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Enterros em massa no maior cemitério da América Latina por causa do coronavírus

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Reprodução Redes Sociais

Agências de Notícias - publicado em 05/04/20

"Aqui enterramos cerca de 45 pessoas por dia, mas na última semana foram 12 e 15 a mais"

A curva de casos do coronavírus ainda está a semanas do seu pico no Brasil, mas sua letalidade e a demora dos diagnósticos já colocam sob pressão o maior cemitério de São Paulo e da América Latina, com enterros em massa e velórios sem abraços.

“Aqui enterramos cerca de 45 pessoas por dia, mas na última semana foram 12 e 15 a mais. É muito pior do que vemos nas notícias”, disse à AFP um coveiro que, em um lote do Vila Formosa I, cavava covas em fileiras para serem utilizadas no dia seguinte.

Prevendo o aumento da demanda, a prefeitura contratou uma empresa para reforçar com 220 funcionários temporários os 22 cemitérios da rede municipal, que foram obrigados a cortar 60% do seu quadro de 257 coveiros por pertencer a grupos de risco.

O Vila Formosa I, na periferia de São Paulo, cresce de forma interminável à vista. Estima-se que em seus 750.000 m2 existam 1,5 milhão de pessoas enterradas.

Uma parte está coberta de erva daninha, outra dividida em lotes de barro. De um extremo a outro, há um muro repleto de ossários com inúmeros nomes e datas.

Na tarde do último 31 de março, os caixões chegavam com tanta rapidez que os sepultadores tiveram que pedir alguns minutos para terminar com um dos enterros que já ocorria, antes de começar o seguinte.

Sob um sol forte e um céu limpo, quatro enterros ocorrem em um intervalo de meia hora em um único lote do cemitério: três casos suspeitos de COVID-19 e um confirmado.

“Minha avó estava com os sintomas e fez o exame, mas o resultado demorará mais duas semanas (para sair)”, disse Ricardo Santos, que velou de forma rápida e com poucos familiares Regina Almeida, de 92 anos, em um dos três toldos de cor verde dispostos fora da capela do cemitério, como mandam as recomendações sanitárias.

São Paulo, epicentro da pandemia no país, registrou mais de 150 dos 241 mortos por coronavírus no país desde que o primeiro contágio foi informado em fevereiro. Porém, a demora do diagnóstico dificulta o balanço. A Secretaria de Saúde contabiliza 201 exames de pessoas já mortas que esperam o resultado para a doença.

– Esclarecimento sobre morte –

O diagnóstico de José de Santana, de 77 anos, é um dos que figura nessa lista. Seu filho, Genilton Santana, enterrou o pai acompanhado apenas por um amigo. Com uma máscara branca e os olhos cheios de lágrimas, portando apenas a Certidão de Óbito.

“Causa da morte a ser informada, aguarda exames”, aparece na explicação sobre o falecimento.

“Mostrem isso para ver se as pessoas começam a entender o quão sério isso é”, disse Genilton à AFP.

São Paulo e outros estados brasileiros adotaram medidas de quarentena parcial, ainda que o presidente Jair Bolsonaro tenha considerado até recentemente a COVID-19 como uma “gripezinha”, antes de admitir na última terça que se tratava do “maior desafio” do país.

E o país começou a se preparar para a emergência, que deve chegar ao seu auge entre abril e junho.

Um decreto federal autorizou na última quarta-feira o enterro de pessoas sem uma Certidão de Óbito em casos excepcionais.

O coronavírus também modificou a preparação dos corpos que, por precaução, agora deixam os hospitais dentro de uma bolsa de material plástico especial.

A prefeitura de São Paulo, que compra semestralmente 6.000 caixões para sua rede de serviços funerários, solicitou em março outros 8.000 unidades.

Os coveiros devem vestir trajes de proteção brancos, máscaras e luvas.

Desde que se abre a porta do carro funerário até a colocação da coroa de flores sobre o túmulo já coberto de terra, todo esse momento dura apenas seis minutos.

As Certidões de Óbito de todos os casos confirmados ou sob suspeita da COVID-19 são etiquetados como “D3”, o que obriga a manter o caixão fechado, gerando uma despedida sem ver os rostos e velórios sem abraços, com menos de 10 pessoas.

Muitos levam máscaras, álcool e luvas.

O fluxo de familiares entrando e saindo não para. Alguns se despedem tocando nos cotovelos. Outros não conseguem acatar as regras de distanciamento social em meio à perda, e diante da incerteza de um diagnóstico se abraçam, dizendo: “Vamos, isso é muito triste”.

(AFP)

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