A Venezuela sofre com uma inflação que o FMI projetou em 200.000% em 2019 e já soma seis anos de recessão
O líder opositor Juan Guaidó vai tentar a reeleição neste domingo como chefe do Parlamento – cargo do qual reclamou a presidência interina da Venezuela, com reconhecimento de cerca de 50 países.
Um ano depois de sua ovacionada autoproclamção, em meio a tensões e divisões entre os opositores, 2020 promete ser um ano de dificuldades em sua ofensiva contra Nicolás Maduro, preveem analistas.
“Temos muito mais votos do que os necessários”, garante Guaidó.
Quais são os cenários trazidos pelo ano novo?
– Ratificação –
O principal cenário é a reeleição de Guaidó para a Assembleia Nacional – controlada pela oposição – aponta Luis Vicente León, diretor do centro de pesquisas Datanálisis.
Embora sua popularidade esteja em queda, analistas do Diálogo Interamericano consultados pela AFP consideram praticamente certa sua continuidade.
“Os elementos centrais” vão se manter, avalia Peter Hakim. “Suponho que Maduro vai conservar o controle do governo com apoio dos militares, e Guaidó liderará uma oposição que continuará dividida”, afirma.
A oposição controla dois terços dos 167 assentos do Parlamento, mas cerca de 30 legisladores opositores se exilaram ou refugiaram em sedes diplomáticas após processos judiciais.
Guaidó precisa apenas da maioria simples: 84 votos.
– Eleições… legislativas –
Guaidó exige eleições presidenciais sem Maduro – que o Congresso declarou “usurpador”, acusando-o de ter sido reeleito de forma fraudulenta em 2018. O chavismo descarta isso.
São esperadas eleições para o Parlamento no último ano da atual legislatura. “Vamos recuperar a Assembleia Nacional”, disse Maduro em entrevista.
As votações seriam convocadas pela governista Assembleia Constituinte, que a oposição considera “ilegítima”, mas ainda não há datas.
A convocação deste pleito “parece inevitável”, afirma León, e ela deve trazer “fraturas na oposição” e “abstenções”.
Os maiores partidos opositores boicotaram as presidenciais de 2018.
– Mobilização –
Uma carta que Guaidó tinha na manga eram as enormes manifestações contrárias ao governo do começo de 2019, mas a força de suas convocatórias declinou.
“A capacidade de organizar protestos enormes” continua “limitada”, avalia Hakim.
A Venezuela sofre com uma inflação que o FMI projetou em 200.000% em 2019 e já soma seis anos de recessão.
Contudo, embora ache que é apenas “uma bolha”, Michael Shifter destaca que a desaceleração da inflação e o recuo da escassez de alimentos nos últimos meses poderiam “ajudar Maduro”.
– Fator Trump –
A posição dos Estados Unidos em relação à Venezuela é, para Hakim, “uma incógnita em 2020, com Donald Trump enfrentando um processo de impeachment em plena campanha eleitoral.
Washington foi o maior aliado de Guaidó, impondo sanções financeiras contra a Venezuela, que não provocaram um abalo forte o suficiente para derrubar Maduro.
“Trump se afastará do que acabou sendo um resultado decepcionante (…) ou vai manter e intensificar as sanções?”, questiona Hakim.
(AFP)