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“Transportei os mortos do coronavírus em caminhões militares, senti-os parte do meu coração”

coffins army bergamo

Anadolu Agency via AFP

Gelsomino Del Guercio - publicado em 14/05/20

Tommaso Chessa, militar que atua na emergência da Covid em Bergamo, relata essa jornada arrepiante: “Tenha consciência e bom senso de cuidar dos entes queridos"

Tommaso Chessa esteve dirigindo um daqueles caminhões militares que transportaram de Bergamo os caixões das vítimas do coronavírus para fora da cidade, copos esses destinados à cremação em outras províncias.

Foi uma das imagens que percorreu o mundo que revelava fortemente toda a agonia da imensa tragédia desta pandemia (Famiglia Cristiana, 11 de maio).

Cabo-chefe da unidade de Solbiate Olona (Varese), Tommaso quis recordar aquela triste jornada com respeito e profunda humanidade, através de uma publicação escrita em 3 de maio em seu perfil no Facebook:

E hoje à noite encerra a primeira fase… O que dizer? Talvez as pessoas não percebam, elas não tiveram tempo para perceber a realidade. Eu digo o que penso, embora esteja ciente de que não transmito (felizmente) toda a ideia. Dirigir um caminhão… Conduzir um caminhão, num dia em que o pensamento o leva além da sua vida diária. Você dirige, conversa com seu colega do outro lado, quando de repente, por um instante, o silêncio quebra sua rotina, seu pensamento se concentra neles, você percebe que dentro desse caminhão não há dois, mas sete… cinco dos quais fazem a última viagem… sim, a última… você percebe que é a pessoa errada, ou melhor ainda, alguém tinha que estar no seu lugar, mas infelizmente não pôde… depende de você… e é aí que você sente a grande responsabilidade, algo que o oprime por dentro, cada buraco, cada irregularidade parece uma falta de respeito por eles… Então você chega lá no final da sua viagem, onde se vê deixando “sua carga”, que agora faz parte de você, como se eles levassem uma parte do seu coração, e é lá que você procura entender a identidade do seu companheiro de viagem, algo muito difícil… das oito pessoas que acompanhei pessoalmente, a única que pude descobrir sobre sua identidade foi o Sr. Guerra, de 1938. Pagaria em ouro para conhecer todos os parentes das oito pessoas e poder dizer-lhes que, apesar do contexto, elas não poderiam ter feito uma viagem melhor… O que eu mais sinto, apesar disso, é que amigos e familiares ainda não percebem que isso não é uma piada, pessoas morrem, quem não morre sofre, é fácil dizer “não estamos aqui em Bergamo”… Bem, tenham a consciência e bom senso para cuidar de nossos entes queridos que têm a sorte de viver em lugares mais seguros, mas não se esqueçam que um erro pode acontecer por um deslize… Espero que um dia eu possa conhecer os entes queridos dos meus colegas em sua última viagem, mas se assim não for, que eles saibam que eu coloquei a minha alma. E.P.D.

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