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Bento XVI não é coautor de livro sobre celibato que gerou polêmica

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ALBERTO PIZZOLI / AFP

Ary Waldir Ramos Díaz - publicado em 14/01/20

Papa Emérito assina um dos textos da obra, mas esclarecimentos divulgados hoje informam que o livro não foi escrito a "quatro mãos" com o cardeal Sarah

O cardeal Robert Sarah afirmou no Twitter que decidiu manter apenas o seu nome como autor do livro sobre celibato que será publicado nesta quarta-feira, 15 de janeiro, na França.

“Considerando as controvérsias causadas pela publicação do livro (…), decide-se que o autor do livro será para futuras publicações: cardeal Sarah, com a contribuição de Bento XVI. No entanto, o texto completo permanece inalterado”, manifestou-se o cardeal Sarah via Twitter.

Bento XVI, 92 anos, não teria revisado nem formalizado sua autorização para a publicação final do livro junto com o cardeal ganense de 74 anos.

O cardeal Sarah postou no Twitter algumas cartas da troca epistolar com Bento XVI e uma declaração para se defender: “Perdoo sinceramente todos aqueles que me caluniam”.

O prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos considera as cartas uma prova de que, segundo ele, Bento XVI o autorizou a construir o livro.

“Afirmo solenemente que Bento XVI sabia que nosso projeto assumiria a forma de um livro. Posso dizer que trocamos vários rascunhos para estabelecer as correções”, afirmou o cardeal Sarah.




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Esclarecimento de Bento XVI sobre a autoria do livro

O arcebispo Georg Gänswein, secretário particular de Bento XVI, disse hoje que, a pedido do Papa emérito, ligou para o cardeal Robert Sarah e solicitou que ele entrasse em contato com os editores para remover o nome de Bento XVI como coautor do livro e para retirar a sua assinatura da introdução e das conclusões.

“O Papa emérito, de fato, sabia que o cardeal estava preparando um livro, e tinha enviado um pequeno texto seu sobre o sacerdócio, autorizando-o a usá-lo como o desejasse. Mas ele não tinha aprovado nenhum projeto para um livro assinado conjuntamente nem tinha visto e autorizado a capa. Foi um mal-entendido, sem questionar a boa fé do cardeal Sarah”, disse Gänswein ao Vatican News.

O Papa emérito escreveu o texto sobre o sacerdócio no segundo semestre de 2019, de acordo com o arcebispo Gänswein. Ele também sabia que o texto deveria aparecer em um livro, mas não foi informado sobre os detalhes da formatação da obra, disse Gänswein.

Defesa do cardeal Sarah

Por sua parte, o cardeal Sarah publicou uma declaração oficial na terça-feira, 14 de janeiro de 2020, na qual ele apresenta sua versão dos fatos. Ele diz que explicou a Bento XVI que “nosso livro” seria impresso durante as férias de Natal e chegaria às livrarias em 15 de janeiro.

Em 5 de setembro, ele disse, visitou o mosteiro Mater Ecclesiae, onde mora Bento XVI, pedindo que ele escrevesse um texto sobre o sacerdócio católico, com especial atenção ao celibato.

“A controvérsia que por várias horas tenta me sujar ao insinuar que Bento XVI não foi informado da publicação do livro Des profondeurs de nos coeurs (ed. Fayard) é profanamente contraditória”, diz o cardeal.

“Perdoo sinceramente todos aqueles que me caluniam ou que querem me opor ao Papa Francisco. Meu afeto a Bento XVI permanece intacto e minha obediência filial ao Papa Francisco é absoluta”, lê-se em sua declaração de hoje.

Cartas de Bento XVI

No entanto, nas cartas publicadas pelo próprio cardeal Sarah, via Twitter, Bento XVI afirma que não tem condições de trabalhar numa publicação teológica.

O cardeal Sarah publicou três cartas de Bento XVI, datadas de 20 de setembro, 12 de outubro e 25 de novembro de 2019.

Na primeira, lemos sobre o “pedido inesperado” do cardeal Sarah ao Papa emérito de “um texto sobre o sacerdócio, com especial atenção ao celibato”. Ali Bento XVI diz que tem escrita alguma reflexão sobre o sacerdócio, mas enfatiza que não tem condições de escrever um texto teológico.

Na carta de 12 de outubro, Bento XVI afirma que terminou o texto de reflexão sobre o sacerdócio, e que o enviaria ao cardeal depois que fosse traduzido do alemão para o italiano.

Na última carta, de novembro, Bento XVI agradece o cardeal Sarah pela elaboração do texto completo a partir de umas poucas páginas que o Papa emérito lhe havia enviado.

A troca epistolar não esclarece um ponto

O Papa emérito afirma que o texto pode ser publicado da forma que o cardeal Sarah decidir. No entanto, as cartas não expressam onde, quando, como, nem o quê será publicado.

De fato, a referência ao texto em questão não significa autorizar a publicação de um livro em coautoria. Também não há uma autorização do Papa emérito Bento XVI para que seu nome apareça como coautor do livro.

Inclusive em outras ocasiões, o papa alemão assinou reflexões com seu nome de batismo – Joseph Ratzinger, não como Bento XVI – , precisamente para distinguir entre seus pensamentos pessoais e as publicações magisteriais.

Dom Gänswein, secretário particular do Papa emérito, esclareceu que Bento XVI não assinou nenhum tipo de contrato com a editora Fayard, o que teria sido necessário caso ele decidisse figurar como coautor do livro.

Vaticano

A Sala de Imprensa do Vaticano considerou o livro sobre o celibato como uma contribuição do cardeal Sarah e de Bento XVI em “obediência filial ao Papa”, de acordo com editorial assinado por Andrea Tornielli e publicado no Vatican News em 13 de janeiro de 2020.

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