Um dos mais emblemáticos eventos da Semana Santa, a procissão vinha acontecendo na cidade colonial goiana todos os anos desde 1745Pela primeira vez na história, desde que foi criada em 1745, não será realizada neste ano a tradicional procissão do Fogaréu na cidade colonial de Goiás, no centro do Brasil. Trata-se de uma das procissões mais impactantes da Semana Santa em todo o país. Anteriormente marcada para 8 de abril, a celebração previa uma participação de 60 a 65 mil pessoas neste ano. O cancelamento se deve às medidas excepcionais adotadas em grande parte do planeta para combater a pandemia da Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.
O Arcebispo Metropolitano de Goiânia, dom Washington Cruz, divulgou nesta quarta-feira, 18, um comunicado em que reflete:
“A experiência deste mal comum nos revela a importância do bem comum. Por isso mesmo, evitemos abrir brechas na barragem de contenção do coronavírus, com escolhas irresponsáveis, e obedeçamos às disposições restritivas das autoridades competentes, comportando-nos com cautela e responsabilidade: ‘Ao proteger-me, protejo os mais fracos, os mais expostos: idosos, adultos frágeis, crianças doentes’. É esse o sentido de qualquer cancelamento ou adiamento, mesmo com sacrifício pessoal e comunitário, de muitas iniciativas que fazem parte da nossa ação evangelizadora e sacramental habitual”.
O arcebispo também orientou aos sacerdotes idosos e com doenças crônicas:
“Façam o sacrifício de se afastarem das aglomerações, não atendam confissões nem visitem enfermos neste período. Os sacerdotes mais novos, guardando os devidos cuidados, continuem a administrar, nos casos realmente graves, a Sagrada Unção dos Enfermos”.
A procissão do Fogaréu
Realizada em várias cidades brasileiras, a mais conhecida dessas procissões talvez seja a da cidade de Goiás, também chamada popularmente de Goiás Velho, a 300 quilômetros de Brasília. Tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco devido às obras arquitetônicas preservadas, a cidade costuma receber milhares de turistas durante a noite da Quarta para a Quinta-Feira Santa.
A procissão, tradicionalmente, começa à meia-noite, com as luzes das ruas de pedra já apagadas. A cidade passa a ser iluminada apenas pelas tochas levadas pelos “farricocos”, como são conhecidos os personagens descalços, de túnicas coloridas e máscaras pontiagudas, que representam os soldados romanos. Dezenas deles deixam a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, uma das principais da cidade, e partem acompanhados pela multidão de fiéis pelas ruas à procura de Jesus Cristo.
O som de uma fanfarra transmite a solene tensão desse momento. A primeira parada é feita na Igreja do Rosário, que simboliza o local da Última Ceia. Mas Jesus não está mais lá. Fiéis e personagens marcham então para a Igreja de São Francisco de Paula, que simboliza o Jardim das Oliveiras: ali, o toque melancólico do clarim representa o decreto da prisão de Cristo, cuja imagem é estampada num pano de linho, erguido como prêmio num estandarte.
A tradição nascida na Península Ibérica, onde é realizada tanto na Espanha quanto em Portugal, foi introduzida em Goiás há 275 anos e, desde então, jamais tinha deixado de acontecer na cidade.
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