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O Papa Francisco e o capitalismo

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Vanderlei de Lima - publicado em 25/11/19

A Doutrina Social da Igreja ensina que o comunismo – em qualquer modalidade ou matiz que se apresente é sempre mau em si mesmo

Em 11 de novembro último, o Papa Francisco recebeu os membros do Conselho para um Capitalismo Inclusivo, iniciativa do Fórum Global Fortune, e teceu elogios a esse tipo de capitalismo. Daí a questão que desejamos responder: que pensar a respeito?

Logo de início, devemos deixar clara a posição da Doutrina Social da Igreja, que é um conjunto de verdades deduzidas da Lei Natural moral, conhecida também pela razão, e da Revelação divina, objeto da fé, para ajudar na construção de um mundo segundo os desígnios de Deus. É claro que com isso a Igreja “não propõe sistemas ou programas econômicos e políticos, nem manifesta preferências por uns ou por outros, contanto que a dignidade do homem seja devidamente respeitada e promovida e a ela própria [à Igreja – nota nossa] seja deixado o espaço necessário para desempenhar o seu ministério no mundo” (João Paulo II. Sollicitudo rei socialis, 1987, n. 41).

Ora, a Doutrina Social da Igreja ensina, em suma, que o comunismo – em qualquer modalidade ou matiz que se apresente (cf. Pio XI. Quadragesimo anno, 1931, n. 111-125) – é sempre mau em si mesmo, “intrinsecamente perverso” (Pio XI. Divini redemptoris, 1937, n. 58). O capitalismo, ao contrário do comunismo, “de per si não é condenável. E, realmente, de sua natureza não é viciosa. Só, então, viola a reta ordem, quando o capital escraviza aos operários ou à classe proletária com o fim e condição de que os negócios e todo o andamento econômico estejam nas suas mãos e revertam em sua vantagem, desprezando a dignidade humana dos operários, a função social da economia e a própria justiça social e o bem comum” (Pio XI. Quadragesimo anno, n. 101).

Daí a fala do Santo Padre não tratar, sem mais, de qualquer capitalismo, mas apenas do inclusivo. Eis trechos de seu pronunciamento que despertaram atenção: “Um capitalismo inclusivo, que não deixa ninguém para trás, que não descarta nenhum dos nossos irmãos e irmãs, é uma nobre aspiração, digna de seus melhores esforços”. Mais: “É necessário e urgente um sistema econômico justo, confiável e capaz de responder aos desafios mais radicais que a humanidade e o planeta estão enfrentando. Encorajo vocês a perseverarem no caminho da solidariedade generosa e a trabalharem para que as economias e as finanças retomem uma abordagem ética favorável aos seres humanos” […] “Queridos amigos, vocês estabeleceram o objetivo de estender as oportunidades e os benefícios do nosso sistema econômico a todos. O seu esforço nos lembra que as pessoas que se dedicam à vida econômica e comercial são chamadas a servir ao bem comum, tentando aumentar os bens deste mundo e torná-los mais acessíveis a todos”.

Repitamos: a Igreja não se opõe ao capitalismo em si, mas, sim, aos seus abusos, conforme expressou São João Paulo II ao jornal La Stampa e que o L’Osservatore Romano reproduziu, na íntegra, em sua edição de 14/11/1993, do seguinte modo: “De um lado, temos o comunismo, uma utopia que, posta em prática, se demonstrou tragicamente desastrosa. De outro lado, há o capitalismo que, na sua dimensão prática, ao nível dos seus princípios basilares, seria aceitável sob o ponto de vista da Doutrina Social da Igreja, estando, sob vários aspectos, conforme à lei natural. É a tese já expressa por Leão XIII. Infelizmente, surgem abusos – várias formas de injustiça, de exploração, de violência e de prepotência – que alguns fazem dessa prática, em si aceitável, e então chegamos às formas de um capitalismo selvagem. São os abusos do capitalismo que devem ser condenados” (Pe. Paschoal Rangel, SDN. Teologia de jornal: uma interpretação teológica dos fatos. Belo Horizonte: O Lutador, 1996, p. 122).

Em conclusão, perguntado se o capitalismo seria modelo aos países pobres, João Paulo II, fazendo eco à doutrina da Igreja, respondeu que, se tal sistema “reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade sobre os meios de produção, da livre criatividade humana no setor da economia, a resposta é certamente positiva” (idem, p. 118).

Queiramos, pois, refletir sobre as palavras do Papa Francisco a respeito do “capitalismo inclusivo”, aceito, sem maiores hesitações, pela Igreja!

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