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O Sínodo e os índios

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Antoine Mekary | ALETEIA

Vanderlei de Lima - publicado em 14/10/19

Nada substitui o anúncio do Evangelho

Uma das sérias críticas feitas por Dom José Luís Azcona, bispo emérito de Marajó, na Amazônia brasileira, é o da falta de apoio ao anúncio explícito do Evangelho e o retorno a religiões pré-cristãs presente no Instrumentum Laboris (IL) – Instrumento de trabalho – sinodal (cf. ACI Digital, 20/08/19, online). O tema merece atenção.

De início, digamos que o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo – silenciado no IL – é primordial na Igreja. Nosso Senhor mesmo disse: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). É o famoso mandato missionário que, há 2000 anos, destemidos evangelizadores cumprem em todo o mundo. Dentre eles, destaca-se São Paulo que, impregnado de amor a Deus e aos irmãos, não só pregou, mas exclamou: “Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16). Nada, portanto, substitui o anúncio do Evangelho (cf. Decreto Ad Gentes, 1965).

Todavia, a sonegação do Evangelho aos indígenas por parte de “missionários católicos” não vem de hoje. Já foi denunciada, há 42 anos, no livro Tribalismo indígena: ideal comuno-missionário para o Brasil do século XXI (S. Paulo: Vera Cruz, 1977, 128 p.), de Plinio Corrêa de Oliveira. Em 2002, Dom Amaury Castanho, então Bispo de Jundiaí (SP), também rebatia, em termos fortes, a ideia deturpada de missão entre os índios ao escrever que “alguns clérigos afoitos ousaram afirmar ser desnecessário o anúncio explícito de Jesus Cristo, do seu plano salvífico e de sua missão redentora, de seu primado e senhorio, aos povos e nações indígenas”. E continua: “Esse posicionamento de não poucos ‘missionários’ atuando no Brasil, especialmente na Amazônia, em que os grupos indígenas são mais numerosos, é extremamente preocupante. Sonegar-lhes o Evangelho, omitir-se o anúncio da natureza divina e humana do Filho de Deus que se encarnou irrompendo em nossa história, que revelou o verdadeiro rosto paterno e materno de Deus, reuniu e preparou durante três anos os Doze para darem continuidade à missão salvífica que Deus Pai lhe confiou, negar aos nossos índios, ou a quem quer que seja, o primado de Jesus constituído ‘Senhor’ e único Salvador, Mestre, Caminho, Verdade e Vida, crucificado, morto e ressuscitado, fundador da Igreja em que estará presente até o fim dos tempos (Mt 28,16-20) é, inegavelmente, uma traição ao mandato missionário. Traição, também, ao próprio homem, tão ou mais carente de evangelização que de pão” (Evangelização da cidade: desafios. Jundiaí: Rami, 2002, p. 10).

Mais: há quem não só defenda que o índio permaneça como era nos primórdios, mas deseja exportar seu modelo de vida ao mundo, transformando-o numa grande taba com todas as suas consequências. Ora, isso não corresponde ao anseio inato de cada ser humano por Deus e sua única verdade, conforme disse o Papa Bento XVI, na Abertura do Celam, em Aparecida (SP), no dia 13/05/2007: “o que significou a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles, significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saber, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que esperavam silenciosamente. Significou também ter recebido, com as águas do batismo, a vida divina que fez deles filhos de Deus por adoção; ter recebido, outrossim, o Espírito Santo que veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germes e sementes que o Verbo encarnado tinha lançado nelas, orientando-as assim pelos caminhos do Evangelho. Com efeito, o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em qualquer momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura alheia” (cf. At 17,23-28). Desejar o contrário disso seria fazer o índio regredir, conforme o mesmo Papa: “A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas um regresso. Na realidade, seria uma involução para um momento histórico ancorado no passado”.

Que tais ensinamentos falem alto à nossa mente e ao nosso coração para dizermos sim ao Evangelho, e não às ideologias estranhas a ele.

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