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Bento XVI e São João Paulo II: um Papa Emérito dá testemunho de um Papa Santo

RATZINGER JOHN PAUL II

CC

Reportagem local - publicado em 29/06/20

"Tenho certeza de que, ainda hoje, a bondade dele me acompanha e a bênção dele me protege"

Na primeira entrevista que concedeu após a sua renúncia ao pontificado, em 2013, o Papa Emérito Bento XVI falou da personalidade e da espiritualidade de seu predecessor, São João Paulo II, bem como da sua extraordinária relação de amizade com o Papa polonês quando era prefeito da Congregação para Doutrina da Fé.

Em uma das passagens da entrevista, realizada por Wlodzimierz Redzioch e publicada no livro “Ao lado de João Paulo II”, Bento resumiu como é que se pode compreender Karol Wojtyla:

“Só a partir da sua relação com Deus”.

Bento contou que, certa vez, disse a João Paulo que ele precisava descansar. Sua resposta: “Posso fazer isso no céu”. É um dos diálogos entre João Paulo II e o cardeal Joseph Ratzinger que revela um pouco da relação entre esses dois extraordinários servidores do Senhor.

Bento recorda que o seu primeiro encontro mais próximo com Wojtyla foi em 1978, durante o conclave que iria elegê-lo, mas já tinha participado de um grupo de trabalho com ele no Concílio Vaticano II: os dois colaboraram com a preparação da constituição Gaudium et Spes.

“Senti imediatamente, com força, o fascínio humano que ele emanava. E, do jeito que ele rezava, sentia-se o quanto era profundamente unido a Deus”.

Quando se tornou Papa, João Paulo II chamou o cardeal alemão para ser um dos seus mais próximos colaboradores como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

“A colaboração com o Santo Padre foi sempre caracterizada pela amizade e pelo afeto”.

A amizade foi se desenvolvendo nos inúmeros encontros e reuniões. O Papa Emérito comenta:

“Era sempre bonito, para os dois, procurar juntos a decisão justa”.

O primeiro grande desafio foi a Teologia da Libertação que se difundia na América Latina. A opinião comum era de que havia nessa corrente um interesse justo pelos pobres, mas com erros graves:

“Não era questão de ajuda e reforma, e sim de grande revolução (…) A fé cristã foi usada como um motor para esse movimento revolucionário, transformando-a numa força para a política. A uma falsificação da fé cristã é preciso opor-se por amor aos pobres e em prol do serviço a eles. [João Paulo II] nos guiou para desmascarar uma falsa ideia de libertação, por um lado, e, por outro, para expor a autêntica vocação da Igreja à liberdade do homem”.

Outro desafio importante: “o esforço para chegar a uma correta compreensão do ecumenismo” e do diálogo entre as religiões, assim como a saudável relação entre Igreja e ciência.

Bento XVI destaca a importância das encíclicas de São João Paulo II, começando pela primeira, a Redemptor hominis, que “ofereceu a sua síntese pessoal da fé cristã, caracterizada principalmente pela intensidade da sua oração e, portanto, profundamente radicada na celebração da Santa Eucaristia”.

A santidade de Karol Wojtyla

“Que João Paulo II era santo foi ficando para mim cada vez mais claro. A sua intensa relação com Deus, o fato de estar mergulhado na comunhão com o Senhor. Ele não pedia aplausos, nem olhava ao redor preocupado se as suas decisões tinham sido aceitas. Ele agiu a partir da fé e das suas convicções e estava pronto para sofrer os golpes. A coragem da verdade é, para mim, um critério de primeira ordem da santidade. Só a partir da sua relação com Deus é possível entender também o seu empenho pastoral. Ele se doou com uma radicalidade que não pode ser explicada de outro modo”.

Na última parte da entrevista, Bento XVI recorda o grande afeto que o ligava ao futuro santo:

“Muitas vezes ele teve razões suficientes para culpar, ou para dar fim ao meu cargo de prefeito. Mas ele me suportou com uma fidelidade e bondade absolutamente incompreensível”.

Quando chegou a sua própria vez de se tornar Papa, Bento pensou em “imitar” João Paulo?

“Não podia nem deveria tentar imitá-lo, mas procurei levar adiante a sua herança e a sua missão do melhor jeito que pude. Tenho certeza de que, ainda hoje, a bondade dele me acompanha e a bênção dele me protege”.

João Paulo II e o Cardeal Ratzinger

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