Não posso curar todas as feridas, mas posso esperar com um silêncio respeitosoO mundo, a vida, os acontecimentos; tudo me desafia. Hoje em dia ouço muito esta pergunta: quais são meus desafios? Eu ouço e fico em silêncio.
Costumo me acomodar, não pensar muito, para não precisar exigir muito. Mas a pergunta ressoa fortemente através de outras questões semelhantes:
- Como encontro Deus em tudo que acontece ao meu redor?
- Onde Você está falando comigo no mundo, na minha família, no meu ambiente?
- Aonde eu devo ir?
- Que necessidades eu vejo? Quais feridas causam sofrimento a tanta gente?
- O que me surpreende quando vejo todos ao meu redor exigindo que eu lhes dê minha vida?
- Onde ouço a voz sutil de Deus gritando em minha alma?
Deus fala comigo, exige de mim, me desafia. E eu costumo ficar em silêncio, quieto.
No mundo de hoje, tudo é um grande desafio. Amar bem quem me ama. Respeitar quem não pensa como eu. Construir pontes em vez de construir muros que se separam.
Mostrar a misericórdia de Deus com um rosto humano deixando a condenação de lado. Tornar credível que a fidelidade eterna é possível quando Deus estende a mão segurando minha fraqueza.
Eu posso viver uma vida plena, realizada e feliz. Eu sei que é um desafio. Eu preciso fazer as escolhas certas para minha vida. Escolher o caminho que me deixará mais pleno.
Tudo parece um grande desafio. Como envelhecer bem ao lado do cônjuge? O Papa Francisco comenta:
Precisamos encontrar as palavras, motivações e testemunhos que nos ajudem a tocar as palavras mais íntimas dos jovens, onde eles são mais capazes de generosidade, comprometimento, amor e até heroísmo, para convidá-los a aceitar com entusiasmo e coragem o desafio do casamento.
É o grande desafio de um amor para sempre, de um amor sem fronteiras, de um amor que erradica o egoísmo.
Quantos desafios tem este mundo que eu habito! O desafio da paz em uma sociedade cheia de violência. O desafio da coragem de falar da misericórdia de Jesus, em um mundo que rejeita aquele Deus que parece tão ausente.
O desafio da fidelidade, neste mundo em que as infidelidades são tão comuns. O desafio do poder, para não abusar dele com quem não o tem.
O desafio do respeito, nessa sociedade em que é tão difícil respeitar o outro em sua verdade, em sua originalidade, em seus tempos, em seus processos, em seus diferentes pontos de vista.
O desafio de encontrar os feridos, em vez de esperar no meu canto por alguém que venha pedir ajuda.
O desafio de construir um mundo mais harmonioso, no qual tudo esteja integrado a Deus. Criar um novo mundo sem divisões, sem separações, no qual você possa navegar à mercê de Deus.
O desafio de unir o humano e o divino e aproximar o rosto de Jesus do homem que sofre porque está sozinho, porque está ferido. Um mundo que pode ser melhor se eu contribuir com meu grão de areia.
Toni Nadal, treinador de tênis, dizia: “Quando exigirmos de nós o que exigimos do outro, seremos uma sociedade melhor”.
Exijo mais do outro do que de mim mesmo. Comigo, tenho mais paciência e me justifico quando não faço o que acho bom.
Não sei por que tenho a facilidade de resolver os problemas dos outros melhor do que os meus. Como uma pessoa me disse:
Que pena que os problemas não possam ser trocados! Eu sempre tenho melhores soluções para os problemas dos outros.
Sonho com uma sociedade mais justa, mais humana e mais misericordiosa. Com uma Igreja que sai ao encontro de quem o sofre e o abraça, curando suas feridas, acompanhando sua dor, refletindo a misericórdia de Deus que é pai e mãe ao mesmo tempo.
Sonho em ser mais livre, mais humilde, mais pobre, mais alegre, para trazer uma profunda mensagem de esperança àqueles que estão ao meu redor.
Sinto que os desafios me superam. Eles transbordam meus limites e me fazem sentir pequeno, desamparado.
Não posso enfrentar tantos desafios, mas posso contribuir com minha semente, simplesmente, sem pretensões. Eu posso dar o que tenho, o que vivi.
Eu posso oferecer o Deus que me amou loucamente e me resgatou da minha solidão. Eu posso dar o abraço de esperança de que eu mesmo tanto precisei.
Não posso curar todas as feridas, mas posso esperar com um silêncio respeitoso. Não quero resolver os problemas dos outros, quando para os meus não encontro resposta.
Prefiro fechar a boca do que falar demais. Esperar antes de impor minha verdade como absoluta. Eu escolho ouvir a voz de Deus em minha alma que continua a me levar a abandonar meus confortos e a encontrar as pessoas de hoje.
Não quero ser um solitário em busca de soluções. Fecho a boca quando é preciso.
Eu aprendo todos os dias com aqueles que Deus coloca em minha vida. Gosto dos desafios que acabam exigindo o melhor da minha alma.