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Dívida verde, da vontade política ao turbilhão dos mercados

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Agências de Notícias - publicado em 28/11/19
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O apetite pelo verde é tamanho que “as condições para o prestatário são no mínimo tão competitivas como em uma operação clássica”

Fonte importante de financiamento dos projetos ambientais, a dívida “verde” nasce de uma vontade política ou estratégica forte e é objeto de cuidado especial antes da etapa crucial do encontro com o mercado.

Como funciona a dívida verde?

“Um bônus é um reconhecimento da dívida, negociável no mercado de dívida, ao contrário de um crédito, que envolve apenas o mutuário e seu banco”, lembra Frédéric Gabizon, diretor do mercado de bônus do HSBC France.

Um bônus verde, seja emitido por um Estado, uma organização internacional ou uma empresa, tem duas características adicionais: só pode financiar investimentos verdes e é avaliado a posteriori.

Atualmente, a dívida verde representa 660 bilhões de dólares, ou seja, menos 1% do mercado global da dívida, afirma Stéphane Marciel, diretor de bônus sustentáveis do Société Générale CIB.

Vontade política ou estratégica

Emitir um empréstimo verde é uma opção política ou estratégica importante, o que torna a comunicação sobre o projeto muito relevante.

“É uma vontade que vem de cima e que depois é aplicada pelas equipes técnicas”, resume Julien Brune, codiretor do serviço de assessoria e estruturação de dívida na SG CIB.

Os pioneiros

Os primeiros empréstimos verdes foram concedidos em 2008 pelo Banco Mundial e o Banco Europeu de Investimentos.

No caso dos Estados, a emissão pela França de 7 bilhões de euros em janeiro de 2017 serve de padrão por seu valor, suas características técnicas e o compromisso de elaborar um relatório sobre o impacto.

“Nosso objetivo era demonstrar que os mercados de capitais poderiam ajudar os Estados a financiar a transição energética. A operação foi bem recebida pelos mercados e outros países nos seguiram”, disse Anthony Requin, diretor-geral da Agência France Trésor (AFT).

Um trabalho de poda

Uma vez tomada a decisão “entramos em cena para reconciliar a utopia no sentido primário do termo e o real”, explica Requin.

“Reunimos os ministérios e as administrações competentes para rastrear os gastos do orçamento do Estado e identificar os que poderiam ser classificados indiscutivelmente como verdes”, completa.

Um crédito fiscal para o isolamento de residências ou financiamentos para preservar a biodiversidade estavam entre os gastos previstos.

“Hoje, quase 75% dos bônus verdes financiam projetos de energia, a construção e o transporte com reduzido nível de carbone”, indica Noémie de la Gorce, analista de Finanças Sustentáveis da S&P Global Ratings.

“Roadshows”

Os Estados e as empresas constroem tecnicamente a operação com a ajuda de um banco.

Não existe uma regulamentação internacional para a dívida ecológica, mas foram elaborados princípios fundamentais com a mediação da Associação Internacional de Mercados de Capital (ICMA).

Uma prática cada vez mais utilizada é recorrer a um órgão independente para uma revisão externa.

Quando a operação está pronta é necessário convencer os investidores em “roadshows”.

O grande teste dos mercados

No dia D da emissão no mercado, o mutuário, auxiliado por vários bancos, abre uma “carteira de pedidos” na qual os investidores registram o que desejam comprar, antes que as condições finais sejam estabelecidas e os valores dos títulos sejam distribuídos.

O apetite pelo verde é tamanho que “as condições para o prestatário são no mínimo tão competitivas como em uma operação clássica”, destaca Brune.

Teste de realidade

O mutuário publicará um relatório sobre o uso dos fundos, geralmente no ano seguinte à operação.

Preocupada em dar um passo além, segundo Requin, a França decidiu acrescentar um relatório de impacto elaborado com um conselho de nove especialistas internacionais.

De acordo com um estudo publicado em novembro de 2018, a dívida ecológica emitida pela França, que representa atualmente mais de 20 bilhões de euros, permitiu a renovação energética de 75.000 casas por ano em 2015 e 2016.

(AFP)

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