do desenvolvimento avançado da gestação, havia boas chances de o bebê sobreviver.
E foi o que aconteceu. O aborto acabou dando espaço ao parto de emergência de uma menina que nasceu pesando 1,1 kg e cujo nome foi o mesmo tantas vezes escolhido em casos semelhantes: Victoria. A recém-nascida foi batizada no hospital, também em caráter de emergência, por um padre da paróquia à qual pertence o centro médico.
Um país em comoção
O caso de Victoria reacendeu a luta pela vida na Bolívia, com a Igreja e representantes da sociedade civil lançando a campanha “Todos por Victoria”, visando prestar apoio à recém-nascida e à sua família. A campanha também valoriza a atitude dos médicos que, a princípio, se recusaram a fazer o aborto legal.
O porta-voz da arquidiocese de Santa Cruz, Erwin Bazán, contou via Facebook:
“Com alegria e esperança, anuncio que, devido ao seu delicado estado de saúde, Victoria recebeu nesta tarde o Batismo de Emergência na Unidade de Terapia Neonatal do Hospital da Mulher Percy Boland. O padre (Enrique Jordá) me perguntou se podia ser o padrinho da pequena e aceitei em meu próprio nome, mas também em nome de todos os que estão rezando por Victoria e por aqueles que doam generosamente os seus esforços para defender a vida de todos os nascituros em nosso país. Eu sou, por isso, o padrinho de Victoria! Confesso que, por causa do seu nascimento prematuro, pensei que estaria muito mais quietinha, mas Victoria se mexia bastante – e o movimento é vida; podemos ver a guerra que ela está lutando porque quer viver!”
No dia seguinte ao batismo, Bazán acrescentou que uma tia da jovem mãe tinha se prontificado a assumir os cuidados da bebê.
“Hoje falei com Rosmery, a tia que quer assumir a Victoria. Fiquei feliz em conhecê-la. Ela agradece pelas orações de todos vocês em favor da saúde de Victoria e tem a fé de que ela vai superar essa etapa delicada. Pude ver que ela tem sentimentos muito nobres. Eu me coloquei à disposição para o que ela precisar. Acho que a beleza disso tudo é que a Victoria ganhou o carinho de todos. É incrível ver tantas pessoas querendo ajudar. Tenho certeza de que, quando a Victoria vencer esta etapa, acharemos todos juntos o jeito de garantir que não falte nada a ela, começando pelo amor”.
Ele ainda esclareceu que as ajudas se estenderam à menina-mãe e completou:
“Estamos acompanhando, com todos os meios necessários, a menor que foi vítima de estupro”.