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Não podemos encarar as vítimas como números

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Octavio Messias - publicado em 22/05/20

Normalização da doença gera mais famílias e mais comunidades acometidas pela perda 

O Brasil entra em uma etapa mais dramática na luta contra o novo coronavírus, ultrapassando a marca das 20 mil vítimas totais e dos mil óbitos diários. Vendo a progressão dos números no jornalismo diário, não é difícil perder o parâmetro do que isso significa. Mas um dia de covid-19 no Brasil, hoje, equivale em número de vítimas a um incêndio na boate Kiss, duas tragédias de Brumadinho e dois voos da TAM de 1996 somados, mais 51 pessoas. Em um único dia. 

E a maior tragédia, no momento, seria normalizarmos as mortes, pois ao nos acostumamos com os números, o que multiplicaria ainda mais  ainda mais o número de vítimas e prolongaria ainda mais a estada e a devastação do vírus por aqui. 

No dia 17 de março, quando o Brasil registrava sua primeira baixa confirmada pelo coronavírus, a nossa vizinha Argentina já tinha alcançado três óbitos. Hoje eles ultrapassam um total de 400 óbitos, 50 vezes menos do que nós. 

Por que os nossos rivais no futebol estão se saindo tão melhores no combate ao vírus, mesmo tendo sofrido o ataque da pandemia ainda mais cedo? Entre outros fatores, porque lá foi decretado lockdown no dia 19 de março, quando o país ainda estava em sua terceira vítima, e os argentinos respeitaram. Até o momento, distanciamento social, uso de máscaras e as medidas de higiene continuam sendo os únicos método comprovados na erradicação do vírus. E qualquer atitude contrária que tivermos no momento poderá custar ainda mais vidas.   

Os compatriotas do Papa não normalizaram aquelas três vítimas iniciais, que tinham família, amigos, colegas de trabalho. A população se uniu para que se contivesse ao máximo os danos e a ação do vírus, e ainda assim 379 outras vidas foram levadas. Agora multiplique o total por 50: 50 famílias, 50 locais de trabalho, 50 comunidades a mais que serão afetadas pela perda no Brasil. O país perdeu 20.047 seres humanos, todos nós perdemos 20.047 irmãos para essa terrível doença até agora.

Em Nova York, um dos pontos mais visitados pelos turistas na região de Wall Street, antes da epidemia, costumava ser o memorial das vítimas do 11 de setembro, que somaram três mil vítimas, o que o Brasil hoje registra em três dias. O motivo de um memorial como esse, com o nome de cada uma delas, é significar a vida que elas perderam, dar um alento para a família, deixar registradas as vidas daqueles indivíduos que tiveram a vida abreviada de maneira tão súbita. 

E, pelo menos no covid, ainda temos como fazer que vidas não se perdido em vão. Ainda podemos usar tristes narrativas como exemplo, e fazer diferente, protegendo ao máximo a nós mesmos e àqueles que nos cercam. Só depende de nós mesmos. 

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