A pobreza aumentou a 35,4%; o desemprego, a 10,6%; e a inflação acumula 37,7% de janeiro a setembroA Argentina vai realizar eleições presidenciais neste domingo (27) em meio à pior crise econômica que o país já sofreu desde 2001, quando declarou uma moratória de sua dívida de 100 bilhões de dólares – à época, o maior default da História.
Terceira maior economia da América Latina e integrante do G20, a Argentina recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado e recebeu um empréstimo de 57 bilhões de dólares em troca de um duro plano de austeridade.
A Argentina vai fechar 2019 com um déficit fiscal primário de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), mas a pobreza aumentou a 35,4%; o desemprego, a 10,6%; e a inflação acumula 37,7% de janeiro a setembro.
Veja a seguir uma cronologia da mais recente crise econômica argentina:
– Queda da moeda –
Em um intervalo de 45 dias, entre abril e maio de 2018, o peso argentino perdeu 20% de seu valor, apesar de várias intervenções do Banco Central, que elevou a taxa de juros a 40% ao ano, vendeu reservas internacionais e injetou mais de 10 bilhões de dólares na economia.
– Auxílio do FMI –
Em 20 de junho de 2018, o FMI aprovou um empréstimo de 50 bilhões de dólares para resolver a inflação, o déficit fiscal e a queda da moeda. Em troca, o governo de Mauricio Macri se comprometeu com um severo programa de austeridade.
Dois dias depois, o FMI desembolsou a primeira parcela de 15 bilhões de dólares.
– Greve e manifestações –
Em 25 de junho de 2018, ocorre uma greve geral em recusa ao acordo com o FMI – organismo ao qual os argentinos atribuem suas piores crises.
Entre julho e agosto, as manifestações e protestos em Buenos Aires e em outras cidades se multiplicam.
– Austeridade –
Em 3 de setembro de 2018, Macri anuncia um plano de austeridade que inclui a eliminação de vários ministérios e o restabelecimento dos tributos sobre exportações agrícolas, o setor que gera mais divisas.
Em 25 de setembro, quando as autoridades se encontram em Washington reunidas com os funcionários do FMI, há uma nova greve geral. O presidente do Banco Central, Luis Caputo, renuncia.
– Mais fundos –
Em 26 de setembro, o FMI aceita aumentar o pacote de ajuda a um total de 57 bilhões. O Banco Mundial concede outro empréstimo de 950 milhões de dólares.
A Argentina fecha 2018 com uma inflação de 47,6%, a mais alta desde 1991. O peso perdeu metade de seu valor ao longo do ano.
– Congelamento de preços –
Em 4 de abril de 2019, milhares de pessoas protestam em Buenos Aires contra as medidas de austeridade.
Em 17 de abril, para aliviar o peso da inflação, o governo ordena congelar os preços de alimentos básicos e as tarifas dos serviços públicos, dos quais tinha retirado os subsídios da época do governo de Cristina Kirchner (2007-15).
Em 29 de maio, a quinta greve geral contra o governo Macri paralisa o país.
– Golpe em Macri nas primárias –
Em 11 de agosto de 2019, são realizadas as eleições primárias, nas quais o peronista de centro-esquerda Alberto Fernández recebe 48% dos votos e se torna franco favorito para as eleições presidenciais deste domingo.
Em 14 de agosto, Macri anuncia um aumento no salário mínimo, a redução do imposto sobre vendas (IVA) para alimentos e do imposto de renda, além de congelar o preço dos combustíveis.
Dois dias depois, as agências de classificação de risco Fitch e S&P diminuem o rating da Argentina, devido à incerteza e ao risco de moratória.
Durante a semana, o peso argentino desvaloriza 20%, e a taxa de juros chega a 80% ao ano.
Em 17 de agosto, o ministro das Finanças, Nicolás Dujovne, renuncia.
Em 28 de agosto, a Argentina apresentou ao FMI um reperfilamento que permitiria adiar o vencimento da dívida.
– Emergência alimentar –
Em 1º de setembro de 2019, é estabelecido um controle cambial, que limita a aquisição de divisas para pessoas físicas a 10.000 dólares por mês e restringe as transferências de empresas para o exterior.
Em 19 de setembro, em meio a manifestações de movimentos sociais, o Parlamento aprova uma lei de emergência alimentar que permite aumentar os fundos destinados aos programas de ajuda aos mais desfavorecidos.
(AFP)