Espera-se que Brasil cresça 2,2% este ano, e 2,3% no ano que vem, após uma alta das estimativas
O Brasil deve crescer mais nos próximos anos, enquanto a América Latina vai tirar o pé do acelerador, em um contexto de melhora nas relações comerciais entre China e Estados Unidos, que reduziu as incertezas globais – declarou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta segunda-feira (20).
Apesar da atenuação dos riscos econômicos globais, o FMI alertou que os resultados econômicos “dependem em grande medida de evitar uma nova escalada” das tensões comerciais entre Washington e Pequim.
Na atualização de seu informe econômico mundial de outubro (WEO), o FMI reduziu em um décimo, a 3,3%, sua expectativa de crescimento para este ano. Em 2021, esta redução foi um pouco maior, a 3,4%.
A maior responsável pela revisão para baixo é a Índia, explicou o Fundo.
“Depois de uma desaceleração sincronizada em 2019, esperamos uma recuperação moderada do crescimento mundial neste ano e no próximo”, disse a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, em uma entrevista coletiva em Davos, na véspera do início da 50ª edição do Fórum Econômico Mundial, na estação de esqui suíça.
Já a América Latina continuará com crescimento baixo, e as projeções foram reduzidas para 1,6% em 2020, e 2,3% em 2021 – abaixo da média mundial.
O Brasil, contudo, melhorou. Espera-se que o país cresça 2,2% este ano, e 2,3% no ano que vem, após uma alta das estimativas.
A entidade explicou a revisão em alta de 0,2 ponto em 2020 na maior economia da região com “uma melhora na confiança após a aprovação da reforma da Previdência e menos interrupções do fornecimento no setor de mineração”.
O FMI reduziu o prognóstico regional, devido a uma queda na previsão de crescimento do México em 2020 e em 2021 e ao desempenho ruim do Chile. Este último foi atribuído à crise social iniciada em outubro, em uma onda de protestos contra a desigualdade.
“Esta revisão se deve a um corte nas perspectivas de crescimento para o México entre 2020-2021, devido, entre outras coisas, ao investimento persistentemente fraco, bem como a uma revisão descendente considerável para o Chile, afetado pela agitação social”, explicou o Fundo.
A ONG Oxfam publicou um relatório nesta segunda-feira em que revelou que há uma crescente concentração de riqueza e que, segundo seus cálculos, 2.153 milionários no mundo possuem mais de 60% do total da população mundial.
“As desigualdades indecentes estão no centro de fraturas e conflitos sociais em todo mundo”, afirmou Pauline Leclère, porta-voz da Oxfam France, em comunicado.
– EUA e China –
No mundo, a relação entre China e Estados Unidos, as maiores economias globais, continua abalada por “disputas não resolvidas” que mantêm o risco de problemas em potencial.
“O risco de um prolongamento de um crescimento global lento continua tangível, apesar de sinais de tentativas de estabilização”, diz o relatório.
“Erros de política nesse estágio podem enfraquecer ainda mais a própria economia global”, alertou o Fundo.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na semana passada um acordo com a China que atenua o conflito comercial entre as duas potências. As tarifas sobre dois terços dos produtos importados da China continuam, porém, em vigor.
A trégua levou a uma melhoria do prognóstico de crescimento do PIB da China a 6% em 2020, com uma leve queda a 5,8% no ano seguinte. A economia chinesa já estava, contudo, em desaceleração.
Para os EUA, o FMI recortou em apenas um décimo, a 2%, sua expectativa de crescimento neste ano, e para 2021 espera 1,7%.
Desde 2018, Washington e Pequim aplicaram tarifas recíprocas sobre centenas de bilhões de dólares.
Na análise anterior, o FMI havia estimado que conflitos e tarifas comerciais reduziriam o crescimento mundial em 0,8 ponto. Dois terços desse dano correspondem a despesas e investimentos interrompidos, devido à incerteza comercial, segundo o Fundo.
Se as tensões reaparecerem, ou se Trump se envolver em disputas comerciais com a Europa, ou ainda se a tensão entre Estados Unidos e Irã aumentar, o comércio e o setor industrial serão prejudicados, e o crescimento global será menor do que o previsto, disse o Fundo.
– Desaceleração na Índia –
As perspectivas econômicas melhoraram um pouco para a União Europeia e a Grã-Bretanha, com a clareza maior nas perspectivas para o Brexit.
Em relação ao relatório de outubro, o FMI cortou novamente a previsão de crescimento esperado para a Índia em 1,2 ponto este ano, e 0,9 ponto em 2021, em função de uma queda maior do que o esperado na demanda doméstica, assim como de pressões crescentes no sistema financeiro indiano.
Embora a expansão permaneça relativamente robusta (5,8% em 2020, e 6,5% em 2021), não é suficiente para reduzir a pobreza nessa economia, avaliou o FMI.
Georgieva aconselhou os países a “continuarem fazendo as coisas que funcionam”, como políticas monetárias expansivas e a se concentrar no que pode “estimular o crescimento”.
Em sua apresentação, ela também enfatizou que as iniciativas destinadas a criar resiliência aos riscos que pairam sobre o sistema financeiro, mas também aos riscos climáticos, devem ser reforçadas.
(AFP)