Neste período de pandemia, algumas pessoas procuraram crises anteriores de saúde pública em busca de lições que poderiam ser aprendidas. O século XIV oferece algumas, incluindo o exemplo de um Papa que viveu fora de Roma.
O Papa francês Clemente VI (Pierre Roger) entrou no mosteiro beneditino de La Chaise-Dieu, em Haute-Loire, aos 10 anos de idade. Depois de estudar e lecionar em Paris, embarcou em uma carreira eclesial, subindo rapidamente de abade a bispo e cardeal. Ele foi eleito papa em 7 de maio de 1342, em Avignon, onde os Papas se estabeleciam no início do século XIV.
A Enciclopédia Católica o considera “mais um príncipe temporal do que um governante eclesiástico”. Seu amor pela “boa vida” poderia ter embasado a representação talvez equivocada dele como alguém que trancou a porta do seu quarto enquanto a Peste Bubônica assolava Avignon em 1348-49. No entanto, observa a Enciclopédia, “sua coragem e caridade apareceram surpreendentemente na época da Grande Pestilência, ou Peste Negra”.
Um biógrafo medieval anônimo escreveu que Clemente “agiu com muita caridade” durante a praga, orientando os médicos a visitar os doentes e garantir que os pobres tivessem o que precisavam. Isso apesar do fato de 1/4 de sua equipe ter sido exterminada pela peste, segundo a Enciclopédia Britannica.
“Para os mais necessitados, ele organizava enterros e até comprou um pedaço de terra para ser usado como cemitério da peste”, escreve Frans van Liere no livro Historical Horizons. “É claro que ele também era um líder espiritual e aliviou algumas das ansiedades espirituais ao instituir uma Missa especial para a cessação da praga, e, mais importante, concedeu absolvição geral de todos os pecados pelas vítimas da praga que morreram sem confissão adequada”.
Houve mal-entendidos sobre a origem da doença mortal que atingiu as pessoas rapidamente. Alguns culparam os judeus por isso, alegando que era uma conspiração para acabar com o cristianismo. Esses teóricos da conspiração disseram que os judeus estavam envenenando poços e fontes e, infelizmente, alguns confessaram isso sob tortura.
Clemente escreveu: “Chegou ao nosso conhecimento que os cristãos, por inspiração do diabo, imputaram falsamente essa praga aos judeus, que Deus infligiu a todos os cristãos como uma punição devida por seus pecados. Nenhum cristão deve ousar prejudicar, matar ou tomar as posses dos judeus acima mencionados, sem o devido julgamento do Senhor da região. Nenhum cristão deve obrigar um judeu a aceitar o batismo por meio da violência. ”
Em uma bula posterior, Clemente exortou todos os arcebispos, bispos e líderes da Igreja a denunciar o massacre dos judeus e ameaçou qualquer um que ferisse os judeus com uma condenação papal, diz van Liere.
Clemente morreu em 6 de dezembro de 1352.