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A Chaga do Pé Esquerdo de Jesus e a virtude da esperança

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Jerzy Górecki

Padre Reginaldo Manzotti - publicado em 19/05/20

Ter esperança é fazer deste mundo o que Deus quer. Um povo sem esperança entra em colapso social
É pela Chaga do Pé Esquerdo que se salvarão os pecadores mais obstinados, se o Senhor lhes der a graça do arrependimento final, pelos Seus infinitos merecimentos e dos balsamizadores desta mesma Chaga. Ferem-na os indiferentes para com a sorte eterna dos seus irmãos” (Pe. Alberto Guimarães Gonçalves Gomes).

Para ligar esta Chaga à virtude da esperança, cito o versículo da Carta de São Paulo aos Romanos: “Sejam alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (Rm 12,12). Nele, são mencionadas três virtudes fundamentais: esperança, paciência e perseverança.

A virtude da esperança é incorporada por Deus à nossa alma. É por ela que temos a certeza da ajuda divina e de que alcançaremos o céu, pois, se olhássemos para a nossa miséria humana, certamente perderíamos a esperança. Às vezes, as circunstâncias nos fazem pensar: “Será que eu vou me salvar?”. O que nos faz desejar o céu e aguardá-lo é a esperança.

O Inimigo quer nos desanimar diante das mazelas do mundo. Ele invade nossa vida e nos induz a um sentimento de frustração e de desmerecimento. Foi o Inimigo quem fez Judas se matar e foi a misericórdia que fez Pedro ter a esperança do perdão. Sabemos que o Senhor nunca deixa de nos ajudar com Suas graças, pois Ele está sempre ao nosso lado, fortalecendo-nos nas lutas contra as tentações. O Senhor nos ajuda nos momentos de pecado e está sempre pronto a nos oferecer a Sua misericórdia.

A esperança é uma virtude que nos faz ter força para recomeçar. O comentário mais triste que podemos escutar de uma pessoa é que ela “perdeu a vontade” ou se desiludiu e não tem mais esperança. Isso faz dela uma planta murcha, prestes a secar, mas se regarmos, ela voltará a ficar verde. Já a planta seca não tem volta. Então, muitas vezes, quando estamos murchando pelo desânimo, temos que pedir ao Senhor que renove em nós a virtude da esperança.

Novamente chamo a atenção para o poder libertador do perdão. O Sacramento da Confissão reanima a esperança, bem como a certeza de que Deus nos perdoa e nos dá força nesta vida, pela graça santificante e no céu, pela glória eterna. As perturbações, preocupações e tribulações da vida não podem apagar a nossa esperança, caso contrário levam ao desespero. Temos que confiar na graça de Deus que, por meio da esperança, desperta em nós uma força admirável. Jesus recomendou: “Basta a cada dia a própria dificuldade” (Mt 6, 34). 

Como afirma São Paulo: “Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança produz a fidelidade comprovada, e a fidelidade comprovada produz a esperança. A esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 3-5).

A esperança é uma virtude que nos empurra para frente, enquanto as forças do mal e do Inimigo nos levam para trás, pois querem nos ver arriados. Já Deus quer nos dar asas para voarmos alto e descobrirmos que há inúmeras possibilidades. Ele é o Deus que tudo pode.

“A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo o esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade” (CIC 1818). 

Ter esperança não é uma utopia nem significa criar um mundo fictício, imaginário. Ter esperança é fazer deste mundo o que Deus quer. Um povo sem esperança entra em colapso social. A esperança em nós é a ação, a força do Espírito Santo a nos dizer: “Tenta mais uma vez, não desista”, “Não diga ‘caso perdido’”, “Não deixe de rezar”, “Espera a hora de Deus”, “A tua hora vai chegar”, “Vale a pena”. A esperança segue nos orientando: “Dobra o joelho que você vai conseguir”.

São Paulo afirma na Carta aos Romanos: “Que o Deus da esperança vos cumule de alegria e de paz na fé” (Rm 15, 13). Alegria e paz são frutos da esperança. Se perdermos a esperança, vão embora junto com ela o sentido e a alegria de viver.

Em um belíssimo texto da Carta aos Hebreus, esta virtude é comparada a uma âncora: “A esperança é como âncora para a nossa vida. Ela é segura e firme, é penetrante até o outro lado da cortina do santuário, onde Jesus entrou por nós como precursor, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem do sacerdócio de Melquisedec” (Hb 6,19-20).

Enquanto a fé é uma tocha acesa e a caridade é um coração inflamado, a esperança é uma âncora. Quem já teve oportunidade de pescar em alto-mar, sabe que em um determinado local joga-se a âncora, a qual tem por finalidade manter o barco firme em meio ao movimento das ondas. A esperança que Deus nos deu é a âncora que temos jogada não nesta terra, mas do outro lado do santuário, no céu, onde Jesus já entrou como precursor. Portanto, se seguirmos com esperança, contaremos com uma âncora que nos manterá firmes, e um dia estaremos do outro lado da cortina do santuário com o Senhor.

Existem alguns pecados contra a esperança, como a presunção. Um exemplo é achar que somos pessoas boas e justas e, por isso, podemos nos salvar sem Ele, chegando ao ponto de ignorá-Lo. Hoje, essa indiferença é a maior forma de ateísmo e consiste em achar que Deus foi algo que os homens inventaram para manipular os outros.

Outro pecado é o desespero, pois, como já foi dito, o Inimigo quer incutir em nossa mente que nós não vamos alcançar a vida eterna e que não somos merecedores de misericórdia. É aquela tentação de achar que Deus não vem em nosso socorro porque somos indignos. O desespero pode levar a atitudes radicais e, às vezes, fatais.

O Senhor não quer perder ninguém. Ele disse: Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o lançarei fora” (Jo 6, 34). O Sangue de Jesus foi derramado por todos, e esta Chaga nos lembra de que o empenho de Deus na Sua misericórdia é atingir toda a humanidade.

Às vezes, nós perdemos essa noção de catolicidade, que pede para nos preocuparmos com a salvação dos outros. Daí a importância desta virtude ligada à Chaga do Pé Esquerdo do Senhor para que, impulsionados pelo Espírito Santo, sigamos perseverando, confiando e acreditando.

Termino com um pensamento de Santo Agostinho: “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”.  




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