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Dom Orlando, a direita e a Igreja

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Paul Sableman-(CC BY 2.0)

Vanderlei de Lima - publicado em 20/10/19

Ninguém pode, por exemplo, ser, ao mesmo tempo, verdadeiro(a) católico(a) e comunista/socialista, defensor do aborto, da eutanásia, da ideologia de gênero etc

Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida (SP), em sua homilia do dia 12/10 último, solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, comparou ao “dragão, vermelho afogueado” (cf. Ap 12,3 – TEB), o “tradicionalismo”, acrescentando, sem matizes, que “a direita é violenta e injusta”. Daí a pergunta de muitos fiéis: que ensina a Igreja sobre a política no campo partidário (direita/esquerda/centro) e moral?

Diga-se, de início, que a Igreja é Católica, ou seja, universal, aberta a todos, por isso, não pode se partidarizar (achatar sua universalidade em um grupo particular) ou reduzir-se à comunidade política. Dá, portanto, a cada um(a) de seus (suas) filhos (filhas) a liberdade de opiniões legítimas, mas discordantes no campo meramente temporal (cf. Gaudium et Spes, 75-76). O católico pode apoiar partidos de direita, de esquerda ou de centro e formas diversas de governo: presidencialista, parlamentarista e monárquica. No campo moral, porém o mesmo Documento declara ser “de justiça que a Igreja possa dar em qualquer momento e em toda parte o seu juízo moral, mesmo sobre matérias relativas à ordem política, quando assim o exijam os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas, utilizando todos e somente aqueles meios que sejam conformes ao Evangelho e ao bem de todos, segundo a diversidade de tempos e situações” (idem, 76).

Consequência: se o (a) verdadeiro(a) católico(a) é livre – e, de fato, é – para apoiar, no campo temporal, de modos diversos, partidos de direita, de esquerda ou de centro ou, ainda, defender um governo presidencialista, parlamentarista ou monárquico, não o é para fazer, no campo moral (área da Igreja), a escolha de qualquer programa político a seu bel-prazer. Ninguém pode, por exemplo, ser, ao mesmo tempo, verdadeiro(a) católico(a) e comunista/socialista, defensor do aborto, da eutanásia, da ideologia de gênero etc. 

Quanto ao comunismo/socialismo, o Papa Pio XI alertou os católicos dizendo que, embora se apresentem de diferentes formas, nenhuma delas se concilia com a Fé Católica: “O socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como ‘ação’, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça, não pode conciliar-se com a doutrinacatólica, pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade cristã” (Quadragesimo Anno, 15/05/1931; cf. também: Paulo VI, Ecclesiam Suam, 105; João Paulo II, Centesimus Annus, n. 26 etc.). Esse não ao socialismo/comunismo é valido até hoje:“Nunca compartilhei a ideologia marxista porque ela é falsa”, afirma o Papa Francisco (ACI Digital, 05/03/2014).

A respeito dos partidos defensores do aborto, mas a favor de outros direitos humanos ensinou o Papa Bento XVI, em 28/10/2010, que seria “totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até a morte natural (cf. Christifideles laici, 38)” (cf. também: Papa Francisco. “Papa sobre aborto: é um assassinato que não se pode apresentar como direito humano”. ACI Digital, 04/02/2019).

A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé emitiu, por sua vez, com aprovação papal, em 24/11/2002, uma Nota endereçada aos Bispos e, de modo especial, aos políticos católicos e a todos os fiéis leigos chamados a tomar parte na vida pública e política nas sociedades democráticas com o alerta que segue: “a consciência cristã bem formada não permite a ninguém favorecer, com o próprio voto, a atuação de um programa político ou de uma só lei, onde todos os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos” (n. 4). Afinal, quem, consciente e livremente, coopera, por ação ou pela omissão, com o mal, é seu cúmplice e comete pecado (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1868).

Eis porque a Igreja não é (nem poderia ser, pois o campo é temporal) de direita, de esquerda ou de centro e nem opta por este ou aquele sistema de governo, mas recusa, sim, programas políticos partidários ou legislações que afrontam a fé e a moral (cf. Pe. Dr. Luiz Carlos Lodi da Cruz.Eleições 2018 e o método PPP. Pró Vida Anápolis, online, 1º/09/2018). 

A fala de Dom Orlando Brandes, que tanto desgostou católicos, inclusive membros da Campanha dos Devotos, de Aparecida, ao menos serviu de estímulo a este alerta a ser guardado para as eleições municipais/2020.

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