“Como te chamas? – Nicolau, servo de vossa santidade”
São Nicolau nasceu em Patras, filho de pais santos e ricos. Seu pai, Epifânio, e sua mãe, Joana, o geraram na primeira flor da juventude e viveram desde então em continência, levando vida celibatária.
Contam que, no primeiro dia em que lhe deram banho, ele se pôs em pé na bacia e que, às quartas e sextas-feiras, mamava apenas uma vez. Ao chegar à juventude, evitava as lascívias dos demais jovens preferindo entrar nas igrejas e decorar o que lá ouvia sobre as Sagradas Escrituras. Quando seus pais morreram, começou a pensar em como gastar sua vultosa herança, mas não visando louvores humanos, e sim a glória de Deus.
Foi nesse tempo que certo vizinho seu, de nobre família, mas então falido, chegou a pensar em prostituir as próprias filhas virgens, que eram três, para se sustentar com seu infame comércio. Ao sabê-lo, o santo homem se horrorizou e, às escondidas, lançou para dentro de uma janela da casa vizinha uma quantia em ouro enrolada num pano. Quando o vizinho, pela manhã, achou aquele tesouro, deu graças a Deus e celebrou o casamento da filha mais velha. Não muito depois, o servo de Deus realizou nova obra semelhante àquela: o vizinho, voltando a encontrar o ouro e dando a Deus muitas graças, resolveu descobrir quem o socorria. Passados alguns dias, Nicolau lançou o dobro de ouro à casa do vizinho, que, despertando por causa do barulho, o seguiu gritando: “Não fujas, nem escondas de mim o teu rosto”.
Alcançando Nicolau, reconheceu o vizinho, prostrou-se a seus pés e tentou beijá-los, mas o bom homem o impediu e ainda lhe exigiu que jamais divulgasse aquele fato.
Quando morreu o bispo de Mira, os demais bispos foram nomear seu substituto. Um deles, de grande autoridade, após aconselhar a todos que jejuassem e orassem, ouviu à noite uma voz que lhe ordenava observar de manhã cedo as portas da igreja, de modo que, ao ver chegar o primeiro homem de nome Nicolau, olhasse bem para ele a fim de consagrá-lo bispo. Assim relatou aos outros, aconselhando-lhes persistir em oração enquanto ele observava as portas da igreja, e muito se admirou quando viu, àquela hora matinal, que o homem enviado por Deus antes de todos os outros era Nicolau. Ele então indagou:
‒ Como te chamas?
Com a simplicidade das pombas, Nicolau respondeu de cabeça inclinada:
‒ Nicolau, servo de vossa santidade.
Eles o levaram para a igreja e, não obstante a sua oposição, o colocaram na cátedra episcopal.
Nicolau, no entanto, mantinha a mesma singeleza e seriedade da sua conduta de sempre, passando as noites em oração e mortificando o corpo, humilde com todos os que recebia, eficaz no falar, entusiasta no exortar e severo no corrigir.
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A partir da “Legenda Aurea”, do Beato Jacques de Voragine