Conheça os 5 passos que fazem parte da tradição da Igreja: leitura, meditação, oração, contemplação e açãoComo rezar com a Bíblia? Esta pergunta pode ser respondida com 5 passos: leitura, meditação, oração, contemplação e ação.
Este é um método já vivido pelos Padres da Igreja nos primeiros séculos do cristianismo, particularmente pelos primeiros monges, no século III.
É conhecido pelo nome latino de “lectio divina“, “leitura divina” ou “leitura do sagrado”.
A Livraria Editora Vaticana e a Sociedade Bíblica Americana (realidade ecumênica dedicada a traduzir e distribuir a Bíblia) publicaram um manual para que todo cristão possa rezar com a Bíblia, subindo 5 “degraus”.
O manual se intitula “Rezar com a Bíblia – meditar com a Bíblia” e foi escrito pelo Pe. Gabriel Mestre.
Estes são os 5 passos propostos pelo livro para aprender a rezar com a Bíblia:
1Leitura
O manual propõe que o momento da leitura sagrada dure pelo menos 20 minutos. O ideal seriam cerca de 50 minutos.
O lugar deve ser o mais tranquilo possível, longe do celular, do computador ou da televisão. Uma igreja, nos momentos em que não há celebrações, é um dos lugares mais apropriados.
Fazer a leitura orante da Bíblia na tranquilidade da natureza também é uma boa opção.
A leitura começa com a invocação do Espírito Santo, pois “não vamos estudar história, nem ler o texto sagrado por curiosidade”, explica o manual.
“O mesmo Espírito Santo que inspirou os autores sagrados está hoje no nosso coração para que possamos ler a Bíblia como Palavra de Deus para nós.”
A pergunta que guia o primeiro passo é: “O que o texto diz?”. Outras perguntas podem ajudar: “Qual é o seu propósito ou finalidade? O que ele afirma? O que nega? O que questiona? O que motiva a fazer? O que critica?” etc.
A manual sugere que sejam feitas “duas ou três leituras do texto bíblico; talvez uma em voz alta, outra em silêncio”. Esta leitura também pode ser feita em grupo ou comunidade.
2Meditação
A pergunta que guia a meditação é: “O que o texto está me dizendo?“.
“À luz da Palavra, poderemos comprovar os aspectos positivos da nossa vida cristã; captaremos também nossos defeitos e pecados. De alguma forma, o degrau da meditação é como um exame de consciência à luz do texto da Escritura”, explica o manual.
3Oração
A pergunta que guia este momento é: “Como eu respondo a este texto?“.
“É óbvio que não respondemos ao texto como realidade imaterial e inanimada, mas ao Deus da Palavra, que nos fala por meio do texto bíblico. Por isso, também poderíamos formular a pergunta assim: ‘Como respondo ao Deus que me fala no texto sagrado?’.”
O conteúdo da oração pode ser: ação de graças, pedido de perdão, louvor, bênção, súplicas, petições.
4Contemplação
Poderíamos dizer que a contemplação é o momento da interiorização vital da Palavra, que unifica os três passos anteriores. Chega o momento de colocar tudo sob o olhar de Deus. Entre os frutos da contemplação, podemos destacar:
– Experiência de consolação: uma profunda alegria interior, independente das circunstâncias exteriores e inclusive dos próprios estados emocionais. É uma alegria de origem sobrenatural, profundamente espiritual e que tem como fonte, origem e fim o próprio Deus.
– Luz para o discernimento: discernir significa poder dispor-se para que a luz do Espírito Santo ilumine a alma do orante e este possa, assim, escolher sempre o melhor caminho.
– Fortaleza para manter a decisão: trata-se de decidir segundo o que se orou e discerniu. Daqui brotam as grandes opções da vida: verdade, justiça, compromisso.
5Ação
No último degrau da “lectio divina”, procuramos colocar em prática, na vida diária, o que Deus nos mostrou na leitura e na meditação, e o que oramos e interiorizamos mediante a oração e a contemplação.
Todo o processo da leitura orante da Bíblia não fica no interior do orante, mas se torna fecundo na vida cotidiana, marcada pelos valores do Evangelho.
A leitura orante da Bíblia se apresenta como um método que incentiva e propicia o encontro com Deus, com sua revelação, sua comunicação, seu plano salvífico, seus desígnios, sua vontade, seu caminho.
Doutrina
A Constituição Dogmática Dei verbum, do Concílio Vaticano II, afirma sobre a leitura orante da Sagrada Escritura:
É necessário, por isso, que todos os clérigos e sobretudo os sacerdotes de Cristo e outros que, como os diáconos e os catequistas, se consagram legìtimamente ao ministério da palavra, mantenham um contacto íntimo com as Escrituras, mediante a leitura assídua e o estudo aturado, a fim de que nenhum deles se torne «pregador vão e superficial da palavra de Deus. por não a ouvir de dentro», tendo, como têm, a obrigação de comunicar aos fiéis que lhes estão confiados as grandíssimas riquezas da palavra divina, sobretudo na sagrada Liturgia. Do mesmo modo, o sagrado Concílio exorta com ardor e insistência todos os fiéis, mormente os religiosos, a que aprendam «a sublime ciência de Jesus Cristo» (Fil. 3,8) com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo» (5). Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem; porque «a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos».
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