O plebiscito que decidirá se haverá mudanças na Constituição – herdada da ditadura de Pinochet – está previsto para o próximo 26 de abril
O Chile, que há três meses vive a maior crise democrática dos últimos 30 anos, continua com os ânimos alternando entre violência, angústia e esperança. O atual estado do país reflete a insatisfação social com o modelo econômico vigente, que ignorou o seu bem-estar social.
Desde que a crise começou, nenhum político abraçou a causa defendida nas ruas de Santiago. Os manifestantes, por sua vez, continuam fazendo convocações de protestos nas ruas por meio das redes sociais, e as sextas-feiras já se tornaram dias clássicos para concentração e protestos nos arredores da Praça Itália.
Conforme o habitual, sob o sol quente do verão, mais de mil pessoas se concentraram nesta sexta-feira (17) na Praza Itália, epicentro das manifestações em Santiago. O local foi rebatizado como “Praça Dignidade” pelos manifestantes.
Enquanto alguns se reuniam no local símbolo dos protestos, outro grupo enfrentava a polícia em ruas próximas, um dia antes de que se completem oficialmente os três meses do início da crise, em 18 de outubro.
O presidente Sebastián Piñera, um empresário milionário de 70 anos, que cumprirá metade do seu mandato em março, é o pior presidente avaliado nos últimos 30 anos, com apenas 6% de aprovação.
A confiança em relação aos Carabineiros de Chile, a polícia admirada por 57% da população em 2015, hoje é uma das instituições mais desprestigiadas, com apenas 17% aprovação.
“Essa institucionalidade do Chile é tão rígida, tão sólida em sua estrutura, que tem problemas para lidar com o terremoto social que existe hoje”, ressalta Matías Fernández, professor de sociologia da Universidade Católica do Chile, à AFP.
Desde 18 de outubro, a convulsão social registrou 29 mortes, milhares de feridos e mais de 350 foram feridos gravemente nos olhos por material explosivo lançado pela polícia durante os protestos.
“Não sei como vamos sair dessa situação, espero que de uma forma positiva para todos os chilenos”, disse à AFP a arquiteta Cecilia Vergara, de 40 anos, que costuma participar das manifestações.
O plebiscito que decidirá se haverá mudanças na Constituição – herdada da ditadura de Pinochet – está previsto para o próximo 26 de abril.
Em resposta ao momento de tensão pelo qual passa o país, Piñera afirmou na última quinta-feira (16) compreender que “os chilenos não estejam felizes com o que tem acontecido”. “Eu também não estou”, ressaltou o presidente, acrescentando que está disposto “a colocar as mãos à obra para ajudar os chilenos e resolver seus inúmeros problemas”.