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De uma paciente terminal para uma enfermeira: “Eu cuidarei de você por tudo o que fez”

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Silvia Lucchetti - publicado em 22/04/20
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Enfermeira descreveu, em carta, como é o trabalho ao lado dos pacientes com Covid-19 – um retrato do sofrimento que está acometendo as UTI’s do mundo todoO prefeito de Volvera, uma pequena cidade no norte da Itália, publicou a comovente carta escrita por uma enfermeira de um hospital local.  “Não quero descrever o que a mídia está transmitindo: números, estatísticas, decretos e proibições”, diz a carta “Gostaria de [compartilhar como é estar] ao lado de pacientes positivos para COVID…  O COVID é muito mais que um vírus desonesto.”

O testemunho é um retrato do que está acontecendo nas unidades de terapia intensiva de hospitais em todo o mundo. Acima de tudo, a tragédia da doença  une pacientes, familiares e profissionais de saúde em uma experiência de extremo sofrimento. E esse tipo de testemunho traz luz e esperança.

Nos hospitais, onde o espectro da morte paira como uma ameaça sempre presente, a batalha implacável não é apenas para salvar vidas, mas também pela causa igualmente difícil, mas menos visível, de defender a dignidade dos seres humanos que ali estão.

A COVID-19 tem o poder de fazer com que os doentes se sintam reduzidos a apenas seus corpos, aos quais as pessoas podem conectar mecanicamente fios e tubos. Eles se vêem em uma situação que parece condenar seus parentes à culpa excruciante de estar ausentes no momento sagrado da morte de seu ente querido.

Às vezes, as circunstâncias parecem endurecer o coração daqueles que lutam para curá-los, pois médicos e enfermeiros são forçados a evitar buscar os olhos daqueles de quem tratam, a fim de sustentar o enorme esforço para o qual são chamados.

Uma vídeo chamada para dizer adeus

Todo esse sofrimento é descrito na carta compartilhada pela enfermeira. A carta  fala de uma mãe de quatro filhos que procura desesperadamente olhar a enfermeira nos olhos, para amolecer seu coração apelando à sua maternidade comum, implorando para ser reconhecida como uma pessoa, mesmo que esteja morrendo. Ela descreve um telefonema para os quatro filhos da paciente, durante os quais o médico informa a paciente e seus entes queridos sobre seu grave prognóstico.

A enfermeira, diante desse desespero, usa seu próprio smartphone para fazer uma chamada de vídeo para que a paciente possa se despedir da família. Eles se vêem pela última vez, com lágrimas nos olhos e palavras de amor infinito.

Então, a enfermeira que escreveu a carta diz: “O paciente morre. Você decide sair e deixar o resto para seus colegas. E você vê que, conforme os procedimentos exigem, eles a pulverizam com desinfetante, envolvem-na em um lençol e a levam para o necrotério. Sozinha … sozinha … seus pertences pessoais, reunidos em uma bolsa preta serão incinerados.”

“Obrigado, cuidarei de você por tudo o que fez.”

Quando o carro fúnebre carregando o caixão vira à esquerda e o carro do único filho do paciente que estava presente no necrotério vira à direita, tudo parece perdido e sem sentido. O vírus triunfou, destruiu outra vida. No entanto, não conseguiu esvaziar esta morte de profundo significado.

Um legado precioso permanece para aqueles que continuam vivendo. A enfermeira conta: “[O paciente] pega sua mão e diz: ‘Obrigado. Eu cuidarei de você por tudo o que fez’. E você acha difícil não chorar”.

Essas palavras ressoam com bênção e esperança para todos, crentes e não crentes. Diante dessa imensa tragédia, a única salvação está em nossa humanidade, no dom de reconhecer nos olhos dos outros – na alegria, mas ainda mais na dor – uma alma como a nossa.

Aqui está o post do prefeito, Ivan Marusich, que reproduz na íntegra a carta da enfermeira:

“Nestes tempos difíceis, vamos lembrar quem somos e a imutável dignidade humana de cada um de nós. Somos filhos de Deus, irmãos e irmãs em Cristo. Mesmo as indignidades e desumanidades de uma pandemia não podem mudar isso. Não vamos esquecer de procurar o rosto de Cristo um no outro.”

 

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