A sabedoria do “memento mori”: a morte ilumina a vida e a vida ilumina a morteEm 2017, publicamos um texto da Irmã Theresa Noble, religiosa norte-americana que, antes de se tornar freira católica, tinha sido ateia. Nesse texto de caráter pessoal, ela compartilha reflexões difíceis para grande parte das pessoas: ela recorda que morrerá, como todos nós, e que a morte, como passagem para a eternidade, tem um sentido luminoso, capaz de iluminar a nossa vida de modo que a nossa vida ilumine a nossa morte.
Vivemos hoje um longo momento de angústia e sofrimento em meio ao drama da pandemia de Covid-19, com a sombra da morte pairando sobre tantos corações e pensamentos, potencializada por uma cobertura midiática muitas vezes desequilibrada. Nesse contexto de inquietação, é oportuno serenar a mente e a alma refletindo sobre o significado amplo da vida, dentro do qual a morte coloca tudo em perspectiva e é fator de transformação pessoal – para muito melhor, se assim quisermos.
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Algum dia você vai morrer.
Vou escrever isso de novo, já que você está lendo on-line e provavelmente está distraído.
Algum dia você vai morrer.
Como a sua vida poderia ser diferente se todos os dias você se lembrasse deste fato real?
Não há como evitar a realidade da sua morte iminente. A menos que Jesus volte durante o período da sua vida terrena, você vai morrer. Seja de modo repentino e trágico, seja de maneira pacífica e serena ao final de uma vida longa, você vai acabar fechando os olhos para nunca mais reabri-los neste mundo.
Concentrar-se na sua morte pode parecer mórbido, perturbador, doentio e talvez até diabólico. E, em alguns casos, pode virar isso mesmo. A morte, em si, é um mal. Santo Agostinho escreveu que a morte é “a violência com que o corpo e a alma são arrancados um do outro“.
Mas Jesus mudou a natureza da morte para aqueles que creem. Antes de se tornar Papa, então o cardeal Joseph Ratzinger escreveu que “o ferrão da morte se extingue em Cristo“.
Uma tradição cristã de longa data reconhece o poderoso valor espiritual de nos lembrarmos da nossa morte para vivermos bem. A Regra de São Bento, escrita no século VI, inclui o imperativo de “manter a morte todos os dias perante os olhos“. Como indica o Catecismo, tanto a Sagrada Escritura quanto o Magistério da Igreja nos lembram a responsabilidade que cabe ao homem de fazer uso da sua liberdade em vista do seu destino eterno (cf. 1036).
A prática de lembrar que você vai morrer ajuda você a ter em mente que a sua vida terrena vai acabar e que ela tem um objetivo: o céu.
Memento mori
Um jeito de manter em mente a iminência da nossa morte é o uso de lembretes visuais chamados “memento mori”, a frase latina que quer dizer “Lembra-te de que vais morrer”.
Santos como Jerônimo, Luis Gonzaga e Maria Madalena, entre outros, são com frequência retratados junto a caveiras. São Francisco de Assis escreveu uma bênção num pergaminho para o Irmão Leão desenhando a cruz em forma de tau sobre o esboço de uma caveira. O Papa Alexandre VII encomendou do artista italiano Bernini um caixão para guardar em seu quarto, juntamente com um crânio de mármore para a sua mesa a fim de lembrá-lo da brevidade da vida. O beato Tiago Alberione, fundador da família paulina, também mantinha um crânio sobre a mesa.
Inspirada por essa tradição cristã do memento mori, adquiri recentemente uma caveira de cerâmica para a minha mesa de estudo e trabalho – e comecei a compartilhar a minha jornada espiritual no Twitter. Isso tem mudado a minha vida.

De breves anedotas a meditações mais profundas, manter a minha morte diante dos meus olhos colocou as outras coisas da minha vida em perspectiva. A caveira me ajudou a lembrar que um dia vou morrer, sim, mas, muito mais importante do que isso, ela ressaltou para mim a pessoa de Jesus: ela me lembra todos os dias que o meu Salvador transformou a morte na porta para uma nova vida.
Coloque uma caveira na sua mesa de trabalho.
E, se alguém perguntar, conte que foi uma freira quem falou para você fazer isso.