É fundamental limitarmos o número de contágios do coronavírus, pois isso significará que estaremos limitando a instabilidade. Ou seja, estaremos limitando a crise
A China anunciou esta semana que zerou as transmissões locais do coronavírus. Já a Itália registrou o maior número de contágios e de mortos.
Em nossas casas, seguindo rigorosamente as indicações de isolamento social e higienização, perguntamo-nos: quando tudo isso vai passar? Quando o mundo vai voltar à normalidade?
Apesar de não haver uma resposta exata – com dia e hora marcados –, há previsões bem fundamentadas.
É possível projetar cenários a partir dos exemplos da China – hoje o melhor cenário –, e da Itália – hoje o pior.
As autoridades da área da saúde têm sido muito claras: enquanto não houver tratamento e cura rápida e eficaz para o COVID-19, o pior cenário é o do alastramento do vírus.
Ou seja, quanto mais pessoas estiverem contagiadas, mais tempo vai demorar para a crise passar.
Por isso é tão importante contribuir para que o vírus não se alastre.
A Itália tinha 20 casos confirmados em 20 de fevereiro. Em 20 de março, já eram 47 mil casos.
O problema lá é que, enquanto o número de novos casos da doença não começar a diminuir paulatinamente, não haverá como antever o fim da crise.
Este gráfico acima ficou famoso nas últimas semanas. Foi chamado de gráfico do “achatamento da curva de contágios”.
Ele mostra uma relação entre número de contágios e tempo (número de casos por dia vs número de dias desde o primeiro caso).
No pior cenário, a curva no gráfico é íngrime, com muitos contágios em um curto período de tempo. Esse é o cenário que leva ao colapso do sistema de saúde.
Já a curva mais branda indica que há um menor número de contágios, espalhados em um maior período de tempo. Esse cenário indica que o sistema de saúde conseguiria enfrentar o problema.
Neste momento, tudo depende de conseguir conter a escalada de contágios. Se a sociedade conseguir atingir esse pico da forma mais branda possível, começaremos a ver a saída da crise.
É o que está acontecendo na China. Em três meses, eles controlaram a crise em Wuhan. Se fizermos o mesmo, talvez a superemos em um tempo similar.
Mas se deixarmos o número de casos aumentar exponencialmente, então poderemos levar seis meses para sair dessa crise, como têm indicado os responsáveis pelo sistema de saúde.
Resiliência
Quando poderemos dizer que a crise passou? Uma crise só termina quando um sistema supera a instabilidade e consegue voltar à estabilidade.
Nesse contexto, temos duas variáveis importantes a levar em consideração.
Uma é a instabilidade em si. Essa variável está relacionada ao alastramento do vírus e do número de contagiados e doentes.
Outra variável é a capacidade de um sistema retornar ao seu ponto de equilíbrio. Essa variável é chamada de resiliência.
A resiliência é a medida de persistência de um sistema. É o quanto um sistema resiste à instabilidade, mantendo suas estruturas em funcionamento e conseguindo absorver a instabilidade.
É fundamental limitarmos o número de contágios do coronavírus, pois isso significará que estaremos limitando a instabilidade. Ou seja, estaremos limitando a crise.
Por outro lado, é fundamental preservarmos a resiliência do sistema de saúde. Ou seja, é preciso fazer todo o possível para não deixá-lo entrar em colapso. O colapso acontece quando o sistema de saúde não consegue mais atender os doentes.
Se limitarmos os contágios, limitaremos a instabilidade e, portanto, limitaremos a crise.
E se preservarmos o sistema de saúde, preservaremos a sua resiliência, que é a capacidade que esse sistema tem de absorver a instabilidade – cuidar dos doentes – e continuar em funcionamento.
Em nossas casas, temos de continuar com todos os esforços necessários para não ser contagiados pelo coronavírus e, por outro lado, não contagiar novas pessoas.
Leia também:
O coronavírus e a ilusão do isolamento