De origem tukuya, um sacerdote salesiano contesta no Sínodo quem afirma que “indígenas não são capazes de compreender o celibato”
Contestando quem afirma que os indígenas não conseguem compreender o celibato sacerdotal, um sacerdote indígena brasileiro, o padre salesiano Justino Sarmento Rezende, membro da etnia tuyuka e participante do Sínodo da Amazônia, declarou enfaticamente que qualquer pessoa, seja ela da cultura que for, tem a capacidade não só de compreender, mas também de viver o celibato.
Diante dos veículos de comunicação credenciados junto à Santa Sé e reunidos nesta quinta-feira, 17, na Sala de Imprensa do Vaticano, o pe. Justino testemunhou:
“Se eu pensasse que o celibato não é para mim, eu deixaria o sacerdócio. Porque, se algum dia de minha vida eu vir que estou sofrendo muito com isso e que já não estou sendo mais testemunho de vida para as pessoas de minha comunidade, de minha Igreja, já não teria nenhum sentido para mim. O celibato não é algo que nasce com a pessoa humana, é algo que se estabelece ao longo da história. Nenhum de nós que estamos aqui, nem eu, nem vocês, estamos preparados para viver o celibato. Por isso, eu já escrevi artigos nos quais falo que o celibato é um dom de Deus. Pessoas de qualquer cultura que existe no mundo podem conseguir viver o celibato a partir do momento em que, livremente, não forçadamente, digam ‘Eu quero assumir este estilo de vida’. Eu digo isso por experiência própria. Minha mãe não me disse ‘Você vai ser sacerdote, viva o celibato’. Pelo contrário, quando entrei no seminário, ela chorou porque queria ter um filho casado para ter a alegria de criar seus netos. Meu avô, que era mestre de grandes cerimônias tuyuka, também me disse: ‘Ser sacerdote não é para nós, os tuyuka. De onde você tirou essa ideia?’. Para nós, também para mim, os únicos capazes de serem sacerdotes eram os brancos, e não nós. Quando os indígenas se tornam sacerdotes, surgem as perguntas ou dúvidas. Dizem: os indígenas têm muita dificuldade para viver o celibato. Sim, eu tenho porque sou uma pessoa normal. [Mesmo assim,] o celibato é uma virtude que pode ser experimentada por qualquer pessoa, homem ou mulher”.