Esta linda oração do Papa Pio XI nos mostrará o que é compunção e reparaçãoE se você considerasse o arrependimento como um imposto?
As pessoas veem os impostos assim: “eu realmente prefiro não pagar impostos; eu gostaria de manter toda a riqueza que adquiri. Mas eu sei que haverá uma auditoria e não quero ser pego trapaceando – o que implicará num processo mais doloroso do que pagar impostos -, então vou pagar; mas consultarei especialistas, discutirei e pechincharei, para poder reter o valor máximo da minha riqueza adquirida.”
Uma visão bastante razoável dos impostos; mas uma má visão do arrependimento.
Usando a analogia: “eu realmente prefiro não me arrepender; eu gostaria de manter todo o pecado que adquiri. Mas sei que haverá uma auditoria e não quero ser pego trapaceando – o que implicará num processo mais doloroso do que o arrependimento -, por isso me arrependo; mas consultarei especialistas, discutirei e pechincharei, para poder reter a quantia máxima do meu pecado adquirido.”
Não cresceremos em santidade dessa maneira, e Deus não será enganado. Eu discuti a necessidade do arrependimento como uma conversão de toda a vida (ver aqui). Agora considerarei o “antes” e o “depois” de uma confissão sacramental: “compunção” e “reparação”.
Lembro-me da “Imitação de Cristo”: “preferiria sentir compaixão a conhecer sua definição”.
Teologicamente, compunção é mais do que apenas uma tristeza pelo pecado (e certamente mais do que lamentar ser pego e punido!). É uma tristeza pelo pecado que leva a uma aversão de todo pecado, uma tristeza tão profunda que leva alguém a resolver não pecar mais. Alguém que acorda de ressaca pode dizer: “Basta de bebida alcoólica para mim!”. Alguém com compunção dirá: “desejo nunca mais ofender a Deus!”
É bom que lamentemos por ter feito uma bagunça em nossas vidas, desculpar-se por ter ofendido a Deus – tão arrependidos que resolvemos colocar nossas vidas em ordem de uma vez por todas. Também temos que limpar a bagunça que fizemos, na medida em que estiver ao nosso alcance. Em outras palavras, temos que cuidar da reparação ou fazer as pazes.
O Papa Pio XI, em sua encíclica Miserentissimus Redemptor (Reparação ao Sagrado Coração), escreve:
Se o primeiro e principal da consagração é que ao amor do Criador responda o amor da criatura, segue-se espontaneamente outro dever: o de compensar as injúrias de algum modo inferidas ao Amor incriado, se foi desdenhado com o esquecimento ou ultrajado com a ofensa. A este dever chamamos pelo nome de reparação.
Em um nível prático, podemos ver a reparação como uma maneira de fazer uma restituição. Quando eu era garoto, um descuido meu resultou na quebra de uma janela. Fui ao proprietário e assumi a responsabilidade pelo ato e pedi desculpas por isso.
A restituição exigia que eu pagasse para substituir a janela que tinha quebrado. De fato, o preço da janela estava além da minha capacidade de pagar. O dono da janela então me ensinou uma lição valiosa sobre justiça e misericórdia. Ele me mostrou a conta, para ver quanto custara meu descuido, e depois me pediu para pagar pelo reparo.
Como fazemos reparação quando ofendemos a Deus? O que podemos fazer quando vemos que nosso pecado é uma ofensa ao Amor Infinito? Devemos, em termos de justiça e amor, fazer o que pudermos. O Papa Pio XI nos deixa com esta bela oração ou reparação:
E agora, como reparação à violação da honra divina, oferecemos a Ti, acompanhando-a com as expiações de Tua Virgem Mãe, de todos os santos e dos fieis piedosos, aquela satisfação que Tu mesmo ofereceste um dia na cruz ao Pai, e que Tu renovas todos os dias nos altares. Prometemos de nosso coração que tudo faremos, com a ajuda de Tua graça, para reparar os pecados cometidos por nós e pelos outros: a indiferença a tão grande amor com a firmeza da fé, a inocência da vida, a observância perfeita da lei evangélica, especialmente da caridade, e impedir também, com todas as nossas forças, as injúrias contra Ti, e atrair para o Teu seguimento a quantos possamos.