Isso pode estar fazendo com que você pare de alcançar o próprio DeusSempre que pecamos, fazemos isso porque nos convencemos de que nossa escolha é realmente boa – que é uma circunstância especial, que o fim justifica os meios, que merecemos o que buscamos, que esse sentimento vale a pena. Aquilo que buscamos, o fazemos porque achamos bom.
Outro aspecto dessa verdade é que, às vezes, escolhemos bens menores em vez de bens maiores. Aqui não estamos escolhendo algo que é totalmente maligno, mas preferindo algo inferior, ou tratando-o como algo superior. Caímos nesse erro quando valorizamos a criação sobre o Criador, deixando que nossos desejos se instalem nos bens deste mundo, e não no bom Deus que os deu para nós.
Podemos até cometer esse erro em questões de fé. Pegamos partes de nossa religião ou tradição e nos concentramos nelas, erguendo-as diante de nossos olhos e obscurecendo Deus, que deveria ser o nosso tudo.
Santo Tomás de Aquino destaca isso quando fala sobre a relação entre nosso conhecimento de Deus e nosso amor a Deus. O conhecimento leva ao amor. Os dois devem alimentar um ao outro em uma espiral de crescimento em santidade: o conhecimento de Deus aumenta nosso amor por Ele, e nosso amor estimula nosso desejo de conhecê-Lo mais.
Mas, diz o santo erudito, é muito fácil acabarmos decidindo por nosso conhecimento de Deus, e não ao próprio Deus. Como chegamos a conhecer a Deus, não diretamente, mas através da mediação de nossos sentidos e intelecto, podemos acabar sendo atraídos “às vezes pelo amor à coisa vista, às vezes pelo amor do próprio conhecimento que se adquire pela observação”. (ST II-II, q. 180, a.1, c.)
Atraídos pelo desejo de união com o divino e buscando maior conhecimento como um meio para esse fim, paramos antes do próprio Deus. Em vez disso, desenvolvemos um amor pelo estudo de Deus, ou por coisas piedosas, em vez de um amor de Deus em si e por si mesmo.
Em nossa própria época, marcada em grande parte mais pela imagem do que pela busca acadêmica, podemos dizer que isso se traduz em um amor pelos símbolos de Deus – memes e citações nas mídias sociais, ou até estátuas espirituais para adornar nossos lares, ou joias para adornar nossos corpos – do que amor a Deus e uma verdadeira vida espiritual.
Essa tendência é exemplificada por uma piada antiga. Um teólogo morre e se vê diante de São Pedro. São Pedro dá ao teólogo uma escolha: à sua direita estão os portões do Céu, e dentro o teólogo experimentará a Visão Beatífica, vendo Deus face a face. À esquerda, há uma sala de palestras e, dentro do teólogo, haverá uma conferência acadêmica sobre a Visão Beatífica, completada com discurso, duas refutações e um painel de discussão para encerrar.
Sem um momento de hesitação, o teólogo escolhe a sala de palestras.
Encontramos essa tendência em muitas facetas de nossas vidas. Preferimos assistir a um jogo de futebol na TV do que sair para jogar ou ir ao estádio. Preferimos assistir a programas de culinária a arriscar nossas próprias receitas. Preferimos ler uma citação inspiradora de um santo sobre o rosário do que pegar nossas próprias contas e orar.
Devemos resistir à tentação de nos contentar com menos. Devemos seguir o chamado de Deus para entrar em comunhão com Ele por todo o caminho até encontrarmos o próprio Senhor. Se ficarmos tão apaixonados pelo mapa que usamos, nunca chegaremos ao nosso destino, nem seremos de grande ajuda para ajudar os outros. Por todos os meios, leia, estude e cresça no conhecimento e na sabedoria das coisas sagradas. Compre livros dos santos e leia comentários das Escrituras. Mas não pare por aí. Complete o caminho.