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Como o casamento ajuda a proteger a sua individualidade

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Michael Rennier - publicado em 10/02/20

A unidade do casamento é real, mas o amor verdadeiro não pode nos consumir como indivíduos

Todos nós queremos um amor como o de Romeu e Julieta, certo? Até recordarmos que sua versão do amor era imatura, tola, imprudente e levada diretamente à sua destruição. Talvez Antônio e Cleópatra sejam um exemplo melhor…

Como padre, falo regularmente com casais de noivos sobre a natureza do amor. Eu sempre os aviso: há um tipo de amor que se lança de todo coração no relacionamento de uma maneira doentia, como um navio se lançando contra as rochas. É um amor que não aceita limites e é totalmente entregue a um ideal emocional e romantizado. Romeu e Julieta sofriam com isso e eram tão obcecados um pelo outro que tudo o mais no mundo não importava. Eles se perderam um no outro a ponto de, quando um morreu, o outro não ver mais sentido em viver.

Esse tipo de amor parece mostrar um compromisso total e o poder abrangente do romance. Muitos casais jovens têm essa concepção do que é o amor em seus relacionamentos. E é por isso que, depois de um tempo, ficam decepcionados com o casamento e se preocupam com o erro.

Parece heroico imitar um casal famoso e romântico como Romeu e Julieta, mas isso me faz perguntar: eu realmente quero que minha esposa seja tão dependente de mim que, se eu morresse, ela desejaria se destruir? Eu quero que a identidade dela desapareça para que ela se perca sem mim? Eu a quero tão dependente de mim que, se eu a decepcionar de alguma forma ela será capaz de pensar que nosso casamento é uma farsa? Peço aos noivos que aconselho que considerem as respostas a esses tipos de perguntas, a ponderar mais profundamente a natureza do amor e o que significa quando dois se tornam um.

A unidade do casamento é real, mas o amor verdadeiro não pode nos consumir como indivíduos. Ele não deve nos tornar dependentes. Um casamento bem-sucedido e de longo prazo não nos faz perder – é, na verdade, o contrário. Pode ser surpreendente, mas quando duas pessoas são unidas pelo amor conjugal, cada indivíduo é preservado em sua solidão.

Eu tenho lido as cartas do poeta Rainer Maria Rilke recentemente e ele tem muitas ideias interessantes sobre a natureza do amor, a conexão entre casamento e solidão. No livro Rilke On Love and Other Difficulties, há uma carta específica a um amigo sobre o equilíbrio entre união e identidade própria que um casamento bem-sucedido alcançará. Rilke escreve: “Considero que esta é a tarefa mais alta de um vínculo entre duas pessoas: que cada uma fique de guarda em relação à solidão da outra.”

Aqui está uma imagem que ele usa que eu acho particularmente útil: se você assiste, digamos, a um evento esportivo em um estádio, você se torna parte da multidão. Essencialmente, você é um fã sem nome, intercambiável com qualquer outro fã. Não há solidão necessária, porque a multidão não está interessada em indivíduos que compõem seus membros. Um casamento não é como uma multidão. De modo nenhum. A multidão constrói união derrubando limites, mas em um casamento é dado um presente maior. Rilke escreve: “Cada um nomeia o outro guardião de sua solidão e mostra a ele essa confiança, a maior em seu poder de doar”.

Um casal naturalmente desejará guardar um ao outro, porque eles se conhecem e se amam como indivíduos. “Quando uma pessoa se abandona”, escreve Rilke, “ela não é mais nada, e quando duas pessoas se entregam para se aproximarem, não há mais espaço embaixo delas”.

Todos os dias, quero incentivar e ajudar minha esposa a ser a melhor versão possível de si mesma, e sei que ela quer o mesmo para mim. É um paradoxo, eu sou mais completamente eu quando estou com ela. Eu não me misturo a ela ou me torno co-dependente, mas ao mesmo tempo o presente que ela me dá é insubstituível – e só ela pode dar. Ela me dá espaço para ser eu mesmo e baixa a guarda, e nessa vulnerabilidade sou mais honesto sobre quem sou, tanto os bons quanto os maus. Ao mesmo tempo, ela me motiva a ter certeza de que, até o âmago do meu ser, sou o tipo de pessoa que vale a pena amar. Não quero decepcioná-la ou fazê-la pensar menos de mim. Não são expectativas que ela colocou em mim, eu as escolhi livremente

O amor nupcial é como a gravidade entre dois planetas, uma força inabalável que une duas pessoas que permanecem sendo planetas por si só. O amor não destrói; acumula. Construir é um trabalho árduo. O amor é um trabalho árduo. É por isso que é tão valioso. Não é uma aventura louca e romântica que gera um turbilhão. É uma vida inteira de fidelidade, de acordar um com o outro pelo 10.000º dia consecutivo, de um marido fazendo duas xícaras de café todas as manhãs – uma para ele e outra para sua esposa, e sentando-se um ao lado do outro, na mesma sala lendo livros em um silêncio confortável.

O verdadeiro amor não é aglomerado ou claustrofóbico, é espaçoso. Eu preservo minha esposa porque a valorizo exatamente por quem ela é e não quero que isso se perca. Ela faz o mesmo por mim. O que poderia ser mais romântico do que isso?


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