A ótima adaptação animada de Mark Osborne relê de modo criativo o clássico de Saint-Exupéry, preservando “o essencial” (que é… você sabe)“O Pequeno Príncipe” é um clássico da literatura universal do qual procedem algumas das frases mais citadas (e, infelizmente, banalizadas) da história das redes sociais, como “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” e “O essencial é invisível aos olhos“.
As peripécias mirabolantes do menino-príncipe que vivia sozinho num asteroide em que mal cabiam ele mesmo, sua rosa conversadeira, seus três vulcõezinhos e sua batalha por controlar os baobás foi transportada para a televisão e para o cinema em diversas adaptações e releituras, uma das quais é o filme em animação lançado em 2015 por Mark Osborne e que mantém o título “O Pequeno Príncipe”.

Nessa versão “livremente inspirada”, conhecemos primeiro uma menina que sonhava em entrar para uma escola de elite, com o apoio obcecado e quase impositivo da mãe. E é a mãe quem monta para a garotinha uma rotina minuciosa e implacável de estudos, com um planejamento detalhado de cada tarefa e um cronograma de praticamente cada segundo do dia. Enquanto a pequena segue à risca a programação, a mãe trabalha fora o dia inteiro e deixa a filha sozinha em casa com os livros e com o famigerado diagrama de estudos e leituras.
Não demora muito para que a menina perceba que o sonho de ser admitida nessa escola para poucos não era dela própria, mas da mãe. Nesse meio-tempo, um acontecimento repentino altera bruscamente aquela rotina radical: o vizinho idoso e aparentemente maluco, em sua enésima tentativa de fazer funcionar um avião em pleno jardim, acaba arrebentando a parede da casa da menina, que a partir de então embarca numa série de descobertas.

A trama passa a ser costurada entre o mundo da menina e o do Pequeno Príncipe, cujas histórias lhe são contadas pelo idoso vizinho aviador. Esta é a grande e positivamente surpreendente “inovação” desta versão do clássico: assim como muitos adultos que nunca leram (ou leram e nunca entenderam) a obra original do autor francês Antoine de Saint-Exupéry, a menina também começa torcendo o nariz para as histórias supostamente açucaradas do menininho que decolava do asteroide B-612 agarrado à cauda de um cometa para viajar a outros mundos em busca de respostas existenciais. Aos poucos, porém, ela vai enxergando que, por trás da ficção, há muito mais realidade do que nas farsas em que nós mesmos nos enredamos na vida cotidiana.
Nesta livre adaptação de “O Pequeno Príncipe”, o acréscimo da menina e da sua mãe funciona como uma propedêutica para os adultos contemporâneos se permitirem entrar num mundo de fantasia cujas lições são estrondosamente aplicáveis ao mundo real, que parece nunca entender que “o essencial é invisível aos olhos”.
Uma dessas lições é que a infância e a velhice se complementam de modo magistral – e que, entre elas, a vida adulta e os seus sisudos compromissos precisam rever uma bela quantidade de conceitos.
O livro, apesar do título e do protagonista, é destinado principalmente aos adultos. Não é muito diferente com esta versão cinematográfica: recomendável e bem-vinda para toda a família, ela também fará os adultos refletirem além do que imaginariam.