A economia mexicana, a segunda maior da América Latina, sofreria uma queda de 7,1% neste ano, segundo uma pesquisa recente feita pelo Banco Central do México
Aplicar mais testes para o novo coronavírus, estabelecer critérios claros para definir quais regiões e atividades voltarão a funcionar normalmente são a chave para o reabrir a economia mexicana, afirmam especialistas, um processo que será colocado em prática nesta semana.
O presidente Andrés Manuel López Obrador antecipou um programa de reabertura escalonada de atividades onde se destacam aquelas vinculadas à exportação, como a indústria automobilística, mas que incluiria também a construção e o turismo.
No entanto, sua relutância em adotar medidas que estão em prática globalmente, como a importância de se fazer testes na população e de ouvir opiniões discordantes, pode prejudicar esse processo.
A reabertura “pode ser feita, o que você não pode fazer é abrir tudo às cegas porque haverá um desastre”, explica Alejandro Macías, infectologista e responsável pela estratégia de saúde durante a pandemia de gripe H1N1, em 2009.
Até a última segunda-feira, o país registrou 36.327 casos confirmados e 3.573 mortes por COVID-19, enquanto atravessa o pico dos casos da pandemia, segundo projeções oficiais.
Autoridades da saúde comentaram que cerca de 300 municípios mexicanos, com poucos ou nenhum caso, poderiam voltar à normalidade até 17 de maio.
Para Macías, a realização de testes nas localidades que pretendem retomar as atividades, ou pelo menos entre os trabalhadores das fábricas ou setores envolvidos, faria toda a diferença.
“Para voltar ao trabalho, para reviver a indústria, teremos que fazer mais testes. Não tem como ser de outro jeito”, ressalta.
– “Não é barato” –
O sub-secretário da Saúde, Hugo López-Gatell, principal porta-voz do governo durante a pandemia, insiste que o país não precisa de mais testes para poder tomar decisões políticas corretas.
O México é o país que realizou menos testes para detectar o novo coronavírus entre os países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): 0,4 testes para cada 1.000 habitantes, contra a média de 22,9 entre os demais membros.
Fazer mais testes permite impedir novos surtos do vírus, identificar pessoa sque tenham desenvolvido imunidade e obter informações valiosas sobre a evolução da epidemia, segundo estudos realizados pela OCDE.
Argumentar sobre os testes justificando o valor é uma mentira, disse Macías, pois “é algo muito mais barato” que a paralisia atual.
“Fechar toda a economia não é barato, principalmente a economia formal que é a única que paga impostos”, explica.
A economia mexicana, a segunda maior da América Latina, sofreria uma queda de 7,1% neste ano, segundo uma pesquisa recente feita pelo Banco Central do México.
Os outros “instrumentos de navegação” necessários pensar na reabertura é a observação da capacidade hospitalar, principalmente os leitos de UTI, além de manter estritas medidas sanitárias em ambientes de trabalho, segundo Macías.
Mas existem questões mais preocupantes. A principal é a falta de critérios confiáveis para que o governo decida quais atividades serão reativadas e por quê.
Após decretar a situação emergencial por causa da pandemia no final de março e suspender todas as atividades “não essenciais”, o governo de esquerda manteve três obras prometidas por López Obrador: uma refinaria, um trem turístico – ambos projetos no sudeste do país – e um aeroporto para a Capital mexicana.
“Os trabalhos que interessam muito ao presidente foram considerados essenciais, quando não há razão lógica para isso”, observa Macario Schettino, analista econômico.
(AFP)