Quem era esse povo considerado “impuro” e como esse termo passou a significar pessoas boas e caridosas graças à parábola de JesusUm dos trechos mais célebres da Sagrada Escritura é também uma das mais belas passagens de toda a história da literatura universal: a parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus:
“Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, espancaram-no e foram embora, deixando-o meio morto. Por acaso descia por aquele caminho um sacerdote, mas ao ver o homem, passou longe. Assim também um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante pelo outro lado. Um samaritano, porém, que estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas azeite e vinho. Depois, colocou-o sobre seu próprio animal e o levou a uma hospedaria, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou dois denários e deu-os ao dono da hospedaria, recomendando: ‘Cuida dele, e o que gastares a mais, eu o pagarei quando eu voltar’. No teu parecer, qual dos três fez-se o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? Ele respondeu: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’. Então Jesus lhe disse: ‘Vai e faze o mesmo'” (Lc 10,25-37).
Além desta parábola, Jesus também teve uma conversa pessoal com a mulher samaritana, em outra memorável passagem do Evangelho, junto ao poço de Jacó, em Sicar (cf. João 4). Essa passagem afirma expressamente que “os judeus não se comunicam com os samaritanos”. Jesus, mesmo assim, lhe pede água. A conversa evolui para um diálogo espiritual em que Jesus lhe fala de conversão e vida eterna.
O que quer dizer “samaritano”
O termo “samaritano” se refere às pessoas da antiga região da Samaria, bem como à língua falada por elas.
A província da Samaria, mencionada várias vezes no Novo Testamento, se situava historicamente no alto de um monte entre a Judeia e a Galileia e hoje faz parte dos territórios palestinos, entre Israel e a Cisjordânia. Cerca de 700 samaritanos vivem em Holon, Israel, e em Nablus, na Cisjordânia.
O povo samaritano não se considera judeu, mas descendente dos antigos israelitas que habitaram a histórica província da Samaria. Os samaritanos eram considerados impuros pelos judeus – daí o impacto da parábola de Jesus, que destaca justamente a misericórdia e a caridade de alguém que era mal visto pelos judeus, ao passo que judeus considerados “de bem” passaram ao largo do homem ferido na estrada, sem lhe prestar auxílio.
É por isso que, em sentido figurado, o termo “samaritano” passou a ser usado em referência a pessoas caridosas, que se preocupam com os outros e os ajudam de fato.
O povo samaritano tem a sua própria doutrina religiosa, conhecida como samaritanismo: da Bíblia judaica, eles seguem apenas o Pentateuco. Embora hoje falem hebraico e árabe, os samaritanos resgatam nos seus cultos religiosos o antigo dialeto dos seus ascendentes, aparentado com os antigos hebraico e aramaico.