A Quaresma não deve ser um tempo sombrio, mas o período em que aprofundamos nosso relacionamento com CristoA Quaresma é notoriamente desprezada por muitos cristãos e vista como uma época dolorosa. Pode ser tentador pensar nela como um período em que somos “forçados” a desistir de algo que gostamos. No entanto, isso deixa de lado o fato de a Quaresma ser um tempo de renovação espiritual e somos desafiados a encará-la com alegria.
Em vez de abordar a Quaresma de maneira negativa, somos convidados a vê-la de maneira positiva, como uma oportunidade para aprofundarmos nosso relacionamento com Jesus Cristo e acompanhá-lo em sua fatídica jornada a Jerusalém.
Se realmente amamos a Jesus, isso não deveria ser emocionante? Normalmente ficamos muito felizes quando podemos passar mais tempo com nosso cônjuge ou um ente querido. Não deveríamos ter o mesmo sentimento sobre Jesus?
O escritor cristão Frederick Charles Woodhouse descreveu em seu livro “Um Manual para a Quaresma” (publicado em 1883) uma visão da Quaresma que deveríamos considerar:
“Mais uma vez a Quaresma chegou; mais uma vez, vamos recebê-la; agradecemos a Deus por isso; vamos entrar com entusiasmo e expectativa, como em uma época de bênçãos, uma época mais adequada para nós … Muitos encaram a Quaresma como uma época triste, dolorosa e proibitiva, e assim perdem metade de suas bênçãos e toda a sua doçura. Fora com isso! Vamos pegar a cruz com um sorriso; olhemos para Deus e para nossos irmãos cristão e para dentro de nossos próprios corações, e digamos como nossa palavra de ordem e lema: ‘Eis que subimos a Jerusalém’; Jerusalém, a cidade da paz, a cidade que tem fundamentos, cujo construtor e criador é Deus; nossa própria casa, onde estão todas as coisas boas e todas as pessoas queridas, onde tudo o que queremos e desejamos há tanto tempo será finalmente nosso. “Eis que subimos a Jerusalém.”
É verdade que esse caminho para Jerusalém costuma ser cheio de dificuldades e sofrimento, mas essas privações são apenas trampolins para alcançar um lugar de serenidade e paz:
“O caminho é longo, e, às vezes, difícil e triste. Mas, à medida que avançamos, esquecemos tudo e começamos a cantar. É difícil desistir e deixar para trás o que a natureza ama tanto, mas o sacrifício traz mais prazer do que indulgência. Seguramos a coroa de espinhos, pálida de terror; nossas mãos tremem quando a levamos à cabeça. Nesse pequeno espaço, muitas vezes resolvemos jogá-lo fora. Mas de alguma forma s colocamos estremecendo em nossas cabeças… E eis seus espinhos se foram e há flores lá. Tentamos ter comunhão com Cristo em Sua paixão, tomamos a cruz, cortejamos a dor em simpatia amorosa por Ele… Ele suportou toda a dor, Ele tirou o aguilhão dele, Ele esgotou o poder de todos – essas mortificações apenas nos dão alegria e paz.”
Da mesma forma, Jesus disse a seus discípulos que não deixassem que o jejum os impactasse de maneira negativa, mas que se aproximassem com espírito de alegria.
“Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará” (Mateus 6, 16-18).
Enfim, a Quaresma é um momento maravilhoso para a alma e abre um caminho para a renovação espiritual. Nossa experiência com a Quaresma dependerá muito da maneira como a encaramos. Se considerarmos um período de privação, provavelmente não duraremos toda a Quaresma. No entanto, se a virmos como uma maneira de nos aproximarmos de Jesus, qualquer sacrifício que fizermos valerá a pena e a encararemos com alegria.
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