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O poder de conversão do Pai Nosso

TATIANA GORICHEVA

Facebook Tatiana Goricheva

Sandra Ferrer - publicado em 04/02/20

A bela história de uma mulher russa que se converteu ao catolicismo depois de recitar o Pai Nosso

Tatiana Góricheva estava perdida. Ela se sentia sozinha e triste em um mundo confuso. E não era a única. Algumas de suas amigas chegaram a tirar a própria vida, mas ela encontrou um precioso salva-vidas, a oração.

Tatiana nasceu em Leningrado, em 1947, na Rússia de Stalin. Sua vida era como a de muitos outros jovens de sua época. Ela mesma lembrou anos depois quais eram os valores que aprendeu na escola:

Somente qualidades externas e combativas eram incentivadas. Elogiavam quem fazia o trabalho melhor, quem poderia pular mais alto, quem ‘se destacava’ em alguma coisa. Isso reforçava ainda mais meu orgulho […]. Meu objetivo era ser mais inteligente, mais capaz, mais forte que os outros.

Para Tatiana, essa maneira de ver o mundo não a satisfazia. “Ninguém nunca me disse que o valor supremo da vida não está em vencer os outros, em vencê-los, mas em amá-los. Amar até a morte, como somente o Filho do Homem, aquele a quem ainda não conhecíamos”.

Naqueles anos, Tatiana se concentrou em seus estudos e terminou sua formação em filosofia. Ela teve uma vida intensa, participando de aulas, de conferências intelectuais e vivendo as noites “na companhia de pessoas marginalizadas e de pessoas baixas, ladrões, alienados e viciados em drogas. Eu amei essa atmosfera suja. Ficávamos bêbados em porões e sótãos”.

Mas essa vida não a fez feliz. “Uma melancolia sem limites me invadiu. Fiquei atormentada por uma angústia incompreensível e fria, da qual não consegui me livrar. Aos meus olhos eu estava ficando louca. Eu nem queria mais continuar vivendo”.

Quando tudo parecia indicar que Tatiana terminaria como muitas de suas amigas, perdendo toda a esperança no mundo, ela encontrou um refúgio pequeno, mas poderoso. No ioga, aprendeu a relaxar com os mantras.

E uma das propostas do livro de ioga que ela usava era recitar o Pai Nosso. Ela nunca tinha feito essa oração. Seus pais a batizaram assim que ela nasceu, mas mais como um ritual do que por fé. Ela não recebeu nenhuma formação religiosa.

Mas o efeito intenso que a levou a rezar pela primeira vez foi purificador: “Comecei a repetir [o Pai Nosso] mentalmente como um mantra, de maneira inexpressiva e automática. Eu disse isso seis vezes; de repente me senti completamente transformada.”

A partir daquele momento, Tatiana nasceu de novo, e tudo ficou diferente para ela.

“Não foi difícil para mim entrar na vida da Igreja. Nos meses que se seguiram à minha conversão, eu vivi em um estado de euforia, em que o simples fato de ouvir a palavra ‘Deus’ era suficiente para me inundar de alegria”.

O próximo passo em sua conversão foi frequentar uma igreja para poder confessar-se e receber a Eucaristia.

Na Rússia de meados da década de 1970, em que a cortina de ferro ainda não havia desmoronado, Tatiana descobriu que havia muitos se convertendo: “o cristianismo estava nos libertando”.

Essas pessoas que seguiram o mesmo caminho de conversão que Tatiana se juntaram a ela e organizaram um seminário religioso-filosófico.

“Diante de nós, um mundo novo e esplêndido havia acabado de se abrir, que nada tinha em comum com aquele outro mundo lamentável, escravo do materialismo, trivial, de coração fraco, onde homens que não conheciam a Deus viviam, como nós mesmos pouco antes”. A primeira reunião ocorreu em 1973, em um porão conhecido como “número 37”.

Desde então, e por anos, o seminário reuniu centenas de pessoas e teve que superar as constantes ameaças da KGB.

A própria Tatiana foi presa várias vezes, interrogada tantas outras, e perdeu seu emprego de professora.

Apesar das recomendações de seus próprios pais, que não entendiam a conversão da filha, e das ameaças reais de acabar, como seus outros colegas, numa prisão, Tatiana sempre se manteve firme.

“Havia ameaças de me internar em uma clínica psiquiátrica e pressões sobre meus pais”.

Para lidar com essas situações difíceis, ela confiou na oração e numa incrível capacidade de autocontrole: “Não permiti que eles entrassem na minha consciência”.

Assim, ela sobreviveu muitos anos até que, especialmente para evitar maiores consequências para seus pais, ela decidiu deixar sua terra natal para trás.

Antes, porém, Tatiana deu um novo passo em sua vida, criando em 1979 uma associação de mulheres conhecida como “Maria”, em homenagem à Virgem.

“’Maria’ contou com uma revista. Lá, muitas mulheres começaram a encontrar sua própria voz “, após sessenta anos de silêncio, as russas começaram a falar sobre seus problemas”.

Suas atividades com a organização “Maria” também a colocaram sob os holofotes da KGB. Ela e suas amigas foram mais uma vez detidas. No final, o ultimato: ou deixavam o país ou seriam enviadas em definitivo para a prisão.

No final de julho de 1980, Tatiana Goricheva deixou sua Rússia natal e se estabeleceu em Viena. Sua chegada causou muita curiosidade e por um longo tempo ela foi convidada a dar palestras “em grandes auditórios, com entusiasmo e aplausos”.

As feministas ocidentais logo se aproximaram daquela mulher e também logo foram surpreendidas por suas profundas crenças cristãs.

“Poucos esforços foram necessários para explicar por que nosso ‘feminismo’ russo imediatamente adquiriu um caráter religioso e por que as mulheres russas modernas, na Igreja, somente encontram liberdade e conforto”.

Tatiana tinha 26 anos quando o Pai Nosso salvou sua vida.

Desde então, ela dedicou sua existência à filosofia e à defesa do cristianismo: “Tentei convencer minhas amigas ocidentais de que a Igreja é a coisa mais viva do mundo, que é o corpo místico de Cristo”.

E ela tenta ainda espalhar o poder da oração: “Somente a oração é capaz de se opor ao parasitismo da sociedade de consumo moderna”.

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