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Uma lição de história: o Papa Clemente e a praga do século XIV

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The National Library of Medicine | Public Domain

John Burger - publicado em 15/05/20

A coragem e a caridade do religioso afloraram quando surgiu a pandemia. Ele obrigava os médicos a visitar os pobres e chegou a comprar um terreno para servir de cemitério para as vítimas da peste negra

Neste período de pandemia, algumas pessoas procuraram crises anteriores de saúde pública em busca de lições que poderiam ser aprendidas. O século XIV oferece algumas, incluindo o exemplo de um Papa que viveu fora de Roma.

O Papa francês Clemente VI (Pierre Roger) entrou no mosteiro beneditino de La Chaise-Dieu, em Haute-Loire, aos 10 anos de idade. Depois de estudar e lecionar em Paris, embarcou em uma carreira eclesial, subindo rapidamente de abade a bispo e cardeal. Ele foi eleito papa em 7 de maio de 1342, em Avignon, onde os Papas se estabeleciam no início do século XIV.

A Enciclopédia Católica o considera “mais um príncipe temporal do que um governante eclesiástico”. Seu amor pela “boa vida” poderia ter embasado a representação talvez equivocada dele como alguém que trancou a porta do seu quarto enquanto a Peste Bubônica assolava Avignon em 1348-49. No entanto, observa a Enciclopédia, “sua coragem e caridade apareceram surpreendentemente na época da Grande Pestilência, ou Peste Negra”.

Um biógrafo medieval anônimo escreveu que Clemente “agiu com muita caridade” durante a praga, orientando os médicos a visitar os doentes e garantir que os pobres tivessem o que precisavam. Isso apesar do fato de 1/4 de sua equipe ter sido exterminada pela peste, segundo a Enciclopédia Britannica.

“Para os mais necessitados, ele organizava enterros e até comprou um pedaço de terra para ser usado como cemitério da peste”, escreve Frans van Liere no livro Historical Horizons. “É claro que ele também era um líder espiritual e aliviou algumas das ansiedades espirituais ao instituir uma Missa especial para a cessação da praga, e, mais importante, concedeu absolvição geral de todos os pecados pelas vítimas da praga que morreram sem confissão adequada”.

Houve mal-entendidos sobre a origem da doença mortal que atingiu as pessoas rapidamente. Alguns culparam os judeus por isso, alegando que era uma conspiração para acabar com o cristianismo. Esses teóricos da conspiração disseram que os judeus estavam envenenando poços e fontes e, infelizmente, alguns confessaram isso sob tortura.

Clemente escreveu: “Chegou ao nosso conhecimento que os cristãos, por inspiração do diabo, imputaram falsamente essa praga aos judeus, que Deus infligiu a todos os cristãos como uma punição devida por seus pecados. Nenhum cristão deve ousar prejudicar, matar ou tomar as posses dos judeus acima mencionados, sem o devido julgamento do Senhor da região. Nenhum cristão deve obrigar um judeu a aceitar o batismo por meio da violência. ”

Em uma bula posterior, Clemente exortou todos os arcebispos, bispos e líderes da Igreja a denunciar o massacre dos judeus e ameaçou qualquer um que ferisse os judeus com uma condenação papal, diz van Liere.

Clemente morreu em 6 de dezembro de 1352.

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