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Dia das Mães é oportunidade de retribuir

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Octavio Messias - publicado em 09/05/20

Momento ainda pede mais atenção, carinho e cuidado 

No dia 14 de março eu acreditava estar com Covid-19. Acordava com náusea, sentia dores no corpo, tossia muito e a sensação de cansaço não dava trégua. A OMS havia acabado de declarar pandemia do novo coronavírus e eu tinha uma vaga noção de como agir com a persistência dos sintomas. No quinto dia passando mal, saí da cama com dificuldade, disposto a ir até o pronto-socorro. Quando desci as escadas e olhei pela janela, minha mãe, a quem no dia anterior eu finalmente havia revelado ter ficado doente, estava do lado de fora do quintal.

Eu não queria que minha mãe me levasse ao posto médico, pois é sexagenária e tem condição médica pré-existente, mas ela bateu o pé. Minha mãe sempre foi muito dona de si, fez o que quis, nunca se deixou amedrontar. De modo que quando falei que não era seguro nos abraçarmos, ela demonstrou resistência e algum drama até que cedeu, desde que eu cedesse e a deixasse me levar ao pronto-socorro.

Deixei, porém a pedi que me esperasse no carro, pois se havia um ambiente com chance de contágio naquele estágio inicial da pandemia, era o hospitalar. Fui atendido rapidamente, passei por um exame clínico e o médico me garantiu que não era Covid-19, e sim uma virose comum, da qual, segundo ele, na época havia um surto.  

Ainda em fase inicial também dos meus conhecimentos sobre a doença, aceitei o diagnóstico e passei uma tarde agradável com a minha mãe, sem abrir mão da máscara que eu tinha pego no posto médico. Almoçamos juntos, mantendo uma distância segura, mas antes de ela ir embora acabamos nos abraçando.

Passados dois meses, acredito que não tenha sido mesmo Coronavírus, pois minha mãe se manteve saudável como continua até então, assim como eu. Fiquei com um arrependimento, no entanto, o de não ter demorado mais no abraço. Ainda estávamos com os primeiros casos no Brasil e eu não tinha uma noção realista do quão rápido se multiplica uma pandemia. 

Em dias foram decretadas as primeiras medidas de distanciamento social e, por segurança, decidimos que minha mãe se manteria isolada na casa dela, a 40 km de São Paulo. 

Desde então, fui até lá levar compras algumas vezes, porém nos mantivemos à distância, conversando brevemente comigo do lado de fora da garagem.

Ao longo desse tempo, nos falamos diariamente, muitas vezes por vídeo-chamada, e seu aspecto tem me parecido mais envelhecido. Possivelmente tem a ver com o fato de que ela está sozinha e, portanto, entristecida, mas senti como se, pela primeira vez, eu tivesse notado a passagem do tempo. 

Na minha memória, minha mãe sempre teve o mesmo rosto, desde a minha primeira infância, como se sua feição tivesse permanecido congelada do dia que eu nasci até 14 de março de 2020. E agora, vendo sua imagem capturada por um dispositivo eletrônico, após longos períodos sem que nos víssemos pessoalmente, finalmente enxerguei a passagem do tempo. Entendi que minha mãe já é uma senhora. 

Acredito que isso também se tenha dado porque eu mesmo evitava ver que minha mãe envelhecia. Evitava reconhecer que ela chegou a um momento mais frágil da vida, o que automaticamente me dá a responsabilidade de estar no meu momento mais forte. Evitava reconhecer que o tempo tinha passado e que meu tempo com ela assim se torna cada vez mais precioso. Evitava reconhecer que seu comportamento altivo e sua autonomia precisarão cada vez mais da minha supervisão. Evitava imaginar que um dia ela pode não estar na minha porta quando eu acordar doente. 

É isso que uma mãe significa, alguém com quem você sempre pode contar. A simples ideia de perder isso me deixa desolado, acredito que seja a única circunstância em que nos sentimos, de fato, sozinhos no mundo. Mas, como sempre pude contar com ela, ela pode cada vez mais contar comigo. Principalmente em um momento como atual, em que voltamos a priorizar o que, de fato, é prioridade.   

Por precaução, acabo de cumprir duas semanas de rígido isolamento social, de modo que me sinto seguro para passar o Dia das Mães e para estar com ela de verdade pela primeira vez em quase dois meses. Prometo demorar mais no abraço, como se fosse o último. Afinal, nunca se sabe quando será.  E o único momento possível para demonstrar afeto é no presente.

Tags:
CovidFamíliaMaternidadePandemia
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