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Chile diante da incerteza de 45 dias de uma crise social sem trégua

CURICO
Agências de Notícias - publicado em 08/12/19

Para o economista Ricardo Ffrench-Davis, o Chile não deve esperar que nova Constituição para resolver demandas e emergências imediatas

Há 45 dias, explodiu a pior crise social vivida pelo Chile em três décadas. Marchas multitudinárias e uma violência carregada de ódio nas ruas se transformaram em uma queda de braço para o poder político. A reação do governo até o momento é considerada insuficiente pela população.

Neste domingo, as manifestações aconteceram perto da residência do presidente Sebastián Piñera, que completa 70 anos hoje. Dezenas de manifestantes expressaram sua rejeição ao chefe de Estado de direita diante de um forte dispositivo de segurança.

Milhares de ciclistas com bandeiras chilenas aderiram às mobilizações, que devem chegar ao palácio presidencial de La Moneda no final do dia para reivindicar “mudanças reais, não um paracetamol”, segundo mensagens divulgadas nas redes sociais.

As redes são o canal condutor de um movimento sem liderança política visível que grita seu ceticismo em relação às instituições.

Na última semana, as feministas ocuparam as manchetes em vários países do mundo com seu lema: “O Estado opressor é um macho estuprador”.

Após os episódios de violência de 18 de outubro, Piñera decretou o estado de emergência e ordenou a mobilização dos militares por alguns dias.

Mas, após seis semanas de protestos contra a desigualdade social, o Chile registra 23 mortos – cinco nas mãos das forças do Estado – e milhares de feridos, quase 300 com ferimentos nos olhos.

As forças de segurança são investigadas por mais de 2.000 casos de violações dos direitos humanos, informou o Ministério Público.

Pressionado pelo movimento “Chile Despertou”, que recebe o apoio de mais de 65% da população, segundo pesquisa da Cadem, Piñera mudou seu cronograma de governo numa tentativa de responder às reivindicações.

– Gestos políticos –

O presidente anunciou uma agenda social com um pequeno aumento do salário mínimo, entre outros pontos, e depois aderiu a um pacto histórico para redigir uma nova Constituição em substituição da herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Um total de 85% dos chilenos concorda com a formulação de uma nova Constituição, de acordo com uma pesquisa publicada pela Cadem.

No entanto, os gestos políticos e as esperanças de uma nova Carta Magna são ofuscados pela violência.

O advogado constitucionalista Jaime Bassa disse à AFP que “apesar de sua natureza histórica, o acordo para a nova Constituição trata apenas de uma das quatro dimensões da atual crise política e social”.

“Ficam pendentes a agenda social, de ordem pública e dos direitos humanos. Não é plausível pensar que uma nova Constituição é uma solução completa e final”, comentou Bassa, professor da Universidade de Valparaíso.

A menos de um mês para o Natal, as principais cidades do Chile têm sofrido com os saques, pichações, destruição, shopping centers que fecham cedo e ruas comerciais com vitrines cobertas por causa do vandalismo.

Quem é mais violento, o encapuzado que saqueia e agride a polícia ou o Estado que reprime as demandas sociais legítimas? O debate polariza cada vez mais uma sociedade que emergiu há 30 anos de uma ditadura que deixou mais de 3.000 mortos ou desaparecidos entre 1973 e 1990.

Paralelamente, o mercado financeiro e o peso caem e as expectativas de crescimento afundam.

Para o economista Ricardo Ffrench-Davis, o Chile não deve esperar que nova Constituição para resolver demandas e emergências imediatas e, por isso, propõe usar o dinheiro de um Fundo Soberano.

“A paz social é essencial para o país crescer”, disse o acadêmico da Universidade do Chile.

(AFP)

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