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Cardeal Sarah: “O sacerdócio cristão está em perigo mortal”

Cardeal Robert Sarah

GALAZKA/SIPA/EAST NEWS

Reportagem local - publicado em 24/02/20

"O Papa Emérito Bento XVI já havia falado energicamente sobre isso, mas seu pensamento foi distorcido e ignorado"

No último dia 7, o portal católico norte-americano National Catholic Register entrevistou o cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, a propósito de seu novo livro, “Do mais profundo de nossos corações: Sacerdócio, Celibato e a Crise da Igreja Católica“. A obra, que conta com a colaboração do Papa Emérito Bento XVI, defende a transcendência do celibato sacerdotal.

Questionado sobre o porquê do livro, o cardeal afirmou:

“Porque o sacerdócio cristão está em perigo mortal! Está passando por uma grande crise. A descoberta da grande quantidade de abusos sexuais cometidos por sacerdotes e, inclusive por bispos, é um sintoma indiscutível disso. O Papa Emérito Bento XVI já havia falado energicamente sobre esse tema. Mas, depois, o pensamento dele foi distorcido e ignorado. Assim como hoje, foram feitas tentativas para silenciá-lo. E, como hoje, foram montadas manobras de distração para desviar a atenção da sua mensagem profética”.

O cardeal Sarah falou sobre Bento XVI e sua visão sobre uma das causas fundamentais dos abusos perpetrados por padres:

“Ele demostrou que, na raiz dos abusos cometidos pelos clérigos, há uma falha profunda em sua formação. O sacerdote é um homem separado para o serviço de Deus e da Igreja. É uma pessoa consagrada. Toda a sua vida está separada para Deus. E, no entanto, queriam dessacralizar a vida sacerdotal. Queriam banalizá-la, torná-la profana, secularizá-la. Queriam fazer do sacerdote um homem como outro qualquer. Alguns sacerdotes se formaram sem colocar a Deus, a oração, a celebração da Missa, a ardente busca da santidade no centro da sua vida”.

Para Sarah, muitos sacerdotes não aprenderam que “Deus é o único ponto de apoio para a sua vida“, nem foram ensinados a experimentar “que a sua vida só faz sentido em Deus e para Ele”.

Quanto aos abusos sexuais e de autoridade, o cardeal destacou:

“Alguns entraram na lógica diabólica do abuso de autoridade e dos crimes sexuais. Se um sacerdote não experimenta diariamente que é um instrumento nas mãos de Deus, se ele não está constantemente diante de Deus para servi-lo de todo o coração, então ele corre o risco de ficar intoxicado com uma sensação de poder. Se a vida de um sacerdote não é uma vida consagrada, ele corre grande risco de ilusão e distorção”.

O prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos abordou ainda as tentativas de “relativizar o celibato dos sacerdotes“:

“[O celibato] é a manifestação mais óbvia de que o sacerdote pertence a Cristo e não pertence mais a si mesmo. O celibato é o sinal de uma vida que só tem sentido em Deus e para Ele. Querer ordenar homens casados é querer dizer que a vida sacerdotal não é a tempo completo, que não exige um presente completo, que deixa a pessoa livre para outros compromissos, como uma profissão, que deixa tempo livre para uma vida privada. Mas isso é falso. Um sacerdote continua sendo um sacerdote em todo momento. É uma consagração de todo o nosso ser, uma conformação indelével da nossa alma a Cristo Sacerdote, que exige de nós uma conversão permanente para lhe correspondermos. O celibato é o sinal inquestionável de que ser sacerdote significa permitir-se pertencer completamente a Deus. Colocá-lo em questão agravaria gravemente a crise do sacerdócio”.

Quanto ao fato histórico de que durante séculos houve na Igreja sacerdotes casados, o cardeal Sarah ponderou a respeito do contexto:

“Somos frequentemente vítimas de uma profunda ignorância histórica sobre esse assunto. A Igreja teve sacerdotes casados durante os primeiros séculos. Mas, assim que eram ordenados, eles recebiam o pedido de se absterem por completo das relações sexuais com suas esposas. Bento XVI nos lembra disso muito claramente neste livro. Todos conhecem a sua profunda cultura histórica e o seu perfeito conhecimento da antiga tradição. Este fato é certo e é demostrado pela pesquisa histórica mais recente”.

Voltando a enfatizar o significado transcendente do celibato dentro de um panorama ainda mais amplo de renúncia sacerdotal a outras circunstâncias da vida terrena, o cardeal destacou também a importância do espírito de pobreza evangélica, pelo qual um padre abandona o uso desnecessário de qualquer bem material:

“Bento XVI, com coragem profética, se atreve a afirmar que, ‘sem a renúncia aos bens materiais, não pode haver sacerdócio. O chamado a seguir Jesus não é possível sem esse sinal de liberdade e renuncia a todos os compromissos’. Ele estabelece as bases, portanto, para uma verdadeira reforma do clero. Pede uma mudança radical na vida cotidiana dos sacerdotes. Eu tentei desenvolver esse chamado enfatizando que os sacerdotes devem encontrar maneiras concretas de viver os conselhos evangélicos. Os bispos devem refletir sobre isso, para si mesmos e para os padres: devemos colocar a Deus, concretamente, no centro da nossa vida”.

Sobre o Papa Emérito Bento XVI e as polêmicas que são gestadas artificialmente a seu respeito, o cardeal Sarah declarou:

“Devo confessar minha revolta diante da difamação, da violência e da grosseria a que ele foi submetido. Bento XVI queria falar com o mundo, mas tentaram desacreditar as suas palavras. Eu sei que ele considera tudo o que está escrito neste livro com determinação, e sei que está maravilhado com a sua publicação”.



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