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A exemplo do Papa, que está resfriado: como fazer retiro espiritual de casa mesmo

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fneun|Shutterstock

Reportagem local - publicado em 04/03/20

As dicas do pe. Wellistony Viana, sacerdote brasileiro que é diretor espiritual de padres em Roma: "Retiro espiritual não significa em primeiro lugar ir para um lugar isolado, mas retirar-se para o seu mundo interior”.

O pe. Wellistony C. Viana é diretor espiritual no Colégio Pio Brasileiro, seminário de Roma voltado particularmente à formação de sacerdotes do Brasil que estudam na Cidade Eterna. Ele concedeu nesta semana uma entrevista ao Vatican News sobre o retiro espiritual de Quaresma que os padres do colégio acabam de fazer sob a orientação do frei Raniero Cantalamessa, pregador oficial da Casa Pontifícia.

Durante a entrevista, o pe. Wellistony também falou sobre como os leigos podem fazer um retiro espiritual de casa mesmo, a exemplo do Papa Francisco, que, neste ano, não pôde participar presencialmente dos seus exercícios espirituais quaresmais por estar resfriado.

Reproduzimos a seguir esse trecho da conversa do sacerdote com o Vatican News:

O Papa, infelizmente, não foi para Ariccia e está participando do retiro a partir do Vaticano por questões de saúde. Como um retiro espiritual funciona deste jeito?

É simples! O fato de ir para outro lugar fora do ambiente no qual se costuma estar não é a característica mais importante do retiro. Retiro espiritual não significa em primeiro lugar “ir para um lugar isolado”, mas significa “retirar-se para o seu mundo interior”. Eu posso participar de um retiro num deserto, longe de minha casa, mas estar fora de mim mesmo.  E dessa forma, embora retirado, não estarei fazendo um retiro espiritual. O mesmo pode acontecer se estiver em minha própria casa, mas procurando entrar em meu mundo interior, silenciar e escutar a voz de Deus de forma mais abundante. O papa está no Vaticano por questões de saúde, mas decidiu acompanhar o retiro da Cúria, fazendo desses dias um tempo para se recolher em seu mundo interior. Assim, será um tempo forte de retiro também para o Santo Padre. O Papa vai receber as meditações e meditar no Vaticano e em silêncio interior diante de Deus. Por isso, nada vai mudar! A única diferença é que em Ariccia ele estaria com os cardeais; no Vaticano, ele estará sozinho com Deus. Penso até que vai estar mais retirado do que se estivesse com outras pessoas.

Os leigos que não podem partir para um retiro quaresmal, como podem se preparar para a Páscoa?

Sim, a quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa. Mas essa preparação não acontece apenas por meio da oração, mas também da penitência e da prática da caridade. Na quarta-feira de cinzas, ouvimos o Evangelho que falava do jejum, da esmola e da oração. Essas práticas resumem bem como devemos viver a quaresma: primeiro, pela prática da penitência: pode-se fazer o tradicional jejum, que significa simplesmente “comer menos e sem ostentação”. Contudo, existem várias outras formas de praticar o jejum: por exemplo: jejum do celular, do uso das redes sociais, da televisão, da bebida alcoólica etc. O jejum é uma prática que nos ajuda no autocontrole, na capacidade de renunciar ao supérfluo para, assim, preparar nossa vontade para acolher as coisas essenciais e sempre buscar a vontade de Deus. A esmola resume a prática da caridade, ou seja: nos lembra que a melhor preparação para a páscoa é fazer o bem aos outros. A esmola também pode ser feita de uma forma moderna: ajudando as pessoas com palavras de incentivo, tirando um tempo para dar atenção aos outros, visitando algum doente, dando comida, roupa, abrigo aos necessitados. Todas são formas de caridade que alargam nosso coração e nos preparam para a Páscoa. Por fim, também tem a prática da oração. A quaresma é um tempo forte de oração, de intimidade com Deus. Muitas vezes, nós não sabemos orar. Identificamos a oração com a leitura de algum texto, recitação de fórmulas prontas ou com a realização de novenas para algum santo.

Que método os leigos podem seguir?

Na realidade, podemos até orar quando fazemos essas práticas, mas nem sempre. A oração significa “encontrar-se com Deus” e pode ser que eu faça uma novena ou leia o evangelho e não me encontre com Ele. Pode ser que faça tudo isso de forma mecânica, para cumprir um rito. Se não colocamos o nosso coração nessas práticas, elas não podem ser consideradas oração. Santa Teresa D’Ávila distinguia cinco graus de oração: a oração vocal, a oração mental, a oração de quietude, a oração contemplativa adquirida e a oração contemplativa infusa. Não temos como falar de cada uma delas, mas faz bem recordar que é importante amadurecer em nossa vida de oração. Quem sabe, nessa quaresma, não seria interessante passar de uma oração puramente vocal para uma oração mental! A oração mental é o que chamamos de lectio divina: colocamo-nos diante de Deus por um tempo (pode ser 15, 20 min ou mais) para ler e meditar a Palavra de Deus. O método é muito simples: escolhemos um local e horário para ficarmos em silêncio. Depois, podemos ler o texto a ser meditado e perguntar: 1) O que este texto diz? Silenciamos uns minutos. Depois, lemos o texto mais uma vez e perguntamos: 2) O que este textome diz? Meditamos um pouco mais. Continuamos perguntando: 3) O que este texto me faz dizer a Deus? É o momento de abrir o coração a Deus, falando a ele como se fala com um amigo. Por fim, 4) podemos usar a imaginação para entrar na cena daquele evangelho e ficar ali com Jesus algum momento. Seria muito bom que no tempo da quaresma pudéssemos exercitar este tipo de oração diariamente. Certamente seria uma ótima preparação para a Páscoa. E, claro, quem puder fazer um retiro espiritual, reservando alguns dias para ficar a sós com Deus, seria ideal. Geralmente, os padres, religiosos e religiosas reservam um tempo maior na quaresma para fazer seus exercícios espirituais. Os leigos nem sempre têm esta oportunidade.

BERNARDO FRANCESCO MARIA GIANNI

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Tags:
OraçãoQuaresma
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